sábado, 7 de março de 2015

João de Sousa Brito: Entrevista a José Rino de Avelar Fróis (jornal O Alcoa, de 20/10/1949)


José Rino de Avelar Fróis, com a esposa e os 23 netos mais velhos (1)


O SENHOR JOSÉ RINO FRÓIS fala a O ALCOA
Por João de Sousa

Entrevista noturna. A Quinta de Alfeizerão adormecera já, no silêncio escuro da noite, comodamente recostada sobre os fofos areais das dunas de S. Martinho.
Mal saímos do carro que nos havia conduzido, logo avistámos o sorriso acolhedor e afável do Sr. José Rino Fróis. S. Exª já conhecia o fim que ali nos levava e por isso, sem mais preâmbulos, entramos decididamente no assunto.
- Podia o Sr. Fróis contar-nos as origens desta bela Quinta de que é proprietário?
- Esta Quinta fazia parte de uma grande propriedade que se compunha da maioria dos campos de Alfeizerão e que em 1797 era pertença do Sr. Francisco Manuel D’Affonseca e Silva. Conservo nos meus arquivos, datada daquele ano, uma planta feita em braças, levantada sob as ordens do Tenente Coronel Guilherme Elsden, pelo Capitão Engenheiro Joaquim de Oliveira e pelo ajudante Ricardo Franco de Almeida e Serra.
«Passou a propriedade para um sobrinho do Sr. Francisco Manuel D’Affonseca e Silva, o Sr. João Pereira da Silva D’Affonseca, fidalgo da Casa Real com exercício no Paço que por escritura de aforamento perpétuo feita em 30 de Setembro de 1857 no Palácio dos Condes da Lapa, em Lisboa, a passou para seu primo José Vitorino D’Affonseca Frois (2), meu avô, e para o Sr. José da Trindade Leitão.
«No ano de 1861 foi a propriedade dividida entre o meu referido avô e o Sr. José da Trindade Leitão, que tiraram à sorte os dois lotes, cabendo ao primeiro a parte sul e tendo sido estas moradias por ele já construídas. A parte que coube ao Sr. José da Trindade Leitão passou a denominar-se Quinta de S. José (por ali existir uma capela dedicada a S. José) e a outra parte Quinta Nova de S. José, mais correntemente conhecida por Quinta de Alfeizerão».
- A esta Quinta está ligada uma gloriosa tradição de touros, não é verdade?
- Atualmente tem uma pequena ganadaria em pequena escala. Mas o meu avô já foi criador de reses bravas. Contudo, a ganadaria da casa atingiu o seu maior expoente nos tempos do meu pai, Vitorino de Avelar Fróis, pela aquisição que fez ao Conde de Três Palácios (Cáceres) de um semental e vacas da sua ganadaria.
«Nessa mesma altura, e por incumbência de El-Rei D. Carlos, adquiriu meu pai também vacas da mesma procedência para a Casa de Bragança, que as cruzou com semental de Ibarra, dando origem a uma vacada de grande renome.
«Meu pai foi ainda exímio na arte de bem cavalgar e lidar toiros. Da «Escola de Alfeizerâo» saíram artistas e amadores de grande nomeada. Às «tentas e faenas do campo» acorreram aqui os mais célebres toureiros espanhóis».
- E, diga-me, El-Rei D. Carlos também por aqui vinha?
- Assim foi. El-Rei comprazia-se muito em vir à Quinta de Alfeizerão. Fosse para caçar ou para assistir às lides taurinas. Por aí vemos algumas fotografias relembrando essas visitas. Também aqui vieram, com muita frequência, o Sr. Infante D. Augusto e mais tarde o Sr. Infante D. Afonso.
- E além das preocupações da lavoura, não tem V. Exª. (perdoe a indiscrição…) outras preocupações de carácter político ou espiritual?
- Politicamente, ao conceito de chefia do Estado, transitório e apenas legal, prefiro o conceito de chefia da Nação, legítimo e eterno.
- No social e económico, qual a preferência do Sr. Fróis: liberalismo ou totalitarismo?
- Em matéria de totalitarismo só aceito um: o de Cristo. Jesus nas famílias, nos campos, nas oficinas, nos escritórios; Jesus nos corações.
            «E ao conceito abstrato de liberdade prefiro as liberdades concretas e efetivas. O indivíduo de nome não é nada. Mas o indivíduo na sua profissão, no seu estado, na sua alma, é tudo. Assim, na base da orgânica do Estado, deviam estar sempre os valores morais, a família, a profissão.».

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             Para quê os nossos comentários? Seria melhor, decerto, nada acrescentarmos, para que as palavras do Sr. José Rino Fróis ficassem a ressoar na inteligência e no coração dos amáveis leitores.
Mas é necessário acrescentarmos alguma coisa. E é que as palavras de S. Exª. são a expressão do seu pensamento, e o seu pensamento concorda em absoluto com a sua vida. É um elogio que hoje em dia, de poucos se pode fazer.
             Homem de carácter íntegro, cidadão devotado aos interesses da Pátria, chefe extremoso de uma numerosíssima família, católico de fé, de sentimentos e de mandamentos, S. Exª. dá um nobre exemplo à sociedade desvairada dos tempos de hoje.
             Os pobres conhecem a sua caridade, e os trabalhadores o seu respeito pela justiça.
Alfeizerão, sobretudo, tem no Sr. José Rino Fróis um dedicado amigo. Não é por isso de estranhar que numa das dependências da Igreja Paroquial se encontre uma fotografia de S. Exª. com os dizeres da Escritura: a memória do justo será eterna.
             O valor intelectual e moral do Sr. Fróis tem sido posto em evidência no desempenho de várias missões de responsabilidade na vida económica da Nação. Presentemente, é Administrador da Companhia Resineira e Presidente da Câmara de Comércio com a Argentina (3).
            «O Alcoa» sente-se, em extremo, desvanecido, por poder arquivar nas suas colunas as palavras luminosas e sinceras do Sr. José Rino Fróis. E ao mesmo tempo que agradece reconhecidamente esta amável entrevista, formula os mais ardentes votos pela prosperidade de S. Exª. e de sua Exma. Família.

João de Sousa

(Jornal O Alcoa, Ano III, nº192, de 20 de Outubro de 1949)



(1) Esta foto foi-me amavelmente facultada por Jorge Froes (os meus agradecimentos), um dos 65 netos de José Rino de Avelar Fróis. Uma fotografia idêntica (que não consegui copiar com a nitidez que seria desejável) acompanhava a entrevista n'O Alcoa, e ostentava a seguinte legenda:
A GERAÇÃO DO JUSTO SERÁ ABENÇOADA - O sr. José Rino Avelar Frois com sua esposa e o lindo ranchinho dos seus netos.

(2) O genealogista João de Quental Lobo, traçou uma árvore genealógica dos Fróis ou Froes com início em Vitorino José Fróis, pai deste José Vitorino da Fonseca Fróis; e que pode ser consultada nesta hiperligação para o fórum do portal GENEALL. 

(3) José Rino de Avelar Fróis, a título local, era também nesta data, presidente da Assembleia Geral Casa do Povo de Alfeizerão.

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