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José Rino de Avelar Fróis, com a esposa e os 23 netos mais velhos (1) |
O SENHOR JOSÉ RINO FRÓIS fala a O ALCOA
Por João de Sousa
Entrevista noturna. A Quinta de
Alfeizerão adormecera já, no silêncio escuro da noite, comodamente recostada
sobre os fofos areais das dunas de S. Martinho.
Mal saímos do carro que nos havia conduzido, logo avistámos o sorriso acolhedor e afável do Sr. José Rino Fróis. S. Exª já conhecia o fim que ali nos levava e por isso, sem mais preâmbulos, entramos decididamente no assunto.
Mal saímos do carro que nos havia conduzido, logo avistámos o sorriso acolhedor e afável do Sr. José Rino Fróis. S. Exª já conhecia o fim que ali nos levava e por isso, sem mais preâmbulos, entramos decididamente no assunto.
- Podia o Sr. Fróis contar-nos as
origens desta bela Quinta de que é proprietário?
- Esta Quinta fazia parte de uma
grande propriedade que se compunha da maioria dos campos de Alfeizerão e que em
1797 era pertença do Sr. Francisco Manuel D’Affonseca e Silva. Conservo nos
meus arquivos, datada daquele ano, uma planta feita em braças, levantada sob as
ordens do Tenente Coronel Guilherme Elsden, pelo Capitão Engenheiro Joaquim de
Oliveira e pelo ajudante Ricardo Franco de Almeida e Serra.
«Passou a propriedade para um
sobrinho do Sr. Francisco Manuel D’Affonseca e Silva, o Sr. João Pereira da
Silva D’Affonseca, fidalgo da Casa Real com exercício no Paço que por escritura
de aforamento perpétuo feita em 30 de Setembro de 1857 no Palácio dos Condes da
Lapa, em Lisboa, a passou para seu primo José Vitorino D’Affonseca Frois (2), meu
avô, e para o Sr. José da Trindade Leitão.
«No ano de 1861 foi a propriedade
dividida entre o meu referido avô e o Sr. José da Trindade Leitão, que tiraram
à sorte os dois lotes, cabendo ao primeiro a parte sul e tendo sido estas
moradias por ele já construídas. A parte que coube ao Sr. José da Trindade
Leitão passou a denominar-se Quinta de S. José (por ali existir uma capela
dedicada a S. José) e a outra parte Quinta Nova de S. José, mais correntemente
conhecida por Quinta de Alfeizerão».
- A esta Quinta está ligada uma
gloriosa tradição de touros, não é verdade?
- Atualmente tem uma pequena
ganadaria em pequena escala. Mas o meu avô já foi criador de reses bravas.
Contudo, a ganadaria da casa atingiu o seu maior expoente nos tempos do meu
pai, Vitorino de Avelar Fróis, pela aquisição que fez ao Conde de Três Palácios
(Cáceres) de um semental e vacas da sua ganadaria.
«Nessa mesma altura, e por
incumbência de El-Rei D. Carlos, adquiriu meu pai também vacas da mesma
procedência para a Casa de Bragança, que as cruzou com semental de Ibarra,
dando origem a uma vacada de grande renome.
«Meu pai foi ainda exímio na arte
de bem cavalgar e lidar toiros. Da «Escola de Alfeizerâo» saíram artistas e amadores
de grande nomeada. Às «tentas e faenas do campo» acorreram aqui os mais
célebres toureiros espanhóis».
- E, diga-me, El-Rei D. Carlos
também por aqui vinha?
- Assim foi. El-Rei comprazia-se
muito em vir à Quinta de Alfeizerão. Fosse para caçar ou para assistir às lides
taurinas. Por aí vemos algumas fotografias relembrando essas visitas. Também
aqui vieram, com muita frequência, o Sr. Infante D. Augusto e mais tarde o Sr.
Infante D. Afonso.
- E além das preocupações da
lavoura, não tem V. Exª. (perdoe a indiscrição…) outras preocupações de carácter
político ou espiritual?
- Politicamente, ao conceito de
chefia do Estado, transitório e apenas legal, prefiro o conceito de chefia da
Nação, legítimo e eterno.
- No social e económico, qual a
preferência do Sr. Fróis: liberalismo ou totalitarismo?
- Em matéria de totalitarismo só
aceito um: o de Cristo. Jesus nas famílias, nos campos, nas oficinas, nos
escritórios; Jesus nos corações.
«E ao conceito abstrato de liberdade prefiro as liberdades concretas e efetivas. O
indivíduo de nome não é nada. Mas o
indivíduo na sua profissão, no seu estado, na sua alma, é tudo. Assim, na base
da orgânica do Estado, deviam estar sempre os valores morais, a família, a
profissão.».
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Para quê
os nossos comentários? Seria melhor, decerto, nada acrescentarmos, para que as
palavras do Sr. José Rino Fróis ficassem a ressoar na inteligência e no coração
dos amáveis leitores.
Mas é
necessário acrescentarmos alguma coisa. E é que as palavras de S. Exª. são a
expressão do seu pensamento, e o seu pensamento concorda em absoluto com a sua
vida. É um elogio que hoje em dia, de poucos se pode fazer.
Homem de
carácter íntegro, cidadão devotado aos interesses da Pátria, chefe extremoso de
uma numerosíssima família, católico de fé, de sentimentos e de mandamentos, S.
Exª. dá um nobre exemplo à sociedade desvairada dos tempos de hoje.
Os pobres
conhecem a sua caridade, e os trabalhadores o seu respeito pela justiça.
Alfeizerão,
sobretudo, tem no Sr. José Rino Fróis um dedicado amigo. Não é por isso de
estranhar que numa das dependências da Igreja Paroquial se encontre uma
fotografia de S. Exª. com os dizeres da Escritura: a memória do justo será eterna.
O valor
intelectual e moral do Sr. Fróis tem sido posto em evidência no desempenho de
várias missões de responsabilidade na vida económica da Nação. Presentemente, é
Administrador da Companhia Resineira e Presidente da Câmara de Comércio com a
Argentina (3).
«O
Alcoa» sente-se, em extremo, desvanecido, por poder arquivar nas suas colunas
as palavras luminosas e sinceras do Sr. José Rino Fróis. E ao mesmo tempo que
agradece reconhecidamente esta amável entrevista, formula os mais ardentes votos
pela prosperidade de S. Exª. e de sua Exma. Família.
João de Sousa
(Jornal O Alcoa, Ano III, nº192, de 20 de Outubro de 1949)
(1) Esta foto foi-me amavelmente facultada por Jorge Froes (os meus agradecimentos), um dos 65 netos de José Rino de Avelar Fróis. Uma fotografia idêntica (que não consegui copiar com a nitidez que seria desejável) acompanhava a entrevista n'O Alcoa, e ostentava a seguinte legenda:
(2) O genealogista João de Quental Lobo, traçou uma árvore genealógica dos Fróis ou Froes com início em Vitorino José Fróis, pai deste José Vitorino da Fonseca Fróis; e que pode ser consultada nesta hiperligação para o fórum do portal GENEALL.
(3) José Rino de Avelar Fróis, a título local, era também nesta data, presidente da Assembleia Geral Casa do Povo de Alfeizerão.
A GERAÇÃO DO JUSTO SERÁ ABENÇOADA - O sr. José Rino Avelar Frois com sua esposa e o lindo ranchinho dos seus netos.
(2) O genealogista João de Quental Lobo, traçou uma árvore genealógica dos Fróis ou Froes com início em Vitorino José Fróis, pai deste José Vitorino da Fonseca Fróis; e que pode ser consultada nesta hiperligação para o fórum do portal GENEALL.
(3) José Rino de Avelar Fróis, a título local, era também nesta data, presidente da Assembleia Geral Casa do Povo de Alfeizerão.
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