A assinalar o dia 15 de Janeiro, indicamos três referências históricas para a capela de Santo Amaro, na forma de duas doações testamentárias e uma reconstrução da capela, todas originadas de párocos da vila. As primeiras, dos testamentos dos padres António do Couto (1728) e António Lopes Silva (1773), enquanto a reconstrução (mandada “reedificar”) da capela foi devida à acção do padre Raimundo Soares de Sá e Lanções, segundo testemunho do cronista frei Manuel de Figueiredo (1782), que empregou presumivelmente nela o numerário legado pelo padre António Lopes Silva.
Os corógrafos do século XVIII estimavam que a capela era tão antiga como a própria vila - ou perto disso porque, pelos seus traços arquitectónicos, a capela evoca construções similares dos séculos XIV-XV. O Santo Amaro e o seu modesto templo, sempre foi muito acarinhado pelos alfeizerenses e gentes das terras vizinhas, e isso também se espelha na preocupação destes três párocos pela sua manutenção e continuidade. Outro sinal claro da importância dessa devoção é a ocorrência de Amaro na onomástica de pessoas nascidas e baptizadas em Alfeizerão (com mais incidência nos séculos XVII-XVIII), encontrando-se também Santo Amaro como sobrenome, mas provavelmente como indicação da proximidade à capela da residência das pessoas assim conhecidas. Como exemplo: Mariana Francisco de Santo Amaro, no assento de óbito do seu marido Manuel Lopes, com a data de 24 de Outubro de 1727 (ADLRA, IV/24/C/11, fl. 93r).
Partilho imagens dos três documentos e, na cópia dos textos, suprimi as maiúsculas indevidas e desdobrei as abreviaturas, sublinhando as letras que se acrescentou.
DOC. 1: ADLRA, IV/24/C/11 - Registos de óbito da freguesia de Alfeizerão: 1666-1747, fl. 93v
«Em
os nove dias do mes de Mayo de mil e setecentos e vinte e outto annos, faleceo
com os sacramentos da Penitencia e extrema Unção e não recebeo a Sagrada
Eucharistia por impedimento da doença, o Padre Antonio do Coutto, Cura que foi nesta Igreja de S. Joam Baptista,
fes testamento em que deixou cem missas por sua alma e sincoenta pellas
almas de seus pays, e mil e quatrocentos Reis a Santo Amaro, está
enterrado na Ermida do Divino Spírito Santo, na campa do numero
vinte, e para que conste fis este assento. Era ut suora.
Cura Antonio do Coutto Mayo»
DOC. 2: ADLRA, IV/24/C/12, Registos de óbito da freguesia de Alfeizerão: 1769-1795, f. 20r.21v
<Villa / O Pe. António Lopes Silva / fis officios na forma do estilo>
«Aos
vinte dias do mês de Setembro de mil e sete sentos e setenta e três, faleceo da
vida presente o Pe. António Lopes Silva, com todos os sacramentos,
nascido e morador nesta vila de Alfeizirão, freguesia de
S. João Bauptista. Fes testamento e foi aberto na forma de uso e
costume, deixou a sua sobrinha, Felícia Madeira e testamenteira de seus
bens e que esta lhe mandaçe dizer sem [sic] missas pela sua alma de esmola, sento
e vinte Reis cada huma e sincoenta pela alma da sua irmã Izabel Maria,
esmola de sem reis e vinte pelas alma de seus pais, mais quinhentas missas de
tenças pellos padres de Castella, esmola de dous vintens cada huma,
mais tres mil e duzentos a Maria da Conceição da atouguia, mais dois
cruzados novos a Santo Amaro desta villa e que o seu sobrinho,
o Pe. António Lopes lhe diga as missas, tudo a vontade da herdeira
e para constar fis este asento, dia, mês, era ut supra, em absencia
[na ausência] e por comição do muito Reverendo Prior e Vigário
Damião Raimundo Soares de Sá
O Pe. Marcos António de Oliveira»
DOC. 3: Excerto do “Capitulo da Vila de Alfeizerão” (1782) do cronista cisterciense Frei Manuel de Figueiredo (BNP, cod 1484). O capítulo na íntegra com algumas notas interpretativas está disponível emDOC. 3: Excerto do “Capitulo da Vila de Alfeizerão” (1782) do cronista cisterciense Frei Manuel de Figueiredo (BNP, cod 1484). O capítulo na íntegra com algumas notas interpretativas está disponível em https://www.academia.edu/44227572/APONTAMENTOS_COROGR%C3%81FICOS_DE_FREI_MANUEL_DE_FIGUEIREDO_SOBRE_ALFEIZER%C3%83O
« A Ermida de Santo Amaro, Imagem milagroza, que muitos annos servio de Parochia, está situada no arrabalde da villa, ao nascente, e ameaçando ruina a mandou reedificar o Parocho actual, Damião Raimundo Soarez de Sá e Lançoens»
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