A estrada a S. Martinho e a Alcobaça, é
simplesmente maravilhosa de paisagem; e nada vi jamais para lhe antepor como
tranquila, risonha e pacífica expressão da natureza rústica e da vida rural. Na
grande planície, em torno dos pingues campos de Alfeizerão, a pequena baía de
S. Martinho do Porto parece embeber-se e penetrar na poética doçura do solo,
com a voluptuosidade dum beijo aquático dado à campina pelo oceano. Para o lado
oposto do caminho até á cordilheira que vem de Sintra, e cujo perfil violáceo
se esbate ao longe nas transparências do céu, é o largo e majestoso vale
salpicado de casais alvejantes, entre as vastas searas ondulosas e os densos
bosques de pinheiros sobre consecutivos e suaves cômoros virentes de vegetação
brava, cobertos de fetos, de giestas e de urze, desabrochando á beira da
estrada em flores que se não vêem ao longe, bebidas pela grande massa
verde-negra, e são as estrelas doiradas do tojo, os turbantes azuis das alcachofras,
e as pontas prateadas das moitas do travisco, sobre que caem em regaçadas do
valado, os cachos das madressilvas.
(Ramalho Ortigão,
citado por Raul Proença no volume II do “Guia de Portugal”, página 603, edição
original de 1927, reedição da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1991).
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