segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

As ferras de Alfeizerão, numa Farpa de Ramalho Ortigão



            «A mim, valentes entrudadas com ovos de gema, bisnagas e limões de cheiro. A mim, ó Terça-Feira gorda, com todos os teus adminículos e atributos, vasos de noite, abanos, chavelhos, rabos-leva, esguichos, pós de sapatos, filhós e coscorões recheados de estopa, trambolhos para atar os artelhos e tachadas de breu para pegar fundilhos às cadeiras! A mim, palavrões, gibadas, pés de nariz e cambalhotas! A mim, toda a pilhéria e toda a laracha do tempo em que Lisboa ria! A mim, as noites à viola do Baldansa, do Colete Encarnado e do Perna de Pau! A mim, as olímpicas piadas do Sol, em tardes de touros no Campo Grande e nas apartações e nas ferras de Castelo Melhor ou dos Campos de Alfeizerão!».


(Ramalho ORTIGÃO, Últimas Farpas, página 216, Editora Bertrand, 1916)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

O busto do Professor Joaquim André dos Santos


                Transcrevo o texto da acta da Junta de Freguesia de Alfeizerão que deliberou erguer o busto em homenagem ao professor Joaquim André dos Santos no Largo de Santo Amaro (que por então, ainda conservou este nome). Esta acta (fl. 45) consta do Livro de Actas existente na própria Junta, cujo Termo de Abertura tem a data de 2 de Janeiro de 1951.

                Acta da sessão extraordinária da Junta de Freguesia de Alfeizerão, concelho de Alcobaça, em 7 de Janeiro de 1956.
                Aos sete dias do mês de Janeiro de mil e novecentos e cinquenta e seis anos, nesta vila de Alfeizerão e sala das sessões da Junta de Freguesia, pelas vinte horas, se reuniu em sessão extraordinária a mesma Junta de Freguesia, composta pelos senhores Joaquim da Silva Pereira, Joaquim Ladeira e José Simões, respectivamente, Presidente, Tesoureiro e Secretário.
                Aberta a sessão, cujo fim foi delineado [?] sobre a colocação do busto do Sr. Professor Joaquim André dos Santos no Largo de Santo Amaro, esta Junta resolveu o seguinte.
                Tendo vindo até nós uma comissão composta pelos senhores Francisco Almeida Caiado, José Augusto Machado da Polónia e Francisco Madeira, naturais de Alfeizerão, manifestou essa comissão o desejo de prestar homenagem ao falecido professor Joaquim André dos Santos, pessoa que relevantes serviços prestou no exercício das suas funções, e indo até mais além, ao ponto de chegar a dar de comer e artigos escolares aos seus alunos mais necessitados, veio a mesma pedir a esta Junta o seu apoio a que seja colocado o busto do referido Mestre no Largo de Santo Amaro.
                Assim deliberou esta Junta na sua sessão extraordinária de sete de Janeiro de mil, novecentos e cinquenta e seis, dar pleno apoio a que o referido busto seja erigido no Largo de Santo Amaro.
                Mais deliberou dar conhecimento ao Exmo. Senhor Presidente da Câmara do Concelho, da atitude que tomou, e que para tal lhe seja enviada uma cópia desta acta.
                Não havendo mais nada a tratar, foi encerrada a sessão, do que para constar se lavrou a presente acta, que eu, José Simões, secretário, a subscrevi, e também assino.

[assinaturas: Joaquim da Silva Pereira, Joaquim Ladeira, José Simões]


terça-feira, 1 de novembro de 2016

O filme «Lobos da Serra» – um close-up na carreira de Maria Domingas



O realizador Jorge Brum do Canto, e o seu assistente, Fernando Garcia

O filme
                LOBOS DA SERRA, Realização, argumento e diálogos de Jorge Brum do Canto, Estúdios da Tobis Portuguesa. Estreia no Tivoli, em Lisboa, a 23 de Fevereiro de 1942.

                Enredo:
                António, noivo de Margarida (Maria Domingas) fica a tomar conta das terras do tio (Tio Luís, personagem interpretado por António Silva) quando este tem de partir para a capital. Os contrabandistas descem ao povoado, e encontram-se com Joaquim (Carlos Otero), o irmão de Margarida, que trabalha para eles. Numa operação de contrabando em que Joaquim participa, as coisas correm mal, e dois deles são mortos pela Guarda Fiscal e o próprio Joaquim fica ferido. Consegue fugir e voltar a casa, onde a família o encobre, apesar das suspeitas do sargento da Guarda (o sargento Batata – Manuel Santos Carvalho), que fica de olho nele. Durante a festa da Senhora da Peneda, o sargento volta à carga, querendo obter uma confissão de Joaquim, mas tudo se aquieta com a chegada da procissão, como se trouxesse a paz e a oportunidade para Joaquim abandonar a vida de contrabando e se regenerar. António e Margarida trabalham afincadamente nas terras, mas essa prosperidade é destruída durante a noite por uma tempestade medonha que destrói as culturas e tudo o que haviam conseguido com o seu trabalho. Margarida vai trabalhar para ajudar o marido, e este, em segredo, aceita trabalhar com os contrabandistas para tentar obter dinheiro e recuperar a propriedade que o tio deixara ao seu cuidado. Quando pela calada da noite, se dirige para Espanha para ir buscar a mercadoria, adormece e tem um sonho em que antevê o que poderia acontecer se continuasse naquele caminho. Tomando o sonho como um sinal, António arrepende-se e volta para trás, decidido a vingar pelo trabalho e não pelo crime (mais uma experiência exemplar dos filmes deste realizador); e, para sua surpresa, constata que toda a aldeia se juntara para recuperar as suas terras e limpá-las dos efeitos da tempestade. Neste cenário de reconstrução e recomeço, o filme acaba de forma idílica com António e Margarida abraçados e unidos, enquanto o cão Patinhas saltita em redor.

                Intérpretes: Américo Leite Rosa (Ralha); António de Sousa (António); António Rosa (Pancho); António Silva (Tio Luís); Armando Chagas (1º Miúdo); Armando Machado (Cabo Maximino); Artur Rodrigues (Tio João); Augusto Costa - Costinha (Joãozinho); Carlinhos - António da Silva Viana (2º Miúdo); Carlos Barros (1º Guarda Fiscal); Carlos Otero (Joaquim); Ema de Oliveira (Senhora Micas); Jaime Mendes; João Guerra (Pintassilgo); João Marques (3º Miúdo); João Tavares (1º Contrabandista); José Alves (Chiola); José Malveira; Madalena Vilaça (Lola); Manuel Santos Carvalho (Sargento Batata); Maria Domingas (Margarida); Maria Emília Villas - Marimília (Senhora Conceição); Natália Silva (Garota); Reginaldo Duarte (2º Guarda Fiscal); Silva Araújo (Padre Eduardo). Participação especial do cão Vouga (o Patinhas).

Estúdios, cenários e filmagens
                A consulta da revista “Animatógrafo”, dirigida por António Lopes Ribeiro, permitiu-nos encontrar elementos que documentam todo o processo de criação deste filme, desde os primeiros preparativos, à sua demorada montagem e subsequente estreia em Lisboa no cinema Tivoli. São esses elementos que trazemos aqui de uma forma organizada e cronológica.

                Logo no ano de 1940, ano de estreia do filme João Ratão de Jorge Brum do Canto, a produtora Tobis anuncia que já se iniciara nos estúdios da Quinta das Conchas a construção dos cenários do próximo filme do realizador, Lobos da Serra. Num artigo não assinado, pode ler-se na revista Animatógrafo:
                Maria Domingas que com a interpretação de «Vitória» de «João Ratão» marcou definitivamente o seu lugar dentro do cinema português, vai novamente encarregar-se dum papel cheio de dificuldades que é o de «Margarida», protagonista de «Os Lobos da Serra». Sabemos que a personagem se lhe ajusta muito especialmente por foi escrita de propósito para ela. Jorge Brum do Canto ficou tão satisfeito com o trabalho de Domingas no «João Ratão» que teve sempre presente as qualidades e grandes possibilidades dela enquanto delineou a ação de «Lobos da Serra» a qual gira, precisamente, à volta de «Margarida» curiosa figura de rapariga que luta pela felicidade e pela reconquista dos dias alegres quando estes fogem. No «João Ratão» Domingas tivera já ocasião para cantar, chorar e rir. Agora em todos estes aspetos e noutros a simpática vedeta, que está entusiasmada com o seu novo papel, vai alargar com certeza as provas prestadas e cativar ainda mais as nossas plateias – o que, aliás, pela maneira enérgica como luta para triunfar e pelo seu inegável talento e fotogenia, merece absolutamente (revista Animatógrafo, direção de António Lopes Ribeiro, 2ª. série, n.º 7, Natal de 1940).
                Dois meses depois, à data do início das filmagens, a revista descreve os cenários ultimados da Tobis portuguesa: O estúdio da Quinta das Conchas está neste momento completamente cheio, atravancado de lés-a-lés, oferecendo um aspeto que se pode considerar inédito. Com efeito, levantaram-se ao mesmo tempo vários complexos de cenários, depois de estudada uma arrumação especial e conseguiu-se juntar, lado a lado, um posto de fronteira da Guarda-Fiscal, o interior de uma casa de lavradores minhotos remediados, uma grande azenha, uma ampla cozinha, vários quartos e um pequeno aspeto duma rua de vila nortenha (Animatógrafo, 2ª série, n.º 15, p. 7, Lisboa, 17 de Fevereiro de 1941).
                No mês de Março, decorre a rodagem das difíceis filmagens de exteriores na Serra da Estrela. Durante dez dias, e sob difíceis condições climatéricas, estabeleceram a sua base na Covilhã e filmaram planos e cenas que precisavam na Serra; o camião da Tobis carregado com a aparelhagem ficou atascado na neve e houve que abrir uma estrada para o tirar dali; noutra ocasião, foi o realizador e o seu assistente, Fernando Garcia, quem foi surpreendido pela nevasca enquanto filmavam sozinhos alguns planos do alto da serra, e só a muito custo os dois conseguiram regressar para junto da restante equipa (Animatógrafo, 2ª Série, nº. 20, 24 de Março de 1941).

Duas peripécias (O Animatógrafo, 2.ª Série, n.º 22, 7 de Abril de 1941)

                A 14 de Abril, o Animatógrafo anunciava o fim das filmagens de interiores para o filme, realçando entre as gravações, a de uma cena entre Maria Domingas e António de Sousa, um episódio romântico, ao velho gosto lusíada, num cenário florido, como é do gosto de Jorge Brum do Canto (id. 2ª. Série, nº. 23, 14 de Abril de 1941). Os exteriores prosseguem, em Arcos de Valdevez, na serra da Peneda e em Lisboa (ibid., nº. 31, de 9 de Junho de 1941), filmam-se cenas noturnas, e novas cenas de interior, e novamente se regressa à Serra da Peneda, à Estrela e a Arcos-de-Valdevez (ibid, nº. 33, de 23 de Junho de 1941; nº. 35, 7 de Julho de 1941; nº. 43 de 1 de Setembro de 1941).
                Depois de meses de montagem, com a captura de mais cenas de permeio, o Animatógrafo de 17 de Fevereiro de 1942 (3ª. Série, nº. 67) proclama a estreia do filme no Tivoli a 23 desse mês. Nesse mesmo artigo se resume com as seguintes palavras o enredo do filme e o seu conteúdo moral e normalizador: Pelos cenários grandiosos da Serra da Estrela e da Serra da Peneda, vão passar as cavalgadas do bando do contrabandista Chiola, fugidas e escondidas da vigilância da Guarda Fiscal. São eles os «lobos da Serra». São eles que, descendo ao povoado, virão tentar a vida calma que se desenrola na paisagem tranquila da terra do Minho (...) Jorge Brum do Canto baseou o seu novo trabalho numa história original onde dois temas, um movimentado, que é a vida dos contrabandistas, e outro sentimental, se ligam para erguer uma ideia moral - que é o regresso à terra e o abandono do lucro fácil, mas ilícito, do contrabando.
                A estreia verifica-se na data anunciada, numa récita de gala no Tivoli com a presença dos ministros das Finanças e das Colónias e do General Amílcar Mota em representação do presidente da república. O Animatógrafo (3.ª Série, nº. 69, 3 de Março de 1942) descreve com cores vivas a festa e os seus intervenientes. Na mesma revista, na crítica ao filme, escreve Fernando Fragoso sobre o desempenho de Maria Domingas: Maria Domingas é, fora de dúvida, uma das raparigas com mais personalidade e intuição que têm aparecido nos nossos filmes. Impôs a «Guida» de Lobos da Serra com a mesma facilidade com que nos deu a «Vitória» de João Ratão. E esta «Guida» é bem mais difícil de "defender" do que a terna namorada do soldado combatente da Flandres. Todas as expressões e inflexões de Maria Domingas estão certas - e, a dominar umas e outras, uma espantosa naturalidade que as valoriza constantemente. A sua atuação, tão justa e tão brilhante, até nos faz esquecer certos vestidos e certos penteados que lhe não vão bem - e de que ela, aliás, não tem culpa.



Alguns dos técnicos e atores do filme, com Maria Domingas, Brum do Canto e António Silva no centro

Alguns frames do filme









domingo, 30 de outubro de 2016

Maria Domingas - breve evocação da sua carreira artística

              MARIA DOMINGAS nasceu em Alfeizerão a 11 de Setembro de 1921, e foi batizada com o nome de Maria Domingas da Cunha Meneses. Era filha de Francisco da Cunha Meneses e de Adelaide Baiana da Silva, residentes na vila. O seu pai, nascido na freguesia de S. José em Lisboa, era filho do 6.º Conde de Lumiares, enquanto a mãe, nascida em Alfeizerão, possui ascendentes na vila que se podem seguir nos assentos paroquiais de Alfeizerão até ao século XVIII.





                O seu primeiro trabalho no cinema foi como figurante no filme Maria Papoila de 1936, quando contava apenas quinze anos. Quatro anos depois, Jorge Brum do Canto convida-a para ser a protagonista feminina do filme João Ratão (1940). O filme segue a história de um jovem, João Ratão (Óscar de Lemos) que é convocado para a guerra na Flandres e que ao regressar à terra natal, se vê envolvido num triângulo amoroso com a sua noiva, Vitória (Maria Domingas) e uma mulher de posses, Manuela (Teresa Casal). O filme conhecerá um enorme sucesso, em grande parte devido à sua componente musical, onde se destaca o Fado das Trincheiras, mais tarde imortalizado na voz de Fernando Farinha, e canções que nos dão a conhecer a musicalidade da sua voz, como a Cantiga da Primavera.




                Dois anos depois, Maria Domingas entra em Os Lobos da Serra, também sob a direção de Jorge Brum do Canto, um filme dramático ambientado em paragens raianas, onde António (o ator António de Sousa), noivo de Margarida (Maria Domingas), se deixa enredar nas teias do contrabando para fazer face às dificuldades que atravessam.



                Em 24 de Setembro de 1947 é estreado o filme seguinte da carreira de Maria Domingas, Bola ao Centro, com argumento e realização de João Moreira, com Jorge Brum do Canto a supervisionar as filmagens; e que contaria com Alves Redol na escrita dos diálogos. O filme conta a história de um jovem apaixonado pelo futebol, Zé António (José Amaro) que para se tornar jogador abandona a família e a noiva, Maria Leonor (Maria Domingas), e ingressa num clube de futebol da capital. Aí, depois de um começo promissor embelezado por falsas promessas de carreira e pela trepidante vida noturna citadina, Zé António vê o seu sonho frustrado, o que o leva a regressar desencantado à sua terra, onde se reconcilia com Maria Leonor e consegue um emprego modesto, caindo de imediato no esquecimento daqueles que antes o aplaudiam.



                O título seguinte da filmografia de Maria Domingas acontece apenas doze anos depois. O Primo Basílio, adaptação cinematográfica de António Lopes Ribeiro da obra homónima de Eça de Queirós sobre a relação adúltera entre Luísa e Basílio. Neste filme, Maria Domingas desempenhará um papel secundário numa produção que contará com atores como Ribeirinho, João Villaret ou Manuel Santos Carvalho.



                O último filme em que Maria Domingas participou, no papel de uma viúva, foi A Cruz de Ferro (1968), filme realizado pelo cineasta que a descobriu, Jorge Brum do Canto e que também participa no filme como ator. Como em outros filmes deste realizador, a ação desenrola-se no campo, e a tensão dramática do enredo gira em volta de duas aldeias que disputam entre si a posse da água.

                Em paralelo com a sua carreira cinematográfica, Maria Domingas, desenvolve a sua participação no teatro. Foi no Teatro de Revista que Maria Domingas mais se destacou, chegando a ser uma atriz de primeira grandeza, e tendo contracenado com os maiores nomes da época, chegando a trabalhar em todos os teatros do género. Também trabalhou como atriz teatral no Brasil e em Moçambique, país onde viveu durante alguns anos.
                O final dos anos sessenta do século vinte assinala a retirada de Maria Domingas da vida artística, movida por razões de foro pessoal.

                De salientar que Maria Domingas sempre manteve uma forte ligação à sua terra, onde manteve uma casa e onde passava grande parte dos seus tempos livres. Também era aí que estanciava durante as tournées pelo país, recebendo outros atores em animados serões que as pessoas ainda recordam com agrado. Refira-se ainda que Maria Domingas se propôs para ser juíza da Festa de Santo Amaro em 1967, facto que não concretizou devido ao seu casamento em 1966, tendo delegado esse cargo numa pessoa de sua confiança.

(Revista Animatógrafo, 2ª. Série, nº. 51, 27 de Outubro de 1941)

terça-feira, 18 de outubro de 2016

MARIA DOMINGAS - a sua genealogia paterna

Maria  Domingas, numa cena do filme João Ratão

     Depois de aqui termos trazido alguns dados sobre a genealogia da atriz Maria Domingas, tentaremos complementar esse apontamento com informações sobre a sua ascendência paterna, tema que havíamos descurado na nossa publicação anterior.

     O pai de Maria Domingas, Francisco de Assis da Cunha e Meneses, nascido em 1874, era um dos filhos do 6º. Conde de Lumiares, D. José Manuel da Cunha Faro e Meneses Portugal da Silveira. Antes de falarmos deste fidalgo e das origens do título, começaremos por recordar aqui um dos seus avoengos mais ilustres, Martim Afonso de Sousa.

O César das Índias

Martim Afonso de Sousa
Martim Afonso de Sousa

     Martim Afonso de Sousa nasce em Vila Viçosa numa data imprecisa próxima ao ano de 1490, e descendia de uma das mais antigas famílias do reino, os Sousa ou Sousa Chichorro. Numa carta (de Novembro de 1545) de um primo seu, Aleixo de Sousa, ao governador da Índia, D. João de Castro, lembra-se ao destinatário da carta que «a minha geração (des que há Reis em Portugal) foi sempre das mais honradas do Reyno, e ouve sempre nella muitos honrados homens» (PELÚCIA, p. 33). Pelo seu estatuto de nobre, Martim Afonso de Sousa passou os primeiros anos da sua juventude na corte, sendo pajem do Duque de Bragança, e do infante D. João, futuro rei de Portugal.

     Estudou matemática e cosmografia, e com a subida de D. João III ao trono, Martim Afonso de Sousa é encarregue pelo rei de acompanhar a Castela, Dona Leonor, viúva do Rei Venturoso. Em Castela, combate os franceses sob o comando do rei D. Carlos V, e ainda no reino vizinho contrai casamento com D. Ana Pimentel, uma mulher nobre. Regressa a Portugal, integrando a comitiva que traz a Lisboa a irmã de Carlos V, Dona Catarina, para se casar com o rei português. Em Portugal é nomeado conselheiro da Coroa e D. João III escolhe-o para capitanear uma expedição ao Brasil. Esta expedição compõem-se da nau capitânia sob o comando de Martim de Sousa e do seu irmão Pêro Lopes de Sousa, o galeão São Vicente confiado a Pêro Lopes Pinheiro, a caravela Rosa capitaneada por Diogo Leite, e a caravela Princesa, sob as ordens de Baltasar Fernandes; parte do porto de Lisboa a 3 de Dezembro de 1530, e percorre as costas do Brasil onde combate e apresa navios franceses que aí se encontram; a expedição funda em seguida a primeira vila portuguesa no território, São Vicente. Frustrado nas suas buscas por ouro e prata, a presença de Martim de Sousa no novo continente acompanhará a aposta definitiva na agricultura e no cultivo da cana-de-açúcar, e a divisão do território em capitanias, ficando-lhe atribuída a capitania de S. Vicente que Martim Afonso governaria até ao seu regresso ao reino em meados de 1533. Um ano depois, é nomeado capitão-mor do mar das Índias, para onde se desloca para combater os corsários e mouros; consegue a concessão aos portugueses do lugar de Diu para se erguer uma fortaleza depois de auxiliar o sultão de Cambaia na luta contra os mongóis; e logra depois disso a defesa de Cochim, uma admirável vitória militar contra o rajá de Calecute e um novo triunfo sobre o mesmo potentado em 1538. Estando já em Lisboa, é nomeado vice-rei das Índias por D. João III em 1542, sucedendo aí a D. Estevão da Gama. O seu papel como vice-rei e administrador desfez a reputação que granjeara durante anos como capitão de guerra, abrindo um período de corrupção, debilidade estratégica e enriquecimento indevido. Em 1545, sucede-lhe D. João de Castro e Martim Afonso regressa a Lisboa no princípio de 1546, onde permanece como conselheiro da Coroa. Morre em Lisboa em 1571 e é sepultado no convento de S. Francisco, em Lisboa.

Sousas e Meneses – os condes de Lumiares

     A capitania de S. Vicente no Brasil manteve-se na família de Martim Afonso de Sousa. A sua neta, D. Mariana de Sousa Guerra foi a quarta donatária da capitania, transmitida às gerações seguintes da família: Luís Carneiro de Sousa, Francisco Carneiro de Sousa, António Carneiro de Sousa (agora Capitania de São Paulo e Minas de Ouro), Francisco Carneiro de Sousa e Carlos Carneiro de Sousa e Faro (Capitania de São Paulo), com o qual o título é extinto.

     António Carneiro de Sousa morreu sem descendentes, e é o seu irmão, Carlos Carneiro de Sousa e Faro quem se torna o derradeiro detentor do título, da mesma forma que foi o quinto Conde da Ilha do Príncipe, título nobiliárquico associado ao primeiro, e que tinha sido criado por Filipe III de Portugal em benefício de Luís Carneiro de Sousa, bisavô deste 5º. Conde.

     Tendo ficado sem o título de Conde da Ilha do Príncipe, Carlos Carneiro de Sousa e Faro (1710-1770) recebe em compensação o título de Conde de Lumiares por mercê do rei D. José I de 29 de Setembro de 1753. O brasão de armas do primeiro Conde de Lumiares é o dos Carneiros: em campo vermelho, com banda de azul, perfilada de ouro, carregada de três flores-de-lis do mesmo e acompanhada de dois carneiros de prata, armados de ouro. Timbre: um dos carneiros do escudo.

     Madalena Gertrudes Carneiro de Sousa e Faro (1737-1793), filha de Carlos Carneiro de Sousa e Faro e Ana Vicência de Noronha, será a segunda Condessa de Lumiares. Após o seu casamento com José Francisco Portugal da Gama e Vasconcelos, ostentará o nome de D. Madalena Gertrudes Portugal da Gama e Vasconcelos.

     Maria do Resgate Carneiro Portugal da Gama Vasconcelos Sousa Faro (1771-1823), filha do casal anterior, casou-se com Manuel Inácio da Cunha e Menezes (1742-1791), que deteve o título de Conde de Lumiares; mas após a sua morte, Maria do Resgate subsistiu como a terceira Condessa de Lumiares, tendo-se casado em segundas núpcias com Luís da Cunha Portugal e Meneses, seu cunhado.

     José Manuel Inácio da Cunha e Meneses da Gama e Vasconcelos Carneiro de Sousa Portugal e Faro (1788-1849), quarto conde de Lumiares, era filho de Maria do Resgate e de Manuel Inácio da Cunha e Menezes. Militar e político, foi brigadeiro, deputado, Par do Reino e Presidente do Conselho de Ministros. Faleceu no palácio dos Condes de Lumiares (freguesia de S. José, em Lisboa) no ano de 1849, e teve seis filhos, frutos do seu casamento com D. Luísa de Meneses, dama da rainha D. Maria I: D. José Félix da Cunha e Meneses; D. Francisco da Cunha e Meneses; D. Manuel da Cunha e Meneses; D. Luís da Cunha e Meneses; D. Carlos da Cunha e Meneses; D. Maria Nazareno da Cunha e Meneses.

     D. José Félix da Cunha e Meneses (1808-1843), era o filho mais velho dos precedentes e quinto conde de Lumiares. Casou-se em 8 de Junho de 1835 com Constança de Saldanha e Riba Fria e tiveram três filhos: José Manuel da Cunha Faro e Meneses Portugal da Silveira; Leonor da Cunha e Meneses e D. José Manuel da Cunha e Faro Meneses Portugal da Silveira.

     O mais velho, D. José Manuel da Cunha Faro e Meneses Portugal da Silveira (1836-1902), foi o sexto e último conde de Lumiares. Da sua esposa, Ana Amélia Pinto de Sousa Coutinho Balsemão, teve dez filhos, entre os quais se contava Francisco de Assis da Cunha e Meneses. O título de conde foi-lhe renovado em vida por decreto de 27 de Abril de 1858.

     Francisco de Assis da Cunha e Meneses (1874-1942), foi o pai de MARIA DOMINGAS da Cunha Meneses, nascida da sua união com Adelaide Baiana da Silva.

Francisco de Assis
da Cunha e Meneses


Fontes:
CASTELO BRANCO, José Barbosa Canaes de Figueiredo, Costados das familias illustes [sic] de Portugal, Algarves, Ilhas, e Indias, Volume 1, Lisboa, na Impressão Régia, ano de 1829.

MESQUITA, Manuel de Castro Pereira de; e CASTELO BRANCO E TORRES, João Carlos Feo Cardoso de, Resenha das familias titulares do reino de Portugal: Acompanhada das noticias biographicas de alguns individuos das mesmas familias, Imprensa Nacional, Lisboa, 1838.

PELÚCIA, Alexandra Maria Pinheiro, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem: A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, 2007.


ANEXO 1
  Árvore de costados dos Condes de Lumiares.
(CASTELO BRANCO, José Barbosa Canaes de Figueiredo, Costados das familias illustes [sic] de Portugal, Algarves, Ilhas, e Indias, Volume 1, p 44, Lisboa, na Impressão Régia, ano de 1829).



ANEXO II
Algumas aditamentos aos títulos da família e às suas uniões e parentesco
(MESQUITA, Manuel de Castro Pereira de; e CASTELO BRANCO E TORRES, João Carlos Feo Cardoso de, Resenha das familias titulares do reino de Portugal: Acompanhada das noticias biographicas de alguns individuos das mesmas familias, pp. 115-117, Imprensa Nacional, Lisboa, 1838).




quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Contexto e estudo do «Livro das Contas da Livraria do Real Mosteiro de Alcobaça» - parte 3.ª

Foto de Marcel Dieulafoy (1844-1920)      

Apontamentos sobre o Livro das Contas da Livraria do Mosteiro – os critérios usados
                O Livro das contas da Livraria do Real Mosteiro d' Alcobaça (cota BNP, cod-7353; com versão eletrónica no endereço http://purl.pt/24965), distribui-se entre os anos de 1812 e 1833. As contas (receitas e despesas) vão de 1 de Abril de um dado ano até ao último dia de Março do ano seguinte; ciclo integrado num ciclo institucional mais alargado de três anos, em que se mudava o Abade titular da Ordem e este nomeava um novo Bibliotecário-Mor (o que nem sempre aconteceu).
                - Procedemos à transposição modernizada do texto destes Balanços, não indicando as somas apontadas a menos que estivessem inscritas dentro do texto.
                - Agrupamos, artificialmente, essas contas por triénios. Alguma anotação mais breve, encontrar-se-á interpolada entre parêntesis retos; os títulos ou topónimos que merecerem uma nota explicativa mais alargada estão assinalados por um asterisco, e a dita anotação alojada no «Comentário» redigido por nós no final do respetivo triénio, para aproximar a leitura de uma eventual consulta.
                - No fim dos apontamentos feitos, exibiremos um quadro sinóptico das receitas e despesas da Livraria durante o período abrangido por este Livro das Contas.


Livro das Contas da Livraria
do
Real Mosteiro de Alcobaça

                Aviso introdutório do livro: Cometemos as nossas vezes [encarregamos] ao Reverendo Padre Fr. Francisco de Moraes para rubricar este Livro que terá a mesma autoridade como que se por nós fosse rubricado. Alcobaça, 23 de Janeiro de 1812.
Fr. Fernando Pimentel [Abade de Alcobaça]

Triénio de 1810-1813 (fls. 1- 4v.)
Contas que dá Fr. José Ponce de Leão da renda da Livraria desde que lhe foi entregue, que foi a 5 de Outubro de 1811, sendo D. Abade Geral e Esmoler-Mor o Reverendíssimo Sr. P. Fr. Fernando Pimentel.

Recibo de 1810
                Neste ano foram perdoadas todas as Ordinárias que pagão as Rendas a esta: foram perdoados alguns Foros como se mostra pelo Recebimentos dos Direitos das Quintas e nada se recebeu mais do que da de S. Gião* e da Aroeira, como se mostra.
                Alfeizerão (recebido de Foro do moinho de João Simões); Vimeiro (recebido da azenha da viúva de António Duarte [«d’Antonio do Arte»]); Arieiro [Areeiro,Turquel ?] (recebido do moinho de António Gomes Canastreiro); Mata da Torre (recebido deste moinho); Ponte do Navias [Ponte do Neiva?](recebido do Foro desta Quinta); Santa Catarina (recº. do moinho de Domingos d’Abreu; recº. do moinho de Jorge Henriques); Castanheira (recº. do moinho, só que das terras nada se recebeu); S. Martinho do Porto (recº. do Armazém do Inferno*) S. Gião (recº. desta Quinta); Aroeira* (recº. destes Direitos de Torres Vedras).

Recibo de 1811
                Neste anno forão perduadas ametade das Ordinarias: o Foro da Quinta de S. Martinho e mais dous annos que se devião atrazados em razão dos serviços que o Proprietario desta Quinta fez em utelidade da Ordem tanto no primeiro, como segundo embarque.
                Alfeizerão (recº. do moinho de João Simões); Vimeiro (recº. da azenha d’António Duarte); Arieiro (recº. do moinho de António Gomes Canastreiro); Mata da Torre (recº. deste moinho); Santa Catarina (recº. do moinho de Domingos d’Abreu; e recº. do moinho de Jorge Henriques); Turquel (recº. do moinho dos Herdeiros do Capitão António Ribeiro; recº. dos moinhos de Domingos Ribeiro).
                QUINTAS: recº. da Ponte de Navias; recº. do Outeiro [?] não entrando os Foros; recº. dos Dízimos do Valbom; recº. do Casal dos Brincanos [Brancanes, Setúbal?]; recº. do Quifel*; recº. de S. Gião; recº. da Aroeira em Torres Vedras; recº. da Castanheira; recº. do Armazém do Inferno.                                                                                                    
                FEIRAS: recº. dos direitos das ditas
                PROPINAS: recebidas as propinas da renda d’Alvorninha; da Maiorga; de Aljubarrota; da Cela; de Évora; de Famalicão; do Julgado; da Pederneira; de Santarém; de Salir de Matos; do Valado; d’Alcobaça; d’Alfeizerão; do Relego da Cela; de Santa Catarina.
              
Recibo de 1812
                Neste anno forão perduadas huma quarta parte das Ordinarias.
                FOROS: Alfeizerão (recº. do moinho de João Simões); Arieiro (recº. deste moinho); Mata da Torre (recº. desta azenha); Santa Catarina (recº. do moinho de Domingos d’Abreu; e recº. do moinho de Jorge Henriques); Turquel (recº. do moinho dos Herdeiros do Capitão António Ribeiro; recº. dos moinhos de Domingos Ribeiro).
                QUINTAS: rec.º da de S. Martinho ;recº. da Ponte de Navias; recº. do Outeiro; recº. dos Dízimos do Valbom; recº.do Casal dos Brincanos; recº. do Quifel; recº. de S. Gião; recº. da Aroeira em Torres Vedras; recº. da Castanheira das terras; recº. do Armazém de S. Martinho.                                                                                                      
                FEIRAS: recº. dos direitos das ditas
                PROPINAS: recebidas as propinas da renda d’Aljubarrota; de Santa Catarina; do Julgado; da Cela; de Famalicão; de Salir de Matos; da Pederneira; d’Alcobaça; do Valado; d’Alvorninha; d’Alfeizerão; d’Évora; da Maiorga; de Turquel, de Santarém; do Relego da Cela.  
                Outros recebimentos: de dívidas antigas; de uma restituição; do Pe. João Fradinho; recebido do excesso que há na Bolsaria do Convento. 
                
Despesa que se fez em todos os três anos
                Em Gazetas (despendido as ditas até ao fim de Fevereiro de 1813); em Correios (despendido nos ditos de Londres, e Brasilienses* até ao fim do mesmo ano);
                Folhetos (despendido em 12 ditos do Jornal de Coimbra e no seu semestre; despº. na Confissão de Bonaparte *; despº. na História do Gabinete de S. Cloud*; despº. nas Ordens do Dia; despº. em este Livreiro para o Reverendíssimo P. Sub-água [sic] não dar conta do artigo, na encadernação destes Folhetos e Correios Brasilienses); Chaves [claves](despº. em as ditas 4 novas e conserto de outra); Espanador, brocha e vassouras; algodão (despº.no dito para toalhas e seu feitio); papel; gastos (despº. na condução dos livros de S. Martinho; no rec.º desta renda); reparo (despº. no dito do telhado do Moinho da Castanheira; despº. na cultura das terras da Quinta da Castanheira); custas (despendido nas ditas da Penhora que se fez à viúva de João Pereira, de S. Martinho, pelo Foro que devia de quatro anos, cujo lhe foi perdoado; soldada (dº. na dita de João Alberto, de onze meses até o fim de Abril de 1813.                                                                                     
COMENTÁRIO:
* QUINTA DE S. GIÃO: Esta quinta é certamente a que existiu até tempos muito recentes no concelho da Nazaré, e no terreno da qual se ergue a misteriosa e nunca por demais estudada Igreja de S. Gião. Informa-nos o Livro em epígrafe, para o ano compreendido entre 1 de Maio de 1815 e 30 de Abril de 1816, que os direitos da Quinta de S. Gião estavam arrendados a Joaquim Alves, da Vestiaria. No fólio 24, é-nos dito que a Livraria recebeu «dos direitos desta quinta segundo a reforma dos forais, de Francisco Lemos Bettencourt, rendeiro do marquês de Olhão D. P., pelo Procurador do dito rendeiro Manuel Jacinto, vencidos em 1822». Três quartos de século antes, em 1758, segundo a Memória Paroquial de Famalicão da Pederneira (DGA/TT, Memórias paroquiais, vol. 15, nº 15, p. 73 a 80), a Quinta andava em mãos do Marquês de Abrantes, produzindo em abundância «trigo, milho, cevada, e outros legumes».

*ARMAZÉM DO INFERNO: Este armazém em S. Martinho do Porto era propriedade do Mosteiro, que o arrendava aos interessados, e foi objeto de uma ampla reconstrução nos anos de 1829-1830. Depois da saída dos monges e da extinção das Ordens Religiosas, o Armazém ficou sob a alçada da Administração dos Pinhais Nacionais de Leiria. Um relatório sobre a visita do Governador Civil de Leiria ao concelho de Alcobaça no ano de 1864 permitiu-nos apurar que esse Armazém se localizava próximo ou junto ao local onde se construiu a estação terminal do caminho-de-ferro americano (hoje no n.º 2 da rua Conde de Avelar), «por ordem do M. d’Obras Públicas, Duque de Loulé, 1862». Cito o relatório: A conveniência de ser concedida á respectiva junta de parochia, para a escola de instrucção primaria e habitação do professor, a casa denominada «Armazem do Inferno», que tem pertencido á administração geral das matas e que lhe é actualmente inutil ou desnecessaria. A mesma casa fôra anteriormente destinada, segundo fui informado, para arrecadação e depósito de madeiras e alcatrão, e julga-se desnecessária depois que foi estabelecido o caminho de ferro americano que ali termina. Examinando-a, conheci que tinha capacidade bastante para o fim que se pretende, mediante algumas pequenas obras que a junta de parochia se propõe mandar efectuar, caso lhe seja concedida (in Collecção dos Relatorios das visitas feitas aos districtos pelos respetivos governadores civis, em virtude da portaria de 1 de Agosto de 1866, p. 12, Imprensa Nacional, Lisboa, 1868).
           O nome, muito invulgar, de Armazém do Inferno, dever-se-á circunstância do armazém ter sido construído num ponto onde existia a denominação toponímica de Inferno, que poderá ter uma explicação mais prosaica e menos teológica. Não é inédita a ocorrência de “Inferno” na toponímia, fixando um local onde existia um buraco, nascente ou cascata (Poço do Inferno), boca de gruta (Gruta do Inferno) ou outras variantes de que desconhecemos a tradição explicativa como Vale do inferno (Coimbra) Carreiro do Inferno (Peniche), talvez com o sentido de caminho difícil; Praia do Inferno ou Cólaga do Inferno. Uma outra explicação possível para o topónimo consiste na eventual existência aí de uma azenha em tempos pretéritos, edifício que possuía o seu próprio «inferno». Explica-nos o padre Rafael Bluteau sobre «Inferno»: Nos moinhos de agoa he hum buraco profundo, em que se faz andar a roda, ou se tem mão nella § Inferno de lagar: he no moinho uma talha enterrada, para a qual por huma abertura que tem a parede do moinho, se tira a maça (BLUTEAU, Raphael, Vocabulario Portuguez e latino, Volume 4, p. 124, Coimbra, Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1713).

*AROEIRA: Grafia que se repete neste livro e que deverá corresponder à Azoeira, hoje Azueira, que era termo da vila de Torres Vedras e localiza-se agora no concelho de Mafra. Na sua Corografia, o padre Carvalho da Costa refere-se à Azoeira e à Caneira Velha (referido mais adiante no Livro das Contas…) como lugares da paróquia de S. Pedro dos Grilhões, de Torres Vedras.
                (CARVALHO DA COSTA, P. António, Corografia Portugueza e Descripçam Topográfica do famoso Reyno de                Portugal..., Tomo I, Tratado I, Capítulo I, Tipografia de Domingos Gonçalves Gouveia, Braga, 1868).

*QUINTA DO QUIFEL: É difícil identificar com segurança esta quinta. Bartolomeu Quifel Barberino (1631-1719), italiano de origem, foi conselheiro dos reis D. Pedro II e D. João V. A Quinta do Molhapão em Sintra serviu de base para a instituição do morgado Quifel, mas outras propriedades entraram na posse dessa família por aquisição ou por vínculos matrimoniais, como a Quinta do Bom Sucesso, em Alferrarede.

* CORREIO BRAZILIENSE ou ARMAZÉM LITERÁRIO: mensário publicado em Londres por Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, e impresso por W. Lewis. Lançado em Junho de 1808, circulou até Dezembro de 1822. Um periódico distinto é o CORREIO DE LONDRES, que era uma tradução do jornal com o mesmo título editado em Londres. Publicou-se entre 15 de Julho de 1809 e 19 de Dezembro de 1810 (45 números), e foi editado na Impressão Régia.             

A talhe de foice, listamos alguns dos OUTROS PERIÓDICOS OU PUBLICAÇÕES que são indicados neste Livro, realçando a negrito a palavra ou palavras com que são referidos na obra:
- O Investigador Português em Inglaterra, fundado pelo médico Bernardo José de Abrantes e Castro e impresso em Londres de Junho de 1811 a Fevereiro de 1819.
- O Desaprovador, de José Agostinho de Macedo, com 25 números e um Suplemento saídos nos anos de 1818-1819.
- Anais das Ciências, das Artes e das Letras, direção de José Diogo Mascarenhas Neto, impresso em Paris por A. Bobée, anos de 1818-1822.
- O Punhal dos Corcundas: Periódico de Frei Fortunato de S. Boaventura (Impressão Régia, Lisboa), que conheceu 33 números e terminou em 1824.
- A Estrella Lusitana, lançamento a 5 de Janeiro de 1828, impressão de Eugénio Augusto, Lisboa.
- A Trombeta Final: folha religiosa, política e literária, ativo entre 4 de Setembro de 1827 e 8 de Maio de 1832; publicado em Lisboa na Imprensa de Viuva Neves & Filhos.
- A Besta Esfolada, do padre José Agostinho de Macedo, publicado entre 1828 e 1829.
- O Mastigóforo - Prospecto de hum Diccionario das Palavras, e Frazes Maçonicas, de Frei Fortunato de S. Boaventura, publicado em Lisboa em 1824.
- A Contra Mina - Periodico Moral, e Politico, por Fr. Fortunato de S. Boaventura, Monge de Alcobaça. Publicado de 2 de Dezembro de 1830 a 29 de Abril de 1832. Lisboa, na Impressão Régia.
- O Defensor dos Jesuitas, por Fr. Fortunato de S. Boaventura, Monge de Alcobaça, Lisboa, na Impressão Régia, 1829.
O Espectador Portuguez. Jornal de Litteratura e de Crítica (Lisboa, Imprensa de Alcobia) foi um periódico fundado e mantido durante dois anos (1816 a 1818) pelo padre José Agostinho de Macedo.
- Telegrapho portuguez, ou gazeta anti-franceza, anos de 1808 e 1809, Imprensa Régia, Lisboa.

*CONFISSÃO DE BONAPARTE:
Confissão de Bonaparte, e a satisfação que toma ao Diabo por não auxiliar os seus exercitos: Dialogo entre Lucifer, Barraz, e Bonaparte, Impressão regia, 1811.

*HISTÓRIA DO GABINETE DE S. CLOUD:
LOPES, Joaquim José Pedro, Historia secreta da Corte e Gabinete de S. Cloud ou de Buonaparte, em huma serie de Cartas escritas durante os mezes de Agosto, Setembro e Outubro de 1805 por hum sujeito residente em Paris a hum Nobre de Londres, Traduzida do Inglez em Portuguez por Joaquim José Pedro Lopes, 2 Tomos, impresso na Oficina de Joaquim Rodrigues d'Andrade, Lisboa, 1810.

Triénio de 1813-1816 (Fls. 5-10 v.)

                Recibo e Despeza das Rendas da Livraria desde o primeiro dia de Maio de 1813 atté 30 de Abril de 1814, Sendo D. Abbade Geral e Esmoler Mor o N. Illmo. Rmo. Snr. Fr. Verissimo Barreto, e Bibliothecario Fr. Francisco de Azevedo.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: recebi dos direitos do Casal dos Brincanos; S. Gião; Quifel, Quinta da Aroeira em Torres Vedras; Quinta do Valbom.
                FOROS: Alfeizerão (recebi do foro do moinho de João Simões); Vimeiro (do moinho da viúva do capitão António Duarte e do moinho da viúva de António Duarte do ano de 1812); Mata da Torre (foro do moinho de João Francisco), Baixinhos* (dízimo de Domingos de Abreu); Porto de Mouro* (dízimo de José Henriques); S. Martinho (dízimo da viúva do Capitão João Tavares) Turquel (dº da viúva de Domingos Ribeiro Salvado, e recebi mais que paga a dita viúva), Vale da Palha* (recº. da dita).
                FEIRAS: Alfeizerão* (recebido da dita Feira, 1$100); Benedita (recebi do terrado da dita feira); Aljubarrota (recebi da dita feira).
                PROPINAS DAS RENDAS ABATIDA A 1ª PARTE: Alcobaça (recº. do rendeiro da dita renda); Alfeizerão; Aljubarrota, Alvorninha; Santa Catarina; Relego da Cela; Tulha da Cela (r. da dita renda); Évora; Famalicão; Julgado; Dízimo (recebido do dito pela pipa de vinho); Dízimo (Recebi do dito pela quinta de trigo); Maiorga; Pederneira; Santarém; Salir de Matos (recebi do dízimo); Turquel e Valado.
                Pelo que respeita aos Direitos da Quinta de D. Elias*, aos da Quinta do Outeiro, Cerradas d’Aguaceiras, terras da Castanheira, foros da Maiorga, e à Propina de duas Pipas de Vinho que o rendeiro de Alcobaça pagou na administração da Maiorga, só tenho recebido do P. Fr. José Mexia a quem esta cobrança está incumbida a quantia de 96$000.
                Recebi a conta de 300$000 que deve Fernando José Varela.
                Não se recebeu a Renda dos moinhos da Castanheira por estarem arruinados, nem do Armazém de S. Martinho por não haver quem o arrendasse, não se cobrou o foro do Moinho do Arieiro, nem um foro que se deve em Turquel por que até agora não se tem feito possível.

Despesa
                Despendi em vidros e caixões [caixilhos) para eles; em novo imposto; óleo, cré, tachas [«taxas], pontas de cravo, jornas de oficiais e outras coisas precisas para o conserto das vidraças da Livraria, o que tudo consta do rol do P. M: das obras. Despendi em livros novos que se compraram; em os ditos [livros] velhos que se consertaram e encadernaram; em madeira, greda e ferragem para as mesas pequenas, e na jorna [«em o jornal»] dos oficiais que consertaram as ditas; despendi no ordenado de João Alberto [contínuo da Livraria]; e em papel e no conserto de uma chave.

                Recibo e Despesa da Renda da Livraria do Real Mosteiro de Alcobaça que teve seu princípio em Maio do ano de 1814 e finda no último dia de Abril de 1815.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: de S. Gião; Quifel; Brincanos; Quinta de D. Elias e foros da mesma; do Outeiro, foros da mesma e Aguaceiras; da Castanheira; da Canoeira em Torres Vedras; dos Armazéns de S. Martinho; do Padre Fr. Caetano de Melo.
                FOROS: Recebido de Alfeizerão; do Vimeiro; do Gaio; Mata da Torre; Baixinhos; Porto de Mouro; S. Martinho; de Turquel pelos foros da viúva de Domingos Ribeiro, e pelo foro de Francisco Mateus, e do dito pelo foro que ficou a dever em 1813, do Arieiro.
                FEIRAS: recebido das Feiras
                PROPINAS: Recebido de Alcobaça, recº. da dita pelo vinho; de Alfeizerão; Aljubarrota; Alvorninha; Santa Catarina; Relego da Cela; Tulha da Cela; Maiorga; Évora; Famalicão; do Julgado, pelo vinho do dito; pelo trigo; da Pederneira; Santarém; Salir de Matos; Turquel e Valado.

Despesa
                Despendido no Concerto dos Moinhos da Castanheira e cultivo das terras adjuntas; despendido em apanhar, secar e conduzir para a Maiorga o milho e feijão que produziram as ditas terras; no pranchão para o conserto das mesas grandes da Livraria, e no seu transporte; nos jornais [jornas] dos carpinteiros que concertaram as mesas; em pregos, parafusos, chapas, grude, e mais aviamentos para as ditas; nos jornais dos homens que andarão raspando as estantes; em seis arrobas de cré, e anil, e seu transporte; em Livros novos, e seu transporte; em consertos de livros; em dois tinteiros de metal amarelo; na assinatura do Reportório das Leis; em vasos para a tinta, vassouras, brochas e outras coisas precisas; em papel para escrever; e no ordenado de João Alberto.

Resumo e despesa de 1 de Maio de 1815 ao último de Abril de 1816

Recibo
                QUINTAS: de S. Gião, mais o arrendamento; Quifel; Brincanos; de D. Elias e foros a ela anexos; Outeiro com os seus foros e cerrada das aguaceiras; Castanheira; da Canoeira, em Torres Vedras; do Pe. Frei Caetano de Melo.
                FOROS: de Alfeizerão; Gaio; Baixinhos; Porto de Mouro; Turquel (viúva de Domingos Ribeiro); de Francisco Mateus, do Arieiro.
                PROPINAS: de Alcobaça, da renda desta pelo vinho; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Santa Catarina, Relego da Cela; Tulha da Cela; da Maiorga; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita pelo vinho, da dita pelo trigo; da Pederneira; de Santarém; Salir de Matos, Turquel e Valado.
                Neste ano, assim como nos passados, não se arrendaram os moinhos da Castanheira, nem o armazém de S. Martinho. Não se cobrou o foro do Vimeiro, de S. Martinho, de Mata da Torre, do Arieiro, que se ficou devendo do ano de 1813. E Joaquim Alves, da Vestiaria, não pagou ainda os cem mil reis que resta de seu arrendamento dos Direitos da Quinta de S. Gião.

Despesa
                Nos livros novos que se compraram em Coimbra e em Lisboa; dº. em livros avulsos para inteirar algumas das obras truncadas; no seguro do dinheiro para eles, seu transporte e convites; na assinatura da Gazeta em todos os três anos; em pagar os foros da Canoeira em Torres Vedras, que eu tinha recebido, e o nosso Ilustríssimo mandou entregar ao Procurador dos ditos; no ordenado de João Alberto; num espanador grande; em papel, tinta e conserto de uma chave; na assinatura dos Correios Brasilienses, dos de Londres, em todo o triénio.

COMENTÁRIO:
*FEIRA DE ALFEIZERÃO: Em 1758, na Memória Paroquial de Alfeizerão, escreveu o pároco D. Manuel Romão: 

No dia quinze de Janeiro em o Rocio da Ermida de Santo Amaro há feira grande de dous diaz, mas naõ taõ franca que os Rellegiozoz de Santa Maria de Alcobaça deixem de cobrar terrado pello preço que lhe parece, sendo drecta esta feira com provizaõ Regia para ser o terrado para a Igreja do Santo que naõ tem fabrica. 

(DGA/TT, Memórias paroquiais, vol. 2, nº 53, p. 465 a 472. Servimo-nos da transcrição realizada por Carlos Casimiro de Almeida).

Triénio de 1816-1819 (Fls. 11-16 v.)

                Recibo e despeza das rendas da livraria de 1 de Maio de 1816 ao último de Abril de 1817, sendo Abade e esmoler-mor Fr. Joze de Mesquita e Bibliotecário Fr. Jozé do Amaral.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: Quinta de S. Gião; Canoeira em Torres Vedras; de D. Elias e foros anexos; do Outeiro com foros anexos e cerrada das aguaceiras; dos Brincanos; Quifel; Valbom; terras da Castanheira.
                FOROS: Alfeizerão; Porto de Mouro; Gaio; Baixinhos; Turquel, da viúva de Domingos Ribeiro; Turquel, de Francisco Mateus; Arieiro; Mata da Torre; de S. Martinho.
                FEIRAS: Recebido das ditas
                PROPINAS: Recebido da renda de Alcobaça; da renda de Alcobaça por duas pipas de vinho; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Relego da Cela; Tulha da Cela; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita por 1 pipa de vinho, da dita por 60 alqueires de trigo; da Maiorga; Pederneira; Santa Catarina; Santarém; Salir de Matos; Turquel, e Valado.
                Neste ano não se arrendou o Armazém de S. Martinho nem o moinho da Castanheira que precisa de conserto. João Francisco, da Mata da Torre, tem satisfeito o foro até ao presente ano por recibos que apresentou, e do ano de 1815 foi passado pelo celeireiro-mor. Manuel Delgado deve o foro de 1813 de um moinho que tem no Arieiro. A viúva do capitão João Tavares de S. Martinho deve o foro de 1816. Os herdeiros de António Duarte do Vimeiro devem apenas o foro dos anos de 1815 e 1816 de 6 al. [alqueires] de trigo de cada ano.

Despesa
                Despendi em livros que comprei; no Jornal de Coimbra desde o n.º 17 até 48, incluso; em livros que mandei encadernar; na impressão da obra de Me. Robalo [Manuel?]; na subscrição às obras inéditas de Duarte Ribeiro de Macedo *; em Gazetas de Lisboa e 2 semestres do Espectador; num sinete para marcar os livros; em 3 resmas de papel; numa garrafa, tinta, areia, penas e vassoura; em 5 medalhas, 4 moedas de ouro d’El rei D. Manuel e várias outras de prata e cobre que eram do N. Ilmo. Sr. Bernardo de Vasconcelos; no feitio de uma banca e ferragens para ela; em 18 cadeiras de palhinha; em conduções; no ordenado de João Alberto, em que dei mais ao João Alberto com licença do N.º Ilustríssimo.

                Recibo e Despesa das rendas da Livraria que principiou em 1 de Maio de 1817 e findou no último dia de Abril de 1818.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: quinta de S. Gião, e da dita mais um semestre que devia; da Caneira Velha em Torres Vedras; de D. Elias e foros anexos; do Outeiro com foros anexos e Cerrada das aguaceiras; do Casal dos Brincanos; Quinta do Quifel; Qª do Valbom; terras da Castanheira.
                FOROS: Alfeizerão; Porto de Mouro; Gaio; Baixinhos; Turquel da viúva de Domingos Ribeiro;Turquel de Francisco Mateus; Arieiro; Mata da Torre; da Quinta de S. Martinho e da dita o foro do ano de 1816.
                FEIRAS: das ditas
                PROPINAS: da renda de Alcobaça, e da renda de Alcobaça por duas pipas de vinho; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Relego da Cela; Tulha da Cela; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita por 1 pipa de vinho, mais da dita por 60 al. de trigo; da Maiorga; Pederneira; Santa Catarina; Santarém; Salir de Matos; Turquel, e Valado.
                Neste ano não se arrendou o armazém de S. Martinho, nem me foi possível cobrar o foro do Moinho do Arieiro, deve Manuel Delgado, assim como os do Vimeiro; o moinho da Castanheira pelo conserto que se lhe fez se arrendou por 30 alqueires de milho.

Despesa
                Em livros que mandei comprar; em livros que mandei encadernar; na subscrição de várias obras; em Gazetas, Espectador Portuguez e outros periódicos; em tintas para pintar as estantes e carrinhos da livraria; no pintor; em raspar e limpar as estantes;no conserto da porta de um gabinete [gavinete]; no conserto do moinho da Castanheira; numas tesouras, canivete, penas, tinta; em seis esteirãos*; em conduções; no ordenado de João Alberto, e mais ao dito João Alberto.

Recibo e Despesa das rendas da Livraria que principiou no 1º de Maio de 1818 e acabou no último de Abril de 1819

Recibo
                PROPINAS: da renda de Alcobaça; da renda de Alcobaça por duas pipas de vinho; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Relego da Cela; Tulha da Cela; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita por 1 pipa de vinho, mais da dita por 60 al. de trigo; da Maiorga; Pederneira; Santa Catarina; Santarém; Salir de Matos; Turquel e Valado.
                DÍVIDAS: Joaquim Alves deve o último semestre do seu arrendamento da Quinta de S. Gião (100$00); João Duarte do Vimeiro deve o foro de uma azenha de 6 alqueires de trigo do ano de 1818. Joaquim Duarte, genro do dito deve o foro da mesma azenha do ano de 1816. Joaquim Ramalho, que está agora de posse da dita azenha deve do ano de 1815 2$200. Manuel Delgado deve o foro de um moinho do anos de 1813 e 1818. Francisco Mateus de Turquel deve o foro de 6 alqueires de milho e um frango do ano de 1818. Fernando José Varela que a folhas 6 acho devedor de 252$00, confessa ter pago esta dívida, e não acho documento algum por que se possa obrigar.
                DIREITOS DAS QUINTAS: Quinta de S. Gião; de D. Elias; do Outeiro e aguaceiras; da Canoeira Velha em Torres Vedras; do Casal dos Brincanos; Qª do Quifel; Qª do Valbom; terras da Castanheira; do Moinho da Castanheira; do Armazém de S. Martinho.
                FOROS: recebido de Alfeizerão; Gaio; Baixinhos; de Turquel, os foros de Josefa Maria (viúva); dos Lusianos [sic]; do Vimeiro de João Duarte do ano de 1817; do Vimeiro de Joaquim Ramalho à conta do ano de 1815; de S. Martinho da viúva do capitão João Tavares.
                FEIRAS: recebido das ditas

Despesa
                Despendi em livros que comprei; em Gazetas de alguns anos que faltavam e na encadernação das que havia; em encadernar e consertar alguns livros; na assinatura da Gazeta de todo o ano de 1819; na assinatura do Investigador até Janeiro de 1819, incluso; na assinatura dos Correios de Londres dos anos de 1816, 1817 e 1818; na assinatura do Espectador e do Desaprovador; na subscrição dos Anais de Ciências e Artes; na impressão das pautas para o Capítulo; numa resma de papel; em conduções de livros, Gazetas e papel; no conserto do Armazém de S. Martinho; no Amanuense do Índice Geral da Livraria; em tinta, penas e areia, em panos de algodão para limpar livros e bancas; no ordenado de João Alberto, mais com o dito João Alberto pelo trabalho que tem tido.

COMENTÁRIO
*BAIXINHOS, *PORTO DE MOURO, *VALE DA PALHA: Baixinhos é um lugar da freguesia (antes, couto) de Alvorninha. Porto de Mouro (hoje o topónimo é Mata de Porto de Mouro) na freguesia de Santa Catarina; e Vale da Palha é um lugar da freguesia de Alfeizerão, a sudeste da Macalhona. Outros topónimos são também, de certa forma, evidentes, caso de VALBOM na freguesia do Bárrio («Quinta do Valbom» em CARDOSO, p. 174) ou CASTANHEIRA  de Cós. Quando se escreve que se colheu o milho e o feijão das terras da Castanheira (fl. 7 v.), ele é conduzido depois de seco para a vila (próxima) de Maiorga.
Sobre a Quinta do OUTEIRO, o terreno é menos seguro porque é um topónimo frequente, ainda que exista um Outeiro na Benedita, e o padre Luís Cardoso nos indique um Casal do Outeiro como termo de Alcobaça.
                (CARDOSO, Luís, Diccionario geografico, ou noticia historica de todas as cidades, villas, lugares, e aldeas, rios,         ribeiras, e serras dos Reynos de Portugal, e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ,      assim antigas, como modernas, Tomo I, impresso na Regia Officina Sylviana, e Academia Real, Lisboa, 1747-1751)

* QUINTA DE D. ELIAS: A Ponte de D. Elias serve de “marcador” toponímico para os terrenos dessa Quinta, que nas palavras do Dicionário Geográfico do pe. Luís Cardoso, é mesmo referida por Quinta da Ponte de D. Elias (CARDOSO, op. cit. p. 174).

*DUARTE RIBEIRO DE MACEDO:
CAMINHA, António Lourenço, OBRAS INEDITAS de Duarte Ribeiro de Macedo, Desembargador dos Aggravos da Casa da Supplicação, Cavalleiro Professo da Ordem de Christo, e Concelheiro da Fazenda do Senhor Rei D. Affonso Sexto, por António Lourenço Caminha, Professor Regio de Rhetorica, e Poetica, e Cavalleiro da Real Ordem de Sant-Iago, Lisboa, na Impressão Régia, anno de 1817.

*ESTEIRÃO: «esteirons» = esteira muito grossa de tábuas ou juncos para vários usos (SILVA, António de Morais, Dicionário da Língua Portuguesa, tomo 1, tip. Lacerdina, Lisboa, 1813).

Triénio de 1819-1821 (Fls. 17 v.-23)

                Resumo e Despesa das Rendas da Livraria que principiou em o primeiro de Maio de 1819 e findou em o último de abril de 1820, sendo Abade Geral e Esmoler mor o N. Ilustríssimo e Reverendíssimo Sr. Fr. Manuel de Queirós e Bibliotecário Fr. João de Araújo.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: Quinta de S. Gião, do segundo quartel da mesma quinta do ano de 1818; Canoeira em Torres Vedras; de D. Elias e foros anexos; do Outeiro com foros anexos; dos Brincanos; Quifel; Valbom; terras da Castanheira; do Armazém de S. Martinho
                FOROS: Recebido de Alfeizerão; Porto de Mouro; Gaio; Baixinhos; Turquel da viúva de Domingos Ribeiro; Turquel de Francisco Mateus do ano de 1818; do Arieiro pelo pagamento dos anos de 1813, 1818 e pelo de 1819, ficando ainda a dever o de 1800 (?); Mata da Torre; da Quinta de S. Martinho.
                FEIRAS: Recebido das ditas
                PROPINAS: da renda de Alcobaça; da renda de Alcobaça por duas pipas de vinho; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Relego da Cela; Tulha da Cela; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita por 1 pipa de vinho, da dita por 60 al. de trigo; da Maiorga; Pederneira; Santa Catarina; Santarém; Salir de Matos; Turquel, e Valado.

Despesa
                Despendi em livros que comprei; em periódicos; pelas pagas do Correio Brasiliense pelos anos de 1816, 1817 e 1818; em encadernações; em escrever o Index; em conduções; em o aparo das Pautas para o Capítulo e sal [saltério?]; no correio, papel e tinta; em esteirões; em obras, consertos e gratificações; no ordenado de João Alberto, no que dei mais ao dito com licença do N. Illustr.º

Recibo e despesa das rendas da Livraria de 1 de Maio de 1820 ao último de Abril de 1821, abade Fr. Manuel de Queirós e bibliotecário Fr. João de Araújo.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: Quinta de S. Gião; Canoeira em Torres Vedras; de D. Elias dos direitos e foros a ela anexos; do Outeiro com foros anexos e aguaceiras; da Quinta dos Brincanos com uma dívida antiga; Quifel; Valbom; terras da Castanheira; do Armazém de S. Martinho.
                FOROS: Recebido de Alfeizerão; Porto de Mouro; Gaio, de Turquel, da viúva de Domingos Ribeiro; de Turquel, de Francisco Mateus dos anos de 1812 e 1820; do Arieiro por dívida atrasada e por este ano, e fica a dever 3$800; Mata da Torre; de S. Martinho.
                FEIRAS: Recebido das ditas
                PROPINAS: da renda de Alcobaça; da renda de Alcobaça por duas pipas de vinho mosto; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Relego da Cela; Tulha da Cela; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita por 1 pipa de vinho, da dita por 60 alqueires de trigo; da Maiorga; Santa Catarina; Santarém; Salir de Matos; de Turquel; do Valado.

Recibo e despesa de 1 de Maio de 1821 ao último de Abril de 1822, sendo abade Fr. Manuel de Queirós e Bibliotecário Fr. João de Araújo.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: quinta de S. Gião; do Outeiro e aguaceiras; de D. Elias; do moinho e terras da Castanheira; da Quinta de Valbom.
                FOROS: recebido da Mata da Torre
                PROPINAS: da renda de Alcobaça; da renda de Alcobaça por duas pipas de vinho; de Alfeizerão; de Aljubarrota; Alvorninha; Relego da Cela; Tulha da Cela; Évora; Famalicão; do Julgado, da dita por 1 pipa de vinho, da dita por 60 al. de trigo; da Maiorga; Pederneira; Santa Catarina; Salir de Matos; Turquel.

Despesa
                Despendi na compra de livros; em periódicos; em encadernações; em conduções; em correio, tinta e papel; num espanador [«espanejador]; no que paguei ao Procurador [?] do Mosteiro pelo foro da Quinta da Canoeira em Torres Vedras; no ordenado de João Alberto e do mais que dei ao dito com licença do N. Ilustrº.; no arranjo de cinco mapas geográficos grandes; despendi em que escreveu o Index de vários papéis que se achavam avulsos.

                DÍVIDAS QUE FICAM: o foro de Alfeizerão; do Vimeiro; do Gaio; do Arieiro; dos Baixinhos; dos Lusianos; os direitos e foros da Quinta da Canoeira em Torres Vedras foram arrendados por 60 mil cada ano e falta este ano; o foro da Quinta de S. Martinho; os de Turquel; a propina das pipas de vinho do Julgado; os direitos do Casal dos Brincanos; os direitos da Quinta do Quifel; a Pitança [receita ordinária em dinheiro] da Renda de Santarém; a propina da renda do Valado.

Triénio de 1822-1824 (Fls. 23 v. – 28 v.)

Recibo e despesa da Livraria do Mosteiro de Alcobaça, sendo Abade Fr. António da Silveira e Bibliotecário Fr. Vicente de Jesus Cogominho, que principiou a 1 de Maio de 1822, até ao fim de Abril de 1823.
                
DÍVIDAS QUE FICARAM DO TRÉNIO PASSADO:
                Santarém: recebi do P. Fr. Luís Pimenta da propina vencida pelo Natal de 1821.
                Casal dos Brincanos: recebi de Maximina Teresa Ferreira Fradinha, cunhada do boticário Pinto, senhoria útil deste Prazo, por mão do Padre Tulheiro Fr. Manuel da Conceição, que lhe adiantou este direito e outras vezes, ainda em vida do P. João Fradinho. Vencido em 1821.
                Quinta do Quifel como da Cela Velha = Satadas  – Recebido por mão do sobredito Padre Tulheiro, de Antónia Ferreira, enfiteuta, por morte e testamento de sua tia Rosa Satada, a qual vive com suas irmãs e sobrinhos na mesma Quinta, de foro vencido em 1821 – são direitos pelo foral.
                Julgado – Recebido da pipa de vinho da propina vencida em 1821, que pagou Fr. Luís das Dores pelo preço de 12$000.
                Milheiradas (a azenha é banal) – Recebido de Maria Josefa, viúva de Domingos Ribeiro, do foro vencido em 1821. 6 alqueires de trigo = a 58 = e um frango = 80. Total 3$560. Esta azenha ficou banal.
                Lagoa de Turquel, moinho de vento chamado De Cima. item próprio do mosteiro – Recebi de Arsénio, filho da sobredita viúva Maria Josefa, de foro vencido em 1821, 6 alqueires de milho a 480 e um frango a 80. Total: 2$960.
                Quinta de Dom Elias – recebido por convenção amigável com os enfiteutas José Joaquim Alberto por cabeça de sua mulher D. Bibiana Domicília Chaves, moradores na Rua Augusta em Lisboa, por virtude da Lei da Reforma dos Forais, e por mão do seu feitor Francisco da Silva e Couto, morador nesta vila.
                Quinta da Castanheira, e Moinho – Recebi de João Francisco, de metade da renda vencida no S. Miguel de 1822, 30 alqueires de milho, a 400. Total 12$000
                Quinta de S. Gião, Recebi dos direitos desta quinta segundo a reforma dos forais, de Francisco Lemos Bettencourt, rendeiro do marquês de Olhão D. P., pelo Procurador do dito rendeiro Manuel Jacinto, vencidos em 1822.

Foros e rendas
                Lagoa de Turquel, do moinho de vento de cima. Próprio do mosteiro – Recebi de Arsénio, filho da viúva Maria Josefa, três alqueires de milho e um frango vencido em 1822, e lhe quitei os outros três alqueires por ter levado por intrº [intermédio?] a sua dita mãe os 6 alqueires de trigo de foro pela azenha das Milheiradas, e pela Lei dos Banais terminava pelo S. João de 1822, época em que a dita lei principiou a ser executada. Os três alqueires que cobrei foram a 780, e o frango a 80.
                Arieiro – Recebi de Manuel Delgado Miliciano por mão do Fr. Luís das Dores, à conta do que está devendo dos anos atrasados - 3$000
                Armazém do Inferno, S. Martinho – recebi de renda, aos meses, por mão de José Trindade.
                Brincanos – Recebi de Maximino Teresa Ferreira Fradinha, cunhada do Pinto – só o dízimo do trigo (e não pagou direitos), 3 alqueires de trigo a 600.

Propinas das rendas, Natal de 1822
                Alfeizerão – Recebi de Fr. João Serra, administrador da renda vencida, pelo Natal de 1822
                Alvorninha – Recebi do mesmo Fr. João, a propina vencida de 1822
                Santa Catarina – Recebi da dízima da propina do mesmo Fr. João.
                Évora – Recebi de Fr. Luís das Dores a propina desta renda.
                Julgado – Recebi do dito Fr. Luís a propina desta renda. Deve o meio de trigo e pipa de vinho.
                Famalicão – Recebi de Fr. Bento de Assunção a propina desta renda, ano de 1822.
                Pederneira – Recebi do mesmo Fr. Bento da propina.
                Turquel – Recebi de Fr. António da Conceição a propina.
                FEIRAS: Recebi da feira de Alfeizerão, paga pelo Serra [Fr. João Serra].
                FICAM A DEVER: Alcobaça, Aljubarrota, Relego da Cela, Tulha (da Cela), Maiorga, Santarém, Salir de Matos, Valado, e desta deve o Carvalho a de 1821 em que foi rendeiro.
                REBATE: recebi de prémio do rebate de papel-moeda, que se abateu no pagamento de alguns periódicos que se pagaram na forma da Lei ou se assinaram na dita forma.

Despesa
                COMPRA DE LIVROS: despendi nos espólios, nas lojas (loges) de Lisboa.
                PERIÓDICOS E OUTRAS ASSINATURAS: Diários das Cortes (na 5ª assinatura em Junho de 1822, na 6ª assinatura de 1822); Cortes Ordinárias de 1823 (na 1ª assinatura das Cortes Ordinárias de 1823, e na sua prolongação pelo mês de Março); Diário do Governo e Gazeta Universal (despendi nos últimos semestres destes dois periódicos que findam no ano de 1822; na assinatura do D. G. do 2º semestre de 1823, no da Gazeta Universal, interrompida pelo extermínio do redator Lopes, na assinatura da nova G. L. até ao fim deste ano); Correio de Londres (despendi na assinatura que fez o P. P. N. Geral de Junho de 1822 até Junho de 1823); Dicionário Histórico-Geográfico (na assinatura desta obra na loge/loja de Leão Marques); Jornal de Coimbra e Arquivos da Religião Cristã (assinatura deste periódico por um ano, que principia em Julho de 1823); O Punhal dos Corcundas (despendi rol do Pe. Procurador Geral ao Pe. Celeireiro).
                ENCADERNAÇÕES: Na encadernação dos 3 volumes de fólio O Diário das Cortes Constituintes, Tomos 5, 6, 7, a 600 rs. cada um; em 2 volumes do Diário do Governo do ano de 1822, folio; no volume de fólio da Gazeta Universal de 1822; no volume de fólio do Correio de Londres, de 1822.
                OBRAS E ORDENADOS: despendi no Armazém do Inferno que me deu em despesa o José Trindade do conserto de uma porta, e uma grade; em meia resma de papel almaço, e 550 dm galha, goma, capas rosa para cintas; do ordenado de João Alberto de Saldanha*, contínuo da Livraria, e propinas nas quatro Festas do Ano, a 2:900 por mês e a 1:600 pelas Festas.
                PREPARO PARA A OFICINA ONDE DEVE TRABALHAR O ENCADERNADOR: despendido na evacuação dos utensílios pertencentes à oficina das obras que se guardaram no armazém das ditas obras, e fatura do mapa dos mesmos utensílios que se achavam no dito lugar que pedi ao Nº. Ilustríssimo para trabalhar o encadernador, o qual mapa entreguei ao P. Prior por ___ Pe. Me. d’Obras; na fatura de uma imprensa nova e conserto de outra velha; condução de duas pedras grandes para o Oficial bater os cadernos que serão do claustro conduzidas para a Oficina; na fatura de um banquinho, massa para vidros e corte deles, aluguer de diamante do Matias, peças de fundição para a dita oficina; três classes de letras de impressão, 6 abecedários cada classe, para fólio, 4os. e 8os e seus competentes espaços; em 9 letras de algarismo, fundidas de latão, com seus cabos de pau; no composidor (sic) de latão em que se juntam as letras; numa caixa de 3 divisões para conter as 3 classes de alfabetos.
                CABEDAL E AVIAMENTOS: carneiras (despendi em 13 carneiras grandes, em 6 mais pequenas, e em mais 6 destas); papel (em umas mãos de papel florete; em 5 folhas de papelão a 70 reis e em 7 fino a 40; despendido em 24 folhas de papel pintado a 20 rs. cada uma; despendi no carreto do almocreve.
                MIUDEZAS – despendi num alguidar, uma quarta, uma púcara, um fogareiro, 12 novelinhos de algodão de cores, linhas, 12 posseiros de carvão.

MIMOS E FRETES
                MIMO – despendi em duas canastras de maçã Larisa para o Correspondente; as canastras a 100 cada uma e frete.
                FRETES E CARTAS DO CORRESPONDENTE – despendi em vários fretes de pacotes de livros ao António dos Foros, uma do N.S. e as mais ao Florentino; e em 140 de porte das cartas do correspondente pelo correio e na feitura [«factura»] de um caixote em que vieram os livros.

ANO QUE FINDOU EM ABRIL DE 1824

Recibo
                Recebi dos direitos da Quinta de S. Gião, da quinta de Navias (recebi desta quinta décimos e direitos livres da terça); S. Martinho (recebi do aluguer das casas), Castanheira (recebi da renda dos moinhos e terras), Valbom (recebi dos dízimos de 1822 e 1823), Mata da Torre (recebi dos foros de dois anos, 1822 e 1823), S. Martinho (recebi do foro de 1821 e 1822), S. Martinho (recebi da renda do Armazém), Brincanos (recebi trigo que entrava nas contas do ano que vem), Alfeizerão (recebi da propina de 1823), Alvorninha (r. propina de 1823), Relego da Cela (r. da propina do relego de 1822), Évora (r. da propina de 1823), Julgado (recebi da propina de trigo e vinho de 1822 e 1823), Pederneira (propina de 1823), Salir de Matos (propina de 1822), Santarém (propinas de 1822 e 1823), Turquel (propina de 1823) e Valado (propinas de 1821, 1822, e 1823).

DESPESA DO ANO DE 1824 ATÉ ABRIL
                Em livros e folhetos, encadernações, em novos alfabetos de letras, folhas de papel de várias cores, dois livros d’ouro, fitas e tintas; no ordenado do contínuo e propina; papel, grude, portes (despendi nos ditos correio e tinta) e fretes, selo (despendi em um novo e tintas e escova), linhas.
Recibo do terceiro ano (1824, até 30 de Abril de 1825)
                PROPINAS (recebi de p. ditas das rendas).
                FOROS: recibo dos ditos da Ponte de Navias, da quinta de S. Gião; da quinta dos Pinas da Maiorga de sessenta alqueires de milho à conta do que devem, e vendi por 33$000; direitos da quinta e moinhos da Castanheira, sessenta alqueires de milho que vendi por 31$200; direitos da Cela Velha de vinho (3$540) e de géneros que vendi por 19$300, e ainda deve o que sabe o Padre Tulheiro da Cela; ditas rendas de 3 alqueires de trigo e 6 de vinho; direitos do prazo de Torres Vedras; recebi da renda do Armazém de S. Martinho.

DESPESA
                Nos livros, folhetos e Gazetas; numa escada para as casas de S. Martinho; convites (despendi em que ___ para o livreiro de Lisboa e carretos); em 36 carneiras; em miudezas; no ordenado do contínuo; Bolsaria da Ordem (despendi em direitos que por despacho da Fazenda se deu para a Bolsaria do Mosteiro para lhes ser incorporado com os direitos do Mosteiro…5.600$000),
                Obra do Dormitório – despendi nas ditas em compor o dito dormitório junto à Livraria, dois vãos e gabinete e seguinte: Madeira do pinhal; pregos, pedreiros e serventes, lajes, carpinteiro e cerragem (sic).

Comentário
*JOÃO ALBERTO DE SALDANHA – contínuo da Livraria, é referido várias vezes neste Livro. Inicialmente recebia um pagamento suplementar ao seu ordenado com a anuência do Abade, para mais tarde esse pagamento se converter numa propina ou gratificação pelas quatro festas principais do ano. Quando ele falece, a 2 de Abril de 1829, as diligências do Mosteiro para encontrar um substituto (um «criado» da Livraria) revela-nos que o contínuo e os seus sucessores deviam dormir num dos gabinetes anexos à Livraria. A obra do «dormitório junto à Livraria» é mencionada no ano de 1824.

Triénio de 1825-1828 (Fls. 29-36)

Resumo e despesa das rendas da Livraria neste ano que principiou com o primeiro de maio de 1825 e findou no último de abril de 1826, sendo o D. Abade D. Frei António Tudela, e Bibliotecário…. [ na falha de Bibliotecário-mor, diz-se mais adiante, nas contas do primeiro ano, que fez as suas vezes Fr. Fernando Pimentel, que fora Abade do Mosteiro no triénio 1810-1812].

RECIBOS
                DIREITOS DAS QUINTAS: Da quinta do Outeiro e foros a ela anexos e cerrada das aguaceiras; da Canoeira em Torres Vedras, em papel (33$600) que rebatido a 12 ½ como então corria soma 29$773; da quinta de S. Gião; da Quinta do Outeiro de alguns direitos e foros; dos Brincanos dos direitos do vinho; da quinta de D. Elias; de duas pipas de vinho de renda de Alcobaça; do Armazém de S. Martinho; do Valbom.
                FOROS: de Turquel de Arsénio Ribeiro; de Turquel de Francisco Mateus os foros de alguns anos de um moinho; de S. Martinho.
                FEIRAS – recebido da feira da Benedita.
                PROPINAS: de Famalicão, Valado, Salir de Matos, Aljubarrota, Alcobaça, Évora, Julgado, Relego da Cela, Tulha da Cela, Pederneira, Santarém, Maiorga, Alvorninha, Santa Catarina, Alfeizerão.
                DESPESA: em livros; numa propina que o N. Ilustríssimo mandou dar ao contínuo da Livraria no princípio do triénio; no ordenado do mesmo a 2$400 e na propina das quatro festas do ano a 1$600 cada uma; na condução dos livros; na impressão das Provisões; com o copiador da obra do Me. Caldeira [Mestre Caldeira?] no Tratado dos Afetos [CALDEIRA, Frei José, Tratado dos Afetos e Costumes Oratorios, por Frei Joze Caldeira, monge de Alcobaça e M. jubilado na Sagrada Theologia, Typografia Maigrense, Lisboa, 1825]; na encadernação de livros, em reparos da livraria; em papel, tinta, e numa vassoura de cabelo.

Recibo e despesa das rendas da Livraria deste Real Mosteiro de Alcobaça deste segundo ano que principiou a 1 de Maio de 1826 ao último dia de Abril de 1827, sendo Abade Geral e Esmoler-mor o Nosso Ilustríssimo e Reverendíssimo D. Frei António Tudela.

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: Quinta do outeiro; da Canoeira em Torres Vedras; de S. Gião; da Quinta do Casal dos Brincanos; da Quinta de D. Elias; do Armazém de S. Martinho; Quinta do Valbom, do Quifel; do moinho e Quinta da Castanheira.
                FOROS – recebi de Manuel Lopes do Acipreste, de um moinho no termo de Évora; de Francisco Janeiro de um moinho na Mata da Torre de 8 alqueires de milho que vendi por 10$800.
                FEIRAS – recebi da feira da Benedita.
                PROPINAS: recebi da renda de Salir de Matos, da Tulha da Cela, do Relego da Cela, de Santa Catarina, Alvorninha, Turquel, Pederneira, Alfeizerão, Aljubarrota, Alcobaça, Maiorga, Santarém, Évora, Famalicão, Valado, Julgado,

Despesa
                S S. P. P. [Santos Padres?] - (Despendi nas obras de S. João Crisóstomo e nas de Santo Irineu), livros (em livros que se compraram em Coimbra e em Lisboa, e de alguns espólios); conduções (na condução dos livros que vieram de Lisboa e de Coimbra e também na condução e caixas para os M. SS. [manuscritos] que o P. M. D. Fr. Fortunato tinha mandado ir para Coimbra e agora voltaram à Livraria), Gazetas (na subscrição da Gazeta de Lisboa do ano de 1826 na folhinha, e Diário das Cortes até 1827); amanuense (despendi com o dito e em papel e tinta para se escrever e aprontar para ir para a Impressão o livro intitulado Historia Chronologica e Crítica do Real Mosteiro de Alcobaça para servir de continuação à Alcobaça Ilustrada do Cronista-mor Fr. Manuel dos Santos, segundo o rol que me deu o R. P. M. Doutor Frei Fortunato, seu autor); Impressão (despendi na Impressão da dita Obra segundo mandou dizer o P. M. Procurador Geral de Lisboa e consta do seu recibo…213$000); cadeias (despendi em duas pequenas cadeias que faltavam no tinteiro que deu para a Livraria e o dito R. M. o Exmo. Sr. Tomas António Vila Nova Portugal); Medalha (em uma antiga e de prata); reparos (despendi nos ditos reparos dos livros M. SS., encadernar um de novo e outros remendados, e encadernar outros livros novos e antigos da livraria); parafusos (despendi em dois parafusos novos para uma das imprensas da livraria) ordenados (no ordenado do contínuo da Livraria, João Alberto de Magalhães a 2$00 (?) por mês e nas propinas das quatro festas do ano a 1600 cada uma); demandas (nas demandas da Livraria) papel (em duas resmas de papel que comprou o P. M. Fr. Fortunado para a obra que está a escrever).

Recibo e despesas de 1 de maio de 1827 ao último dia de abril de 1828

Recibo
                DIREITOS DAS QUINTAS: Quinta do Outeiro, da Canoeira em Torres Vedras, Quinta de s. Gião, do casal dos Brincanos, da Quinta de D. Elias, do Valbom, da Quinta do Quifel, da Quinta de S. Martinho, do moinho e Quinta da Castanheira, do armazém de S. Martinho.
                FOROS: Recebi de Arsénio Ribeiro de dois moinhos no termo de Turquel; recebi de Ana Maria de um moinho no termo de Santa Catarina; recebi de Francisco Janeiro de um moinho na Mata da Torre; recebi de Francisco Mateus de um moinho no termo de Turquel.
                PROPINAS: recebi da dízima de Alcobaça, da Maiorga, do Valado, Famalicão, Juncal, Évora, Salir de Matos, Aljubarrota, Santarém, Pederneira, Turquel, Alfeizerão, tulha da Cela, relego da Cela, Alvorninha, Santa Catarina.
                FEIRAS: recebi da feira da Benedita.
                Recebi do Pe. Mr. Procurador Geral de Lisboa dos portes do dinheiro que recebeu para a impressão da obra do abade Frei Fortunato intitulada História Chronologica e Critica da Real Abadia de Alcobaça, e da venda de 25 exemplares da mesma obra.

Despesa
                AMORTIZAÇÃO – amortizou-se com licença de N. Illustrissimo e Reverendíssimo Padre Geral, da Mesa da Fazenda, uma parcela de 400$000 que no fim do triénio passado tirou para gastos da Celeiraria o Padre Celeireiro-mor Fr. Luís Pimenta, do que deixou um escrito feito pela sua própria mão e que eu entreguei na Bolsaria deste Mosteiro. LIVROS (na compra de livros); CONDUÇÕES (na condução de livros que vieram de Lisboa e Coimbra), SEGUROS (d. em segurar no Correio alguns livros que foram para o M. D. Fr. Fortunato para Coimbra), AMANUENSES (despendi em mandar copiar um papel intitulado Estoria do Gabinete de S. D. João 6º*, para ficar na livraria, manuscritas), ABECEDÁRIO (despendi em um dº de letras que contém seis letras ou signos com dois pontos e vírgulas e letras de algarismo que servem para por letreiros nos livros.), GAZETAS E PERIÓDICOS (d. na assinatura da Gazeta de Lisboa para o ano de 1827 e 1828, nas Cartas de F. A. de M. na Estrela, e em outros mais periódicos e papéis que vieram para a Livraria), CARNEIRAS (d. em 5 dúzias de carneiras e mais uma encarnada e outra verde), PAPELÃO (d. em 3 maços de papelão, um do n. 20, outro do n. 25 e outro do n. 30), LAVOR DE OURO (despendi em 3 d’ouro para os letreiros e mais ornatos de livros), COMPOSTURA DE LIVROS (d. na encadernação de 200 volumes de livros dos M. SS. e livros velhos e novos da livraria e em remendar e compor outros), MIUDEZAS (d. em penas, tinta, areia, guita, em dourar a peanha do tinteiro que deu de presente à livraria o Exmo. Senhor António Vila Nova Portugal, e na toalha com que está coberto), MOINHO (d. na compostura do moinho da Castanheira pertencente à Livraria), CAIXA DAS LETRAS (d. em uma dita caixa para estarem as letras de abecedário com que se poem os títulos dos livros e se conserva cada uma delas em separado), ESCADA (d. em uma escada para limpar os óculos da livraria, e uma para a ___); IMPRESSÃO: d. em 85 resmas de papel bom e na mão de obra da impressão do primeiro tomo da Obra que fez o Pe. M. D. Fr. Fortunato de S. Boaventura fez em latim sobre os M. SS. da Livraria de Alcobaça e mais despesas precisas para a dita obra. ORDENADO (d. no dito do Contínuo da Livraria, João Alberto de Saldanha a 2$400 por mês e 1$600 de propina nas quatro festas principais do ano. PROPINAS (d. com o dito Contínuo com licença de N. Ilustríssimo Padre Geral e pelo trabalho que teve em dirigir o livreiro no título dos livros), ESTANTES (d. em mandar fazer as ditas [estantes] pequenas para poderem estar os livros sobre as mesas), ARMAZÉM DE S. MARTINHO (d. em pequenos reparos do dito), DEMANDAS (despendi em as ditas da Livraria).

Triénio de 1818-1830 (Fls. 36 v. – 43 v.)

Recibo e despesa do primeiro de Maio de 1828 ao último de Abril de 1829, sendo o Abade Geral e Esmoler-mor o n. Ilustríssimo e Reverendíssimo P. M. Doutor Sr. Frei José Doutel.

Recibo
                RENDAS: Recebi da renda de Alcobaça, Alvorninha, do Relego da Cela, da Tulha da Cela, de Évora, Famalicão, do Julgado, da Maiorga, da Pederneira, de Salir do Mato, do Valado, Turquel, Santa Catarina, Aljubarrota, de Alfeizerão, e do Armazém do Inferno.
                QUINTAS: Recebi da Quinta de D. Elias, da Quinta de S. Gião, da Quinta do Outeiro, da Quinta do Quifel, do Casal dos Brincanos, da Castanheira.
                FOROS: recebi de um moinho de vento em Alfeizerão, de outro dito na Mata da Torre, de uma azenha em Santa Catarina, de um moinho em Turquel: recebi de sete exemplares da Historia Chronologica do Real Mosteiro de Alcobaça, que se venderam para as Casas da Beira, a 2$000 réis cada um (14$000 réis).

Despesa
                ARMAZÉM DE S. MARTINHO: despendi em compor o dito que se achava danificado, no seguinte:
                Madeiras: d. em vinte e uma vigas de carvalho a seis centos e cinquenta réis cada uma, em três do pinhal do Rei para frixais (frisos?) e portas, e em vinte e seis dúzias de tábuas de sobro a oitocentos reis a dúzia e em trinta e três dúzias das ditas de forro a seiscentos reis a dúzia, e em doze dúzias de ripas a cento e sessenta reis a dúzia.
                Ferro: despendi em vergalhões de ferro para se fazerem os ferrolhos para as traves [«trabes»] que se encabeçaram, pregos para os frixais e barrotes, e no seu feitio e de toda a mais ferragem precisa para o dito Armazém e em prego de galiota e meia galiota, e tachas.
                Cal e telha: D. em dois milheiros de telha a quatro mil e quatrocentos réis e em dezoito moios de cal a vinte a novecentos reis e em três barricas para a dita, e em quatro cordas que foram precisas para a obra.
                Pedreiros: despendi em toda a obra de pedreiros, que vem a ser: arrancar pedra e em dezoito degraus de pedra para a nova escada que se fez, na sua condução, e em condução de areia e no mais que foi preciso conduzir para a dita obra e em toda a mais obra de pedreiros e no que se deu de empreitada, e em cinquenta tijoleiros.
                Carpinteiros – d. em cento e noventa e um que fizeram toda a obra de carpintaria e a telharam a trezentos e cinquenta reis por dia, e vinho.
                Trabalhadores – d. em oitenta e um trabalhadores que amassaram a cal e juntaram a areia, desentulharam um bocado do Armazém, e deram serventia aos carpinteiros, e mulheres que lavaram e esfregaram o Armazém a duzentos reis por dia e vinho, e as mulheres a cem réis por dia.
                Vinho – despendi em o dito para os oficiais e trabalhadores segundo o que se juntou …. 8$330
                Inspetor da Obra – despendi com José Trindade que inspecionou a obra e a dirigiu em todo o tempo que durou, que fora de sessenta dias a trezentos e vinte reis por dia.

                IMPRESSÃO (despendi no que tenho dado ao P. M. Fr. Fortunato de S. Boaventura para a dita de doze Inéditos Portugueses da nossa Livraria, M.S.), Condução das obras dos M. S. (despendido na condução de quatro cargas das obras que mandei buscar a Coimbra e na condução de três cargas dos ditos que daqui foram para Lisboa, e no feitio de seus caixões em que foram); Brochura (d. em mandar brochar duzentos e vinte e sete exemplares das ditas obras a cem réis cada uma); Contínuo (d. em pagar ao dito o seu ordenado a dois mil e quatro centos reis e mil e seus centos reis de pitança em cada uma das quatro festas do ano); Mapas (d. em comprar o mapa grande de Lopes*, assente em pano e com uma caixa*); Compra de livros (d. na compra de alguns livros de estimação, e por isto mais caros, como a nova Arte da Diplomacia em seis volumes de quarto grande e com estampas a quatro mil e oitocentos cada volume; no Dicionário dos Anónimos em quatro volumes a três mil reis cada um; na História Literária de França em doze volumes a mil e quinhentos cada um, em dois volumes, continuação da dita História a quatro mil e oitocentos réis cada um; na Colleção Ecleziastica Hespanhola em catorze volumes - quinze mil e duzentos reis, mais em dezanove livros que se compraram em Lisboa em segunda mão, nas Cartas Inéditas do Pe. António Vieira, e outros livros que se compraram de espólios); conduções (d. na condução dos ditos livros e outras coisas que vieram para a Livraria); compostura de livros (d. em mandar encadernar alguns livros de novo, e compor outros velhos); seguro (d. em mandar segurar para Coimbra uns livros que mandou pedir o Pe. Fr. Fortunato de S. Boaventura); amanuense (d. em mandar copiar por boa letra a carta do Canios [Carta de Ascânio, bispo de Tarragona, dirigida ao Papa Hilário?], e outros papéis interessantes que apareceram no espólio do P. M. Fr. Vicente, que estavam em muito má letra e papéis separados); Carneiras (d. em uma carneira vermelha e outra verde); Livro de Ouro (d. em um dito); Reparos (d. em mandar compor a chave do gabinete dos livros proibidos, e pregos para a fechadura); vassoura e pá de limpar (d. em uma vassoura e uma pá); papel e penas (d. no dito para uso da Livraria); folhetos (d. nos ditos que têm saído este ano a provar a legitimidade do rei [?] D. Miguel ao trono português; nos folhetos dos Mártires da Fé; na Besta Esfolada e nos mais que este ano têm saído a favor de Portugal), periódicos (d. na Gazeta de Lisboa deste ano de 1829, na Estrela, e na Trombeta).
  
Recibo e despesa das Rendas da Livraria deste Real Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça de 1 de Maio de 1829 ao último dia de Abril de 1830.

Recibo
                RENDAS: renda de Alcobaça, Alfeizerão, Aljubarrota, Alvorninha, da Tulha da Cela e Relego, de Évora, de Famalicão, do Julgado, da Maiorga, da Pederneira, de Santa Catarina, de Salir de Matos, Turquel, Valado, Castanheira, S. Martinho; de Santarém, três anos.
                FOROS: Recebido de um moinho de vento em Alfeizerão, da feira da Benedita, de uma azenha na Mata da Torre, de uma dita do Porto de Mouros; do prazo da Canoeira em Torres Vedras; de um moinho em Turquel; de uma azenha em Turquel.
                QUINTAS; Recebido da Quinta de D. Elias; da Quinta de S. Gião; da Quinta do Outeiro, foros e direitos; da Quinta de Valbom, de trigo e milho do ano passado.
                OUTRAS RECEITAS: Recebi do P. M. Procurador-Geral de Lisboa, da venda de dois exemplares do Comentario sobre os M. S. à razão de 1000 reis cada um, na forma e reduzindo tudo a notas como mandou dizer o dito Procurador; r. de foros atrasados…

Despesa
                Compra de livros (d. na compra de livros novos, uns que vieram de Lisboa, outros de Coimbra, entrando [nestes] a Colleção dos Theologos de Pavia, e alguns livros que se compraram nos espólios), miudezas (d. em papel, tinta, areia, guita, e outras miudezas), conduções (d. na condução do segundo e terceiro tomo dos Inéditos que vieram de Coimbra, em duas cargas e uma carga em que veio a Colleção dos Theologos de Pavia, e na remessa dos caixões de inéditos que foram para Lisboa e outras mais conduções), João Alberto (d. em pagar a João Alberto [ou ao(s) seu(s) herdeiro(s)] o tempo que tinha vencido, do seu ordenado, e quitanças, quando morreu que foi a 2 de Abril de 1829) cama (despendido na dita para o novo criado, colchão, enxergão, quatro lençóis, dois cobertores e coberta e um travesseiro); ordenado (d. no ordenado do moço da Livraria que entrou a 12 de Março deste presente ano, até ao último de Abril de 1830, que vem a ser, seis meses e dezanove dias à razão de 2$400 cada mês e as duas pitanças de Natal e Páscoa a 1$600 cada uma), Gazetas e Correio do Porto (d. na subscrição da Gazeta de Lisboa para este presente ano - em metal, 10$260 – na subscrição do Correio do Porto por três meses – 5$200 – no seguro do dito dinheiro para o Porto, e folhinha de algibeira – 210), encadernação de livros (d. na encadernação de 39 livros … 13$360), folhetos (d. em folhetos que vem a ser a continuação da Besta Esfolada, do Mastigóforo, da Voz da Religião [do cónego Tavares da Gama], Carta ao Papa, Mártires da Fé, Carta a Cícero, Poema de Nuno Caetano, e outros muitos), lavagem da Livraria, Carneiras (d. em duas dúzias), Livro de Ouro, Brochura (d. na brochura de 332 exemplares do primeiro e segundo Tomo dos Inéditos, de Fr. João Claro, por vários preços), Impressão (d. que recebeu o P. M. Doutor Fr. Fortunato de S. Boaventura para acabar de pagar a impressão do segundo e terceiro tomo dos Inéditos desta Livraria, e pagar as mais despesas anexas à impressão).

Recibo e despesa das rendas de 1 de Maio de 1830 ao último de Abril de 1831, sendo abade Fr. José Doutel.

Recibo
                RENDAS: renda de Alcobaça, de Alvorninha; da Cela, Tulha e Relego, de Évora, de Famalicão, do Julgado, da Maiorga, da Pederneira, de Salir de Matos, do Valado, de Turquel, de Santa Catarina, de Aljubarrota, de Alfeizerão.
                QUINTAS: de D. Elias, de S. Gião, da Quinta do Outeiro, do Quifel, de Valbom, dos Brincanos, da Castanheira, do Armazém do Inferno de S. Martinho.
                FOROS: recebi da Quinta de S. Martinho; de um moinho de vento em Alfeizerão; de uma azenha na Mata da Torre; de uma outra em Porto de Mouro; do foro do Moinho de Cima, em Turquel; do dito de Baixo; da feira de Alfeizerão; da feira da Benedita; de um moinho de vento em Santa Catarina, de um dito nas ____ (?); recebi de trigo e milho do ano passado.
                [OUTRAS RECEITAS] Recebi do P. M. Procurador-Geral, de 12 exemplares dos Inéditos vendidos na forma da Lei...44$064; r. mais da venda de um Comentário dos M. SS. na Lei; R. mais de um tomo da Historia Chronologica e Critica da Abadia de Alcobaça. Abatido a papel a 30 – importa…
Despesa do gabinete*
                Cerneiros (d. em 95, e carreto para vigamento, solho, freixais, linhas e frasquia para o estuque), serragem, cabouqueiros (d. com os ditos no arranque da pedra lioz), Carretos (d. na condução da dita), canteiros (d. com os ditos em aparelhar os mármores para o pavimento do gabinete, aparados depois de assentes, branquear o resto da escada que existia, portais e óculos), pedreiros (d. com os ditos no acompanhamento das vigas, freixais, linhas do teto, enchimento dos tabiques para o estuque, ____ de cornijas e molduras do mesmo, assentamento do lajedo, reboco, saia delas (?) e ajudar no estuque), serventes (d. com os ditos a dar serventia aos oficiais a polir mármore, conduzir cal e areia e vários serviços), carpinteiros (d. com os ditos no vigamento do gabinete, em solhar o mesmo, fazer e assentar freixais, linhas para o teto, pregar dos fasquiados, na fatura de um portal no gabinete da escada, portas para o mesmo, conserto da porta de entrada, e vários moldes para correr as molduras do estuque), pedra branca (d. na dita para a escada e lajeado do gabinete da mesma, e socos), carretos, gesso (d. em 142 arrobas a 60 reis a arroba entrando o carreto), pez grego (d. em 8 arrobas do dito para betumes), estucador (d. em 114 dias de jornas a 800 reis, em 104 dias ao ajudante a 240 reis, d. em 62 dias a José Maria ajudar no dito, a 400 reis), canteiros (d. em s ditos na fatura da escada), pedra pomes (d. em 16 arrobas da dita e condução de Lisboa), pó de mármore (d. em dois alqueires do dito e condução, para betumar o lajedo), pregos (d. em 1800 tabulares a 140 rs. o cento; d. em 1200 ripas a 70 rs. o cento, d. em 1500 de ferragem para o emoldurado a 80 rs. o cento, d. em uma soma de pregos de fasquia, e carreto), ferreiro (d. com o dito em apontar picões, escaminhadeiras (?), ponteiros, cinzéis, e fazer alguns de novo), cal (d. em cinco moios de dita, 700 rs. o moio, d. no carreto da dita), tijolo (d. em 1200 para o assento do lajedo a 120 rs. o cento, d. no carreto do dito), tintas (d. nas ditas para pintar os tetos e portas), pintor (d. com o dito na pintura das ditas portas), papel (d. no dito para desenhos do estuque), vidraça (d. na dita para a bandeira da porta do gabinete e janela), azeite (d. em 28 quartilhos a 70 rs. para dar luz a quem trabalhava no estuque), cera (d. em três arrobas da dita para betumes, a 280 rs.), chumbo (d. em 20 arrobas e meio para chumbar gatos na escada nova).

                [OUTRAS DESPESAS:] Compra de livros (d. na compra de livros, uns dos espólios e outros novos que vieram de Lisboa, entre os quais entram os 15 exemplares do Poema de J. A Viagem Estática [Viagem Extatica ao Templo da Sabedoria, de José Agostinho de Macedo], e outros que vieram de Coimbra, entrando a carga que ultimamente veio), encadernação de livros (d. na encadernação de 117 livros, grandes e pequenos), folhetos, Gazetas e Correios do Porto (d. na subscrição da Gazeta de Lisboa para este ano de 1831, em metal; no Correio do Porto na subscrição dos últimos 6 meses do ano de 1830 e na subscrição de todo o ano de 1831, na folhinha de algibeira deste ano), seguro e franquia (d. no seguro do dinheiro para o Porto, e em pagar o porte das Cartas para o redator do Correio), brochura (d. na brochura de 162 exemplares dos Inéditos do primeiro, segundo e terceiro tomo, a 50 rs. cada um), conduções (d. na condução de livros que vieram de Coimbra, de Lisboa, e na condução de caixões de Inéditos que foram para Lisboa, e numa carga de livros que ultimamente veio de Coimbra), carneiras (d. em meia dúzia das ditas), papelão (d. em um maço do dito), livros de ouro (d. em dois dos ditos), reparos (d. na compostura de dois gravadores, do cozedor, e outras peças precisas e na compostura de dois mochos que precisavam de novos assentos de palhinha, e também no caixilho que se fez para o retrato do F. A. M. [?], brunidor (d. num ferro que se fez de novo para brunir os livros), cadeado (de um dito para as caixas de letras), prancha (de uma dita de pau vinhático), contínuo (d. em pagar ao contínuo da Livraria o seu ordenado, que vem a ser de 2$400 por mês e 1$600 de propina em cada uma das quatro festas principais), impressão (d. em acabar de pagar o que se estava a dever para completar a conta da duquesa, que se fez no Comentário sobre os M. SS. dos três tomos dos Inéditos), propinas (d. em pagar as ditas que é costume no Real impressão da Universidade aos compositores, impressores e batedores, ainda pertencentes à obra dos M. SS. e também dos três tomos dos Inéditos; dei mais ao P. Ab. Fr. Fortunato pela brochura de trinta exemplares dos M. SS. que lhe pertenciam, e pela de trinta exemplares de cada um dos três tomos dos Inéditos), caixão (d. nos caixões em que vieram de Coimbra os Livros Paoiences [? Livres Paiens?] e outros que lá se compraram), amanuense (d. nos ditos portes de correio e outras miudezas).

COMENTÁRIO:
* DESPESA DO GABINETE – com alguma carga irónica, a Livraria ficou acabada apenas entre 1 de Maio de 1830 e 30 de Abril de 1831, cerca de dois anos antes de os monges partirem de Alcobaça. Os últimos acabamentos foram precisamente os dos gabinetes anexos que aqui se descreve, com o assentamento do chão de mármore e a colocação e pintura do reboco do teto. Estes gabinetes serviam para os reservados ou «Livros Proibidos» e um deles destinar-se-ia ao alojamento do contínuo ou criado da Livraria.
*MAPA DE LOPES: provavelmente, não se trata aqui de uma referência ao geógrafo português Sebastião Lopes (século XVI) mas ao Mapa General del Reyno de Portugal, de Don Tomás Lopes, que foi publicado inicialmente em 1778, e que era familiar aos geógrafos portugueses.

Triénio de 1831-1833 (Fls. 44 – 47 v.)

Recibo e despesa das rendas da livraria de 1 de Maio de 1831 ao último de Abril de 1832 sendo abade Fr. Paulo Teixeira.

Recibo
                RENDAS – recebi da renda da Maiorga, Pederneira, Évora de Alcobaça, da de Salir de Matos, Alcobaça, do Julgado, de Aljubarrota, de Santa Catarina, de Alvorninha, Alfeizerão, Famalicão, do Relego da Cela, da Tulha da Cela, do Valado.
                DIREITOS DAS QUINTAS: recebi da quinta da Canoeira em Torres Vedras, à conta do que deve… 72$000; de doze almudes de vinho da Quinta do Outeiro, da Quinta de D. Elias, dos dízimos de Valbom; da Quinta do Quifel menos os direitos do trigo; recebi da Quinta de S. Gião.
                FOROS: recebi de José Matias, de Alfeizerão; recebi o foro da Quinta do Outeiro; o foro do moinho da Ramalhosa; recebi de oitenta e quatro alqueires de milho da renda do moinho da Castanheira e foros de outros moinhos que se pagaram em grão, vendido todo por vários preços; recebi mais de trigo e milho do ano passado, recebi do Armazém do Inferno de S. Martinho.
                FEIRAS – recebi da feira da Benedita; recebi da feira de Alfeizerão.

Despesa
                MIUDEZA (d. em papel, tinta, limpeza de tinteiro, seguros de cartas, e remessas); jornadas (d. em jornadas em serviço da Livraria), conduções, consertos (d. em alguns pequenos dos ditos), ordenados (d. com o dito do criado da Livraria, e propinas ao mesmo criado, pelas quatro festas do ano), folhetos (d. na compra de alguns ditos, livros e folhinhas), encadernações, periódicos (d. em 25 exemplares do Defensor dos Jesuítas, dos 5 números desde 1 a 5; em 25 dos ditos do Anti-Palinuro [Anti-Palinuro ou Defensa que em abono dos primeiros dous números do Desengano escreve Fr. Fortunato de Boaventura ... contra hum papel sedicioso, incendiario e blasfemo que actualmente se espalha neste Reino, Lisboa, Imprensa Régia, 1830], e 25 do documento original; d. na subscrição da Gazeta Hespanhola por 6 meses desde Maio a Outubro; d. mais na Gazeta Hespanhola avulsas por 2 meses de Novembro e Dezembro [9brº e Xbrº] de 1831; na subscrição da Gazeta Hespanhola por 6 meses de Janeiro a Junho; na subscrição da Gazeta Portuguesa pelo ano de 1832; d. no folheto Algumas Palavras; d. em 25 exemplares do n.º 6 do Defensor dos Jesuítas; em 40 Contra Minas desde os ns. 20 a 59 inclusive; d. em 12 Desenganos, desde o 16 até 27 inclusive; d. em 25 exemplares do Defensor n.º 70; na Sentença dos Condenados do Regimento n.º 4; na Carta a José Agostinho; no folheto Expedição de D. Pedro, de Volton [A expedição de Dom Pedro ou a neutralidade em disfarce, por Guilherme Walton, Lisboa  1832]; d. na Sentença dos Condenados do Porto; d. no Defensor números 8 e 9; na Carta ao Autor do Contra Minas; d. no Voto separado da Conferência; d. no n.º 7 da Defesa de Portugal; d. na Besta Esfolada.

Recibo e despesa das rendas da Livraria deste Real Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, do primeiro de Maio de 1832 ao último de Abril de 1833, Abade Fr. Paulo Teixeira 

Recibo
                RECIBO DAS RENDAS: recebi da renda de Turquel de 1831 e 1832; da dita da Maiorga; do Valado, do Relego da Cela, da Tulha da Cela, de S. Catarina, de Alvorninha, de Alfeizerão, de Famalicão, de Salir de Matos, da Pederneira, de Aljubarrota, de Alcobaça; recebi mais da Propina de vinho, também de Alcobaça; do Julgado; mais do vinho da mesma renda do Julgado; de Évora.
                DIREITOS DAS QUINTAS: recebi de dezassete almudes de vinho da Quinta do Outeiro; da Quinta de S. Gião; de quatro alqueires de favas da Quinta do Quifel; da Quinta da Caneira em Torres Vedras à conta do que deve; da Quinta de D. Elias; do Casal dos Brincanos à conta dos direitos de 1829; dos direitos do vinho de 1830 do mesmo casal; dos direitos de vinho de 1832 do mesmo casal.
                FOROS: de alguns anos da Quinta de S. Martinho; r. de alguns anos do moinho do Gaio; do moinho da Ramalhosa; do moinho de Alfeizerão; da Quinta do Outeiro; de um moinho em Turquel de um ano e parte de outro; r. de cento e trinta alqueires de trigo vendido por vários preços; de seis alqueires de milho; da feira da Benedita pelos direitos que ali se cobram.
Despesa
                Jornadas (D. em ir a Torres arrendar os direitos do Prazo da Caneira; em pagar ao Escrivão por assim se ajustar; passaporte e mais gastos), Caixões (d. na dita de dois caixões para a Livraria, e outras pequenas ditas); foros (d. em pagar 8 anos de foros que se deviam à Ordem por ter a Livraria recebido todos os pagamentos que pelo Prazo da Caneira se tem feito, e só lhe pertencerem os Direitos e não os foros), cobrança (d. com o credor andando na cobrança), feira de Alfam. [Alfeizaram] (d. em pagar ao Ministro e Oficiais que foram à dita feira por não chegar o que ali se cobra para pagar aos ditos); ordenado ( d. com o dito do criado da Livraria segundo o rol do M. R. M. Bibliotecário-mor & d. com o dito do criado que foi despedido); encadernação (d. em 7 volumes de Gazetas que se mandaram encadernar & na dita de 2 volumes de Correios do Porto & na dita de uma Bíblia Sacra); consertos (d. no dito do gabinete da Livraria, em pedreiros, serventes, estucador, tintas e pintor & no dito de uma banca da Livraria, e duas fechaduras), roupa (d. em dois lençóis e um travesseiro novos, novos, e conserto de outra roupa para o criado), dívida (d. em pagar uma dita ao encadernador que do outro triénio se lhe devia), miudezas (d. em papel, tinta, obreias); livros (d. em alguns ditos, em folhetos, e folhinhas); periódicos (d. no Correio do Porto em nove meses; na subscrição da Gazeta de Lisboa para o ano de 1833; na Gazeta de Hespanha pelos 6 meses até Dezembro de 1832; na subscrição da mesma Gazeta pelos 6 meses de Janeiro a Junho de 1833; d. na Contra Mina, n.º 60, e 5 exemplares dos Defensores e números 10, 11, e 12).

Em observância da comissão do N. Ilustríssimo Senhor D. Abade geral e Esmoler Mor posta no princípio deste livro… nomeei e rubriquei este mesmo livro que consta de noventa e uma meias folhas que todas levam o meu sobrenome = Moraes = de que uso. Alcobaça, 22 de Janeiro de 1812.
[assinatura: Fr. Francisco de Morais].                 
                
 
          
 



                O Livro das Contas da Livraria apresenta-nos um registo meticuloso das receitas da Livraria ou Biblioteca, e das despesas que ela teve de suportar. Dos dados apresentados, negligenciamos parcelas incomuns (como o dinheiro vindo da Bolsaria do Mosteiro para a Livraria em 1812 ou o reembolso efetuado no ano de 1824) ou as somas cumulativas de cada triénio. As cifras mais sumárias, as receitas e despesas de cada ano, transpusemos para o quadro infra. No primeiro triénio (1810-1812), as despesas e o balanço são apresentadas no conjunto dos três anos.

ANOS
RECEITA
DESPESA
1810
205$820

1811
460$290
225$391
(dos 3 anos)
1812
692$01




1/05/1813 a 30/04/1814
713$160
218$085
1/05/1814 a 30/04/1815
731$320
197$910
1/05/1815 a 30/04/1816
584$570
880$020



1/05/1816 a 30/04/1817
733$565
471$200
1/05/1817 a 30/04/1818
798$650
201$480
1/05/1818 a 30/04/1819
590$440
351$035



1/05/1819 a 30/04/1820
707$740
339$040
1/05/1820 a 30/04/1821
558$650
292$235
1/05/1821 a 30/04/1822
396$260
213$715



1/05/1822 a 30/04/1823
260$065
234$070
1/05/1823 a 30/04/1824
412$600
203$750
1/05/1824 a 30/04/1825
608$160
307,475



1/05/1825 a 30/04/1826
534$015
151$285
1/05/1826 a 30/04/1827
641$140
614$395
1/05/1827 a 30/04/1828
1003$350
1092$965



1/05/1828 a 30/04/1829
498$900
720$915
1/05/1829 a 30/04/1830
586$230
427$385
1/05/1830 a 30/04/1831
555$470
1072$445



1/05/1831 a 30/04/1832
514$875
91$015
1/05/1832 a 30/04/1833
718$250
140$645