1 - Esta é, muito provavelmente, a única imagem do castelo de
Alfeizerão obtida por visualização direta. Ou melhor, do que restava dele e era
visível à distância. Trata-se de um esboço feito em 1794 por William Beckford.
O seu livro Recollections of […]
Alcobaça and Batalha e o livro The Travel-Diaries of William Beckford [...]
conheceram várias edições, a primeira, parece, em 1835. Mas a gravura foi publicada apenas uma vez:
na edição (inglesa, de 1928) do segundo título, por Guy Chapman. Uma edição
portuguesa do primeiro (1997, com tradução de Iva Delgado e Frederico Rosa)
também não a publica.
2 - Diz
Beckford:
«A certa
distância vimos um castelo mouro, orgulhosamente de pé sobre uma elevação
isolada, que apresentava uma grandiosa massa: tem também um nome grande,
Alfeizerão. [...] Este pitoresco monumento, a quietude e os tons suaves do
entardecer, e o perfume dos tremoçais, eram circunstâncias muito agradáveis!
[...] Diz a tradição que era neste castelo, que pelo menos à distância parece
magnificamente pitoresco, que o bom rei D. Dinis por vezes alojava a sua esplêndida
e opulenta corte».
[Acrescento
eu: e a tradição está certa. Foi neste castelo que o Lavrador cedeu à rainha
santa, os direitos alfandegários que
detinha sobre certas mercadorias entradas pelo porto de «Selir», em carta
«Dante eno Alfeisarã, IX das de Juynho. (...) Era Mª CCC XXVª]» -- isto é,
1287. É o documento mais antigo em que o topónimo aparece registado! (Cf. João
M. da Silva Marques, Descobrimentos Portugueses, Documentos para a sua
História, vol.I, p.20, 1944)].
3 -
Para olhos que conhecem bem o local e o seu enquadramento, este esboço, obtido de um ponto de observação
elevado, de S. Martinho ou de Salir, apresenta dados topográficos que lhe
conferem veracidade óbvia! Há outras versões, bem sei, obtidas a partir da
suposta «cópia de um original feito em 1755», estereotipado, sem semelhanças
com o cimo das torres no esboço de Beckford, e cuja publicação nunca é
esclarecida! Acredito que esse original nunca existiu e que tal cópia não passa
de uma criação fantasiosa, posterior ao fatídico terramoto.
Que
dados são esses a que aludi? Em primeiro lugar, a lagoa no sopé da elevação:
vários autores do séc. XVIII se referem a ela, destacadamente o pároco nas
Memórias Paroquiais de 1758. Depois, a extensão e o grau de inclinação do
terreno: íngreme e curto na vertente virada a S. Martinho, mais suave e extensa
para sul. Em fundo, antes da aparente linha do horizonte, são sugeridos os
inevitáveis outeiros do nascente; e à direita, pormenor quase impercetível, a
insinuação arredondada do Casal do Aguiar, concretizada nuns rápidos quatro
pontos. Finalmente, sugerida de modo a passar a sul da lagoa, uma linha de
pontos e traços a representar a vegetação pobre do rio - salgueiros e canas.
Somente olhos visualizantes poderiam tão eficazmente esboçar o quadro! Somente
olhos conhecedores do contexto, podem reconhecer no quadro fidelidade ao real.
Perante tal fidelidade, não se pode duvidar de que fosse aquele o aspeto das
torres avistadas!
Um só
pormenor intrigante, o que parece ser a linha do horizonte: aqueles quatro
traços, bem marcados, não podem ser a Serra dos Candeeiros! Nuvens? Abandono da
linha do horizonte, que inicialmente tivesse sido mal esboçada? Não sei...
P.S.: Desejo expressar o meu vivo agradecimento aos senhores Miguel Soares Franco e Margarida (proprietários do Antiquário Alfarrabista J. A. Telles daSylva, em Lisboa), que gentil e prontamente me facultaram fotocópia da gravura – haverá meia dúzia de anos.
P.S.: Desejo expressar o meu vivo agradecimento aos senhores Miguel Soares Franco e Margarida (proprietários do Antiquário Alfarrabista J. A. Telles daSylva, em Lisboa), que gentil e prontamente me facultaram fotocópia da gravura – haverá meia dúzia de anos.
CARLOS CASIMIRO DE ALMEIDA, Julho/2011
Nota:
Artigo e imagem publicados inicialmente por Carlos Casimiro
de Almeida em Julho de 2011 na sua página ALFEIZERÃO HISTÓRICO, e reproduzidos
com a anuência do autor.
José Eduardo Lopes
20/10/2014
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