domingo, 5 de janeiro de 2025

Carta de Vitorino Froes ao presidente do governo sobre a festa de Santo Amaro (1917)


Em 1917, num período histórico marcado pela questão religiosa e pela atmosfera de positivismo e anticlericalismo que se respirava na Primeira República, Vitorino Froes dirige um telegrama e uma carta a António José de Almeida, que preside ao governo do 13.º governo republicano, a fim de conseguir autorização para que se pudesse realizar a procissão do Santo Amaro. António José de Almeida seria eleito Presidente da República dois anos mais tarde.

Transcrição da: “Carta de Vitorino Froes para o Presidente do Ministério e Ministro das Colónias, António José de Almeida, solicitando autorização para a organização de festa popular” (Museu da Presidência da República, APAJA/Cx192/056)

 

 

[Resp. em 15-1-17]

 

Ex.mo Il.mo Snr.

e Meu amigo –

 

Tomei hontem a liberdade de telegrafar e V. E.Cia a pedir o especial favor de solicitar do Exmo Ministro do Interior a autorização para sahir a procissão que todos os annos se costuma fazer na minha terra, no dia 15 do corrente, dia da tradicional festa que todos os filhos d’esta freguesia d’Alfeizerão festejam com alegria.

O regedor ultimamente nomeado é um dramático pedreiro, que parece [?] impossível que huma terra que tem quatro mil habitantes esteja debaixo dos caprichos d’um figurão d’esta natureza, o unico que se julga ofendido com este acto religioso que há seculos se faz com toda a pompa e que a ninguém prejudica.

 

                                            De V. E.cia com toda a consideração e muita estima

                                            Alfeizirão, 13-1-17

 

                                            Victorino Froes

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Apontamentos vários sobre a génese da (hoje antiga) Escola Primária de Alfeizerão


A Educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”.

(Séneca)


REGISTADO EM ACTA UM OFÍCIO À C. M. A. SOBRE O PROPÓSITO DE CONSTRUIR UMA ESCOLA NA SEDE DA FREGUESIA

«Foi resolvido enviar à Câmara o seguinte ofício. Uma das maiores aspirações da Junta desta freguesia é a realização da construção da Escola para exercícios escolares, visto que aquelas que aqui existem não terem condições pedagógicas, a não ser para o atrofiamento das criancinhas. Conta esta junta para a sua realização, com a venda de baldios paroquiais, de uso comum dos povos, para o que o Código Administrativo lhes dá essa atribuição e ainda com o auxílio e boa vontade da Exma. Câmara Municipal».

(Livro de Actas n.º 11, fólio 3v, Acta da sessão ordinária de 8 de Março de 1926, Arquivo da J. F. A., Alfeizerão)

 

ASSINALADA A POSSIBILIDADE DE ENCERRAMENTO DA ESCOLA OFICIAL EM ALFEIZERÃO, POR FUNCIONAR EM CASA ARRENDADA E ESTAR PREVISTO UM AUMENTO DA SUA RENDA

«Foi presente um ofício n.º 148 de vinte de Março [1926] dirigido ao presidente da Junta desta Freguesia em que lhe comunicava e lhe pedia o favor de transmitir aos mais vogais desta Junta de Freguesia, que a comissão executiva desta freguesia acaba de ser notificada pelo cidadão J. A. F., por intermédio do advogado, Exmo. Senhor Doutor Mário de Pina Cabral, no sentido de passar a ser feito, na importância de 25$91 centavos mensais o pagamento da renda da casa da escola oficial desta localidade, pela qual actualmente é paga a importância de 6$25 centavos, também mensalmente, diz ainda mais, não desejando a Câmara executiva da sua presidência ficar com o mínimo sequer de responsabilidade quanto ao facto bem possível de dar-se num futuro próximo, de Alfeizerão ficar sem a sua escola oficial, por motivo de falta de casa».

(Livro de Actas n.º 11, fólio 4r, Acta da sessão ordinária de 9 de Março de 1926, Arquivo da J. F. A., Alfeizerão)

 

MENÇÃO DE UM SUBSÍDIO INICIAL DA CÂMARA PARA A CONSTRUÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA

«Foi presente o ofício n.º 654 de 26 de Outubro da Comissão Administrativa da Câmara deste Concelho, em resposta ao nosso ofício n.º 25 de 24 de Outubro, informando-nos que a Comissão Administrativa da Câmara resolveu, em sessão de vinte e cinco, incluir a verba de seis mil escudos ao pedido de subsídios que vão dirigir ao Exmo. Ministro da Instrução, para o efeito de auxiliar a construção de um edifício escolar na sede desta freguesia».

(Livro de Actas n.º 11, fólio 10v, Acta da sessão ordinária de 10 de Novembro de 1926, Arquivo da J. F. A., Alfeizerão)

 

INICIATIVA DA JUNTA DE SOLICITAR UMA AJUDA PARA A OBRA A TODOS OS FILHOS E AMIGOS DE ALFEIZERÃO

«Também resolveu esta Comissão escrever uma Carta a todos os filhos e amigos de Alfeizerão, mesmo que estejam residindo nas nossas possessões ultramarinas e no estrangeiro, pedindo-lhes o seu auxílio a favor da nossa terra para a construção de uma casa de escola de que tanta necessidade temos para a educação de tantas crianças de idade escolar; destas cartas se fará uma cópia de que se mandarão imprimir 500 exemplares para serem distribuídos».

(Livro de Actas n.º 11, fólio 12v, Acta da sessão ordinária de 8 de Dezembro de 1926, Arquivo da J. F. A., Alfeizerão)

 

MINUTA DA CARTA AO ARQUITECTO CHEFE DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES, A PEDIR UMA PLANTA PARA A FUTURA ESCOLA

«Ex.mo Senhor Arquitecto Chefe da Repartição das Construções Escolares – Ministério da Instrução

Lisboa


«Tendo a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia a que tenho a honra de presidir, deliberado dar começo a um edifício escolar na sede desta freguesia, venho solicitar a V. Ex. a cedência de uma planta para dois lugares de professor, o exemplo mais simples oficialmente aprovado, comprometendo-me a devolvê-la logo que não seja precisa ou no prazo que seja por V. Ex.cia designado.

Saúde e Fraternidade

O Presidente da Comissão Administrativa

Alfeizerão, 9 de Maio de 1927

[Arquivo da J. F. A., Caixa 2]

 

APRECIAÇÃO FAVORÁVEL PELA JUNTA DO PROJECTO E MEMÓRIA DESCRITIVA CEDIDOS PELA REPARTIÇÃO DAS CONSTRUÇÕES ESCOLARES

«Foi pelo presidente apresentada em sessão a planta, projecto oficial, memória descritiva e detalhes para a construção de uma escola para dois lugares de professores, na sede desta freguesia, que em sessão de vinte e sete de Abril último foi resolvido pedir ao Exmo. Senhor Arquitecto Chefe das Construções Escolares. Foi resolvido agradecer a Sua Excelência o envio da mesma planta, projecto, etc. Apreciada devidamente por esta Comissão Administrativa a planta/projecto oficial/memória descritiva e seus detalhes, foi aprovada por unanimidade, por representar a obra que ambicionamos, modéstia e elegância (sic)».

(Livro de Actas n.º 11, fólio 18v, Acta da sessão ordinária de 25 de Maio de 1927, Arquivo da J. F. A., Alfeizerão)

Comissão Administrativa da

Junta de Freguesia de Alfeizerão

 

 

 

 

Condições para as empreitadas da

Escola Primária de Alfeizerão

 

1.º O empreiteiro ou empreiteiros tomam a responsabilidade de cumprir integralmente a planta, memória descritiva e condições gerais expostas no orçamento e caderno de encargos assinado pelo construtor civil, Sr. Alberto Rodrigues Aurélio, do que se lavrará um auto assinado pela Junta, empreiteiro e duas testemunhas abonatórias.

2.º As arrematações são em três lotes abaixo designados.

3.º Secção de Carpinteiros.

         Soalhar, dividir em tabiques as divisões existentes no projecto, fasquiando de um e outro lado; e ainda aumentar um tabique devidamente fasquiado a fazer a divisão do gabinete indicado no projecto, pois que, sendo a escola para dois lugares de professor, dois têem de ser os gabinetes.

         Enfim, respeitar todas as condições gerais dos trabalhos e orçamento.

4.º Secção de Pedreiros

         Acabamentos em limpos do Edifício Escolar, alpendre, aperfeiçoamento dos vãos, colunas e enfeites em cimento armado, e construção do telheiro do recreio. Respeitar todas as condições dos trabalhos e orçamento.

5.º Secção de Pinturas

         Estuques, pinturas, vidros e sua colocação em conformidade com a memória descritiva e orçamento.

6.º Empreitadas

         No caso que apareçam duas ou mais propostas iguais, haverá licitação pública após a abertura das propostas.

7.º Reserva-se a esta Comissão Administrativa a faculdade de não aceitar as propostas, no caso que convenham aos seus interesses

8.º Pagamentos

         Os pagamentos das empreitadas são divididos em três prestações assim designadas.

                   1.ª A quarta parte da importância quando as obras estiverem a meio (metade).

                   2.ª Prestação igual quando as obras estiverem em três quartas partes.

                   3.ª (Última) Quando as obras das respectivas empreitadas estiverem concluídas e após a vistoria feita por técnicos ou técnico.

9.º Reserva-se o direito a esta Comissão Administrativa, quando o julgar conveniente, mandar examinar os serviços por técnico competente.

10.º Prazos para conclusão de empreitadas.

         Secção de Pedreiros e Carpinteiros. As suas empreitadas devem ficar concluídas em 31 de Maio de 1930, o máximo, podendo começar desde a confirmação da sua adjudicação. Secção de Estuques e Pinturas, até 30 de Junho de 1930.

         Terminados os prazos acima indicados e as obras não estejam concluídas, perdem os respectivos empreiteiros ou empreiteiro da secção em falta, a quantia [üde dez escudos (10$00) diários a favor do cofre da Junta até á conclusão das respectivas obras].

Sala das Sessões da Junta de Freguesia

Alfeizerão, 31 de Outubro de 1929

O Presidente

João Augusto Ferreira

Os Vogais

António de Matos

João da Silva Santos

 

[Arquivo da J. F. A., Caixa 2]

 

 

Nota: As empreitadas foram atribuídas da seguinte forma na sessão extraordinária da Junta de 1 de Dezembro de 1929:

- Secção de pedreiros a António Prudêncio Luís.

- Secção de estuques e pinturas ao mesmo António Prudêncio Luís.

- Secção de carpinteiros, a Joaquim dos Santos Bernardes e Joaquim Duarte Grilo.

(Livro de Actas n.º 11, f. 51r, Arquivo da J. F. A , Alfeizerão)

 

 

CÓPIA DE UMA CARTA DIRIGIDA AO DIRECTOR GERAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA SOBRE UM SUBSÍDIO PARA A CONCLUSÃO DA OBRA

S . R. [Serviço da República]

Ilustr. e Exmo. Sr.

Director Geral de Instrução Publica

                                               Lisboa

Exmo. Sr.

         No ofício de V. Ex.ca de 5 de Julho de 1928 dirigido a esta C. A. [Comissão Administrativa] da Junta de Freguesia, em resposta ao pedido de um subsídio para a conclusão da nossa escola primária em construção, começada com o produto de uma subscrição pública e com o auxílio da Câmara Municipal d’Alcobaça e notadas as disponibilidades desta Junta para esse fim, dizia-me o seguinte:

“Sob proposta da Repartição das Construções Escolares, que obteve despacho favorável, vai a pedido dessa Junta ser registado [o] seu respectivo mapa para ser atendido logo que haja qualquer distribuição de subsídios para construções escolares”.

Temos conhecimento de que tem sido distribuído ultimamente alguns subsídios para o referido fim e [temos] ansiosos tempos esperado a realização do nosso prometimento.

Como não pode haver pedido mais justo que o nosso, visto termos apurado no último recenseamento escolar 435 crianças com idade escolar nesta freguesia e as escolas que existem, nem este nome se lhe pode dar, pois o merecem [o nome] de pardieiros, não comportam mais da quarta parte das criancinhas.

         Venho novamente solicitar de V.a Ex.ca o grande favor de nos ser concedido o subsídio para a sua conclusão, pelo que pratica um alto benefício a favor das criancinhas, e para o que o nosso reconhecimento não tem limites.

Desejando a V.a Ex.ca

Saúde e Fraternidade

O Presidente da C. A. da Junta de Freguesia

João Augusto Ferreira

Alfeizerão, 28 de Março de 1929

[Arquivo da J. F. A., Caixa 2]

ACTA DA JUNTA DE FREGUESIA QUE FIXA O HISTÓRICO MOMENTO:

 

«Aos onze dias do mês de Maio do ano de mil, novecentos e trinta e dois, pelas catorze horas, reuniu-se em sua sessão ordinária a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia de Alfeizerão, concelho de Alcobaça. Em conformidade com o que foi resolvido entre a Comissão Administrativa da Câmara Municipal e a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia, no dia oito de Abril, como consta da acta de 10 do referido mês, realizou-se no dia 8 de Maio a inauguração solene do chafariz e marco fontanário para abastecimento de águas, digo, águas potáveis, na sede da freguesia, e ainda do edifício Escolar. A inauguração destes importantes melhoramentos que tantos benefícios traz á freguesia, correram com o melhor brilhantismo e entusiasmo, não só manifestado pela Comissão Administrativa da Junta de Freguesia, que viu neste dia a realização da sua iniciativa, como por todas as pessoas que nos honraram com a sua vinda aqui para este fim!

«Neste número fez parte o Exmo. Sr. Governador Civil de Leiria e de Beja, o Inspector Chefe da Região Escolar, o Presidente da Junta Geral do Distrito, representantes da Câmara de Leiria, administradores dos concelhos de Leiria e Marinha Grande, representantes da liga do 28 de Maio de Leiria, o Delegado Marítimo, Comissão de Iniciativa, Junta de Freguesia, Comando dos Bombeiros, etc., etc., de São Martinho do Porto, Comissão de Iniciativa de Alcobaça, o Exmo. Sr. Engenheiro Alves Costa, professores oficiais, etc., etc., assim como a Exma. Câmara Municipal do nosso concelho composta de todos os seus membros, que bem manifestaram o carinho e atenção que dispensaram a estes melhoramentos, e por isso a satisfação íntima da sua inauguração!

«Além das pessoas citadas, muitas pessoas em representação social de São Martinho, Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha, Marinha Grande e Lisboa, nos honraram com a sua vinda aqui para este fim. Também todas as pessoas de maior representação social desta freguesia, assim como os povos da sede da freguesia e lugares, compareceram em grande número para abrilhantar a festa da inauguração, uma das mais importantes que aqui se tem realizado. Também o dilecto filho desta freguesia, Capitão-aviador Sérgio da Silva, veio no seu avião fazer diversas evoluções sobre esta terra, associando-se assim aos mesmos festejos e na retirada deixou cair uma carta de saudações e felicitações para a Junta de Freguesia e Câmara Municipal! Para a inauguração da Escola constituiu-se uma sessão solene a que presidiu o Exmo. Sr. Governador Civil do Distrito, secretariado pelos senhores Governador Civil de Beja e Inspector Chefe da Região Escolar. Sendo-lhe dada as boas vindas e agradecimento de assistirem ao acto pelo Presidente da Junta. Falaram diversos oradores, entre os quais, um brilhante discurso do Exmo. Sr. Governador Civil, foi ouvido com grande prazer, terminando por o senhor Inspector Chefe, em nome do senhor Ministro da Instrução, declarou inauguradas as escolas.

«Terminado este acto, seguiu-se a inauguração do marco fontanário e chafariz, sendo convidados para cortar as fitas que envolviam as torneiras, pelo presidente da Junta, o Exmo. Sr. Governador Civil do Distrito, o Presidente da Comissão Administrativa da Câmara, e dando este senhor o seu lugar ao Exmo. Sr. Governador Civil de Beja. No final destas cerimónias, numa das salas da escola, realizou-se uma festa íntima com o Porto de Honra que correu com um grande brilhantismo, pelo que a Comissão Administrativa da Junta de Freguesia se orgulha em ser bem sucedidas todas as suas iniciativas. Abrilhantou estas festas sem a menor remuneração a magnífica Banda de Alcobaça, acedendo assim a um convite feito pela Exma. Câmara Municipal. Foram recebidos neste dia pelo Presidente da Junta diversas cartas e telegramas de filhos e amigos desta terra, felicitando a Junta por esta forma visto o não poderem fazer pessoalmente; de entre estas destaca-se o telegrama do Exmo. Sr. Capitão Matias, ilustre filho desta terra, que diz o seguinte: “Agradeço convite assistir hoje inauguração melhoramentos locais. Não podendo comparecer, felicito por este meio Comissão e povo nossa freguesia pelo bom êxito, trabalhos realizados honram Comissão vossa presidência”. Foi presente o ofício n.º 368 do senhor Presidente da Câmara com data de 10 do corrente em que nos dá conhecimento de que por meio do ofício do Exmo. Sr. Governador Civil o acabava de encarregar de transmitir á Comissão Administrativa da Junta os melhores agradecimentos pela forma que sua Exa. tinha sido recebido em Alfeizerão em dia 8 do corrente, como o quanto lhe foi grato constatar a acção da Junta de Freguesia, pela qual o Inspector Chefe do Distrito testemunha o devido e público louvor!! (...). E não havendo mais nada a tratar, pelo presidente foi encerrada a sessão, a qual vai ser assinada por ele e vogais presentes.

O Presidente

João Augusto Ferreira

Os Vogais

João da Silva Santos

António de Matos

O secretário

Joaquim da Silva Rodrigues


domingo, 3 de dezembro de 2023

O ARU de Alfeizerão e a problemática do castelo da vila (será desta?)

Terminado o prazo de discussão pública dos projetos das Operações de Reabilitação Urbana (ORU), encontra-se disponível para consulta pelos cidadãos, entre outros ficheiros, o Projeto da ARU de Alfeizerão e Programa Estratégico de Reabilitação Urbana.

O Projecto das Áreas de Reabilitação Urbana (ARU) de Alfeizerão, possui múltiplos motivos de interesse, citando nós aqui as passagens subordinadas ao tema em epígrafe no título desta publicação:


[p. 33:]

Espaços verdes de recreio e lazer – distinguindo-se três pequenos espaços existentes

- o Largo dos Arneiros, a Praça Professor Joaquim André e o Largo Alcaide do Castelo

- bem como um espaço verde proposto, de grande dimensão, localizado no extremo poente da ARU, onde se situam as ruínas do castelo de Alfeizerão [destaque nosso].

 

[p. 36: ]

Os elementos patrimoniais em apreço localizam-se na parte mais sudoeste do território da ARU, encontrando-se ambos abrangidos por respetiva zona de proteção, a saber:

▪ O Pelourinho de Alfeizerão (classificado como Imóvel de Interesse Público - IIP), situado no Largo da Igreja;

▪ O Sítio Arqueológico do Castelo de Alfeizerão (classificado como Sítio de Interesse Público - SIP), adjacente ao cemitério.

Adicionalmente, é de referir que a área respeitante ao SIP do Castelo de Alfeizerão abrange igualmente uma área classificada como Património Arqueológico, com respetivo CNS (Código Nacional de Sítio), referente à Fortificação Romana e Medieval de Alfeizerão (CNS 3388).

 

[Pontos fortes, p. 72:]

Presença de património arquitetónico classificado, designadamente o Pelourinho de Alfeizerão (IIP) e o Sítio Arqueológico do Castelo de Alfeizerão (SIP).

 

[P. 90. Acções estruturantes: ]

Criação do parque verde urbano do antigo castelo de Alfeizerão [destaque nosso].



 

Apesar dessa Acção Estruturante ser considerada como de Prioridade Moderada (p. 91), recomendamos a leitura da sua descrição detalhada (p. 96) pelo que encerra de objetivo; dessa descrição, uma vez mais, fazemos uma citação parcial:

Objetivos operacionais:

▪ Aquisição da propriedade pelo Município;

▪ Elaboração do masterplan e dos projetos de execução;

▪ Criação de um parque verde urbano de recreio e lazer;

▪Reabilitação do conjunto edificado em ruínas para instalação do centro interpretativo de Alfeizerão;

▪ Criação de um parque de estacionamento dissuasor.

 

Resultados esperados/metas:

Espaços verdes de recreio e lazer criados – 49 000 m2 / Edificado reabilitado – 3 edifícios (800 m2 abc) / Novos lugares de estacionamento – 30 lugares (600m2 )

Promotor: Câmara Municipal

Natureza e estimativa do investimento: Público | 2 820 000 euros

Grau de maturidade: Reduzido

Potenciais fontes de financiamento: Municipal, comunitário e outras fontes públicas


sábado, 11 de novembro de 2023

Um apontamento ocioso: O Pão-de-Ló de Alfeizerão

O nome “Pão-de-ló de Alfeizerão” é, sem exagero, globalmente conhecido, figurando em livros escritos em diferentes línguas onde comummente se apresenta uma receita de pão-de-ló cremoso ou, recorrendo a um trocadilho, um pão com ló, à semelhança do doce que está na sua raiz

Na origem, Alfeizerão, o pão-de-ló tem uma origem histórica, derivando por transmissão da doçaria conventual das freiras do Mosteiro cisterciense feminino de Cós. Com a receita tradicional do pão-de-ló recebido por Amália Grilo nasceram as duas casas originais que produziram o doce, o Pão-de-ló de Alfeizerão e o Café Ferreira, juntando-se a estas em tempos mais recentes, a Pastelaria O Castelo, no largo da vila, que terá beneficiado também do conhecimento da mesma receita. Outras pastelarias ou cafés em Alfeizerão também fabricam ou fabricaram o pão-de-ló, mas de uma forma pontual e com o emprego de uma receita de origem obscura.



Neste contexto, a produção de pão-de-ló de Alfeizerão pode enfrentar a seguinte situação, quase anedótica: se um empresário de “visão” abrir uma casa em Alfeizerão e iniciar de forma marginal a produção atamancada de pão-de-ló na vila, nada o impede de o comercializar com o nome de pão-de-ló de Alfeizerão, mesmo que o seu aspeto e sabor nada tenham em comum com o pão-de-ló produzido segundo a receita tradicional, podendo traduzir-se na criação de variantes imaginativas do doce com, por exemplo, sabor a caramelo ou arroz-doce; na prática, um comportamento oportunista desse tipo iria causar sérios danos à autenticidade e fiabilidade do produto tradicional nascido da doçaria conventual.

A forma mais eficaz de defender a receita tradicional e as casas comerciais que a produzem e vendem seria, julgamos, lançar mão dos recursos que a podem proteger à luz da lei. Um desses recursos é a obtenção de um Selo IGP – Indicação Geográfica Protegida. Essa classificação «garante que os produtos foram produzidos na região que tornou conhecidos e cujas características, qualidade e modos de confecção estejam de acordo com as tradições que os fizeram famosos» e salvaguarda o produto de “qualquer imitação ou evocação” ou “qualquer outra indicação falsa ou falaciosa quanto à proveniência, origem, natureza ou qualidades essenciais dos produtos”. Entre os produtos de pastelaria que beneficiam do Selo IGP, lembremos o Pastel de Tentúgal, o Pastel de Chaves e os Ovos Moles de Aveiro.

Para se obter um Selo IGP, o processo passa por um registo do produto com um caderno de especificações próprio que é enviado às autoridades nacionais para ser examinado e, se estiver em conformidade, é remetido à Comissão Europeia, que decide da sua aprovação. O registo pode ser pedido por um grupo de produtores que, se as coisas correrem favoravelmente, beneficiarão de igual forma da classificação que protege a sua indústria.

Este passo, ou outro semelhante, exigiria o vínculo ou colaboração das casas que produzem o pão-de-ló tradicional, suportadas se necessário, estamos disso confiantes, pelos órgãos do poder local em campos como o apoio jurídico. Se isto alguma vez for alcançado, talvez se veja surgir no horizonte uma futura Confraria do Pão-de-ló para defesa e promoção do tradicional pão-de-ló, abrilhantada com trajes cerimoniais e eventos de degustação.


terça-feira, 17 de outubro de 2023

Lembrar Maria Domingas: o filme "Maria Papoila"

Uma anotação

O bem conhecido filme "Maria Papoila" de Leitão de Barros, teve a sua estreia em Agosto de 1937, contando nos papéis principais com Mirita Casimiro, António Silva e Eduardo Fernandes e retrata a história de uma moça do campo (Mirita Casimiro) que tenta a sua sorte na capital, onde trabalha como criada de servir. Assente numa dicotomia entre a vida no campo e na cidade, urde um discreto panegírico sobre as realizações e valores do regime - a arquitetura do Estado Novo, os transportes modernos, a vida militar - mas o talento de Leitão de Barros faz deste filme uma história bem contada onde os personagens e as situações se encadeiam de uma forma fluida e ardilosa onde mesmo os símbolos não são menosprezados: o relógio-despertador surripiado por Mr. Scott (António Silva) é depositado nas mãos de Maria Papoila, lembrando-a que tem de regressar a casa dos patrões antes que eles dêem pela sua ausência.

Neste filme regista-se o primeiro papel de Maria Domingas no cinema, como figurante, três anos antes do seu "salto" para o papel principal de "João Ratão", de Jorge Brum do Canto, ao lado de Óscar de Lemos. Recorde-se que Maria Domingas, nascida em 1921, tem apenas 16 anos quando entra em "Maria Papoila" e  se a idade poderia surpreender, o mesmo sucede ao constatar nesta sua modesta participação o mesmo talento, fotogenia e graça que eram um atributo muito seu, desdobrado nas suas prestações no cinema e nos palcos ao longo da sua carreira artística.

O filme estrutura-se em duas partes distintas, com uma primeira onde se narra a fuga para a cidade de Maria Papoila e da sua vida como criada de servir e uma subsequente que tem o seu eixo na vida austera dos militares em contraponto com a vida elegante das classes mais abonadas, com as suas festas e diversões, onde se arquiteta a situação que levará à prisão por roubo do apaixonado de Maria Papoila, Eduardo da Silveira (Eduardo Fernandes) e ao desenlace final do filme.

Maria Domingas surge apenas na primeira parte da acção, ela é a menina Rosa, criada de servir no mesmo prédio onde trabalha a Maria Papoila, e esta primeira parte do filme apoia-se muito na dinâmica das duas sopeiras e da cozinheira (Virgínia Soler), com a saída noturna para o arraial de Santo António, o namoro com os magalas ou o passeio pelo parque. 

Ainda que encarne uma personagem secundária e acessória, este primeiro papel de Maria Domingas no grande ecrã não pode ser negligenciado quando rememoramos a sua carreira como atriz.


Imagens do filme (ou relativas a ele)

A lista de atores do filme (fonte: Cinept - Cinema português)






Maria Domingas, entre Mirita Casimiro e Virgínia Soler







quinta-feira, 17 de agosto de 2023

De ontem para hoje: o assassinato de Sidónio Pais em 1918

 


Acta da sessão Extraordinária

Aos dezoito dias do mez de Dezembro de mil e nove centos e dezoito, pelas doze oras e doze reuniu a Comissão Administrativa Paroquial desta freguezia, pelo presidente foi aberta a sessão. Foi lida e aprovada a acta da sessão anterior____Pelo presidente foi dito que pelas noticias oficiaes e relato dos jornaes só sabião ter sido morto por um atentado ignobil e vergonhoso o nosso Chefe de Estado, o Ilustre Prezidente da Republica Portugueza, Exmo. Senhor Doutor Sidonio Paes, no dia quatorze do corrente, pelas vinte e tres e meia oras, quando entrava na gare da estação do Rocio para seguir para o Porto, aonde era esperado com grandes festas em sua honra!. Como Portuguez e seu admirador, não podia deixar de lastimar tal infamia, que nos roubou o Chefe de Estado prestigioso e com isso a esperança do Ressurgimento da Patria, e pelas suas qualidades naturaes e intelectuaes a protestar contra tal brutal atentado, improprio de povos civilisados. Todos os vogaes se manifestaram pela mesma forma e lançaram um voto de profundo sentimento, incerrando o presidente a sessão em signal de profundo sentimento de que estavam possuidos. Mandou o presidente, // para que conste, lavrar esta acta que vai ser assinada pela Comissão Paroquial de Alfeizerão.

O Presidente – João Augusto Ferreira

O Tezoureiro – José Salvador

O Secretario – José Hilario Junior

 

(“Livro das Actas da Junta de Paróquia civil d’Alfeizerão, N.º 10”, 1915-1926, f. 10v-11r

- obra disponível para consulta no depósito documental do “Baú das Memórias” de Alfeizerão)


Bilhete postal de 1919 que ilustra o atentado


quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Domingas Maria

 


A presença dos soldados napoleónicos na região de Alcobaça no último mês de 1810 e ao longo do primeiro trimestre de 1811 traduziu-se por uma verdadeira mortandade originada pela fome, pela doença e por mortes causadas diretamente pelo invasor. O facto de muitos párocos terem procurado abrigo em Lisboa e em outros redutos protegidos, como lhes fora superiormente ordenado, obsta a que tenhamos um conhecimento rigoroso dessa tragédia, ressalvando-se parcialmente para tal os minuciosos registos paroquiais de óbito das freguesias de Alfeizerão e, sobretudo, de Pataias.

Nas outras paróquias da região, há casos em que os registos paroquiais sofrem um interregno ao tempo da presença do invasor ou são lavrados na ocasião ou posteriormente e em retrospetiva, com alguns assentos pontuais a assinalar as tragédias desse período. Como exemplo, transcrevemos o único assento paroquial explícito na freguesia de São Sebastião do Vimeiro:

 

<Gaio, Domingas Maria>

Aos doze dias do Mez de Março de mil e oito centos e onze se deu a sepultura a Domingas Maria, Solteira, do Gaio, dentro do Alpendre desta Igreja de S. Sebastião do Vimeiro, foi morta pellos Francezes; sem Sacramentos. E para constar fiz este Assento. Mez, e Era ut supra.

O Vigário Francisco da Silva Rebello

 

(ADLRA, IV/26/C/58 – Registos de óbito da freguesia do Vimeiro: 1760-1860, f. 125r)