O bacharel Luís Botelho da Silva Vale, natural de Alfeizerão e com parentes
próximos na vila, na Macarca e em Famalicão, teve uma carreira assinalável como
Juiz de Fora e desembargador, sobretudo no reinado de D. José I. As inquirições
sobre ele, sobre a qualidade da pessoa e limpeza de sangue, apontam diferentes
estimativas das testemunhas ou depoentes sobre a sua idade. O assento de
batismo que transcrevemos esclarece esse ponto. Neste assento, lavrado pelo
cura João do Souto Velho, o padrinho de batismo, Luís Soares da Silva, que supomos ser um irmão ou familiar próximo de João Botelho da Silva, surge indicado num dos documentos
relativos ao bacharel como parente deste e que tinha o cargo de administrador dos tabacos da vila de Santarém e
morador aí no bairro do Salvador. Nos anos imediatamente anteriores ao ingresso
de Luís Botelho da Silva na Universidade de Coimbra, ele e o pai saem de
Alfeizerão e passam a residir em Santarém, e de seguida em Torres Novas.
quinta-feira, 14 de março de 2019
domingo, 17 de fevereiro de 2019
domingo, 10 de fevereiro de 2019
O marco do Santíssimo
O marco
Ao lado da Rua Principal em Famalicão da Nazaré,
junto à saída para o Rebolo, levanta-se o marco do Santíssimo sobre um soco
cúbico de alvenaria. O marco de pedra ostenta numa face a abreviatura de
Santíssimo Sacramento («S.o
S.o»)
e na outra face (leitura com algumas reservas):
Q.
DO
SANTSS.o SACRAM.
EM
POD.
HF. CC.
1713
Alude
à quinta do Santíssimo Sacramento e à data em que foi levantado o marco. Sobre
a inscrição que precede a data, não possuímos explicações, poderia conjecturalmente
tratar-se de uma expressão latina abreviada ou, seguindo as informações do
cronista cisterciense de que falaremos em seguida, a abreviatura do nome de
quem administrava a quinta na altura e que o terá mandado erguer.
A quinta
A
quinta da Macarca, da qual se conhecem referências desde o século XIV (vide.
GONÇALVES, 1989), pertencia ao mosteiro que a cedia em regime de aforamento; um
dos que a aforou, segundo o cronista cisterciense Frei Manuel de Figueiredo (FIGUEIREDO, 1782),
foi o fidalgo Cristóvão Esteves de Esparragosa (1465-1549), desembargador do
Paço.
O
mesmo cronista conta-nos que depois de a manter aforada a diferentes titulares,
o mosteiro dedicou a quinta «ao culto do
Santíssimo Sacramento da igreja monasterial de Alcobaça e recebe o seu
administrador os dízimos de todos os frutos, os quartos do pão e legumes, com
os quintos dos mais géneros. E as terras pertencem aos moradores que pagam
estes tributos, está demarcada com altos
marcos de cantaria [destaque nosso]
e nas partes mais principais da demarcação tem padrões com grandes e claras
inscrições, que dizem quem mandou marcar as terras e a quem as mesmas
pertencem. Tem no sítio do seu nome um edifício com celeiro, lagar e adega,
levantado no ano de 1762».
Entregue
à Confraria do Santíssimo Sacramento de Alcobaça, a quinta toma a designação de
Quinta do Santíssimo, nome que aparece neste alto marco de cantaria em Famalicão, que era um dos marcos de
demarcação dos terrenos da quinta.
Confiada
a quinta e os rendimentos que dela se poderiam obter à Confraria do Santíssimo
Sacramento em Alcobaça, esse acto administrativo do mosteiro deve ter tido
reflexos no quotidiano e na população da Macarca de então, com pessoas vindas
de Alcobaça a fixar-se e a viver no lugar. Se os assentos paroquiais são muitas
vezes omissos ou lacónicos quanto à origem de celebrantes e defuntos,
encontramos uma referência documental segura numa Diligência de habilitação para a Ordem de Cristo de Luís Botelho da
Silva Vale (DGA/TT, Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para a Ordem
de Cristo, Letra L, mç. 1, n.º 3). Neste documento, datado de 1754, ficamos a
saber que os pais do suplicante eram naturais, ele de Alfeizerão e ela da
Macarca e que era «neto pela parte
materna de Máximo de Moura, natural de Alcobaça, freguesia do Santíssimo
Sacramento, e de sua mulher Clara Gomes, natural da Macarca».
Fontes:
FIGUEIREDO, Frei Manuel de, Corografia da Comarca de Alcobaça (Capítulo de Alfeizerão), 1782, manuscrito,
PDF disponível em: https://drive.google.com/file/d/1462MR41YzSP-NzWgUF0CsYtSy3aqmYFs/view?usp=sharing
GONÇALVES, Iria - O Património do
Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1989.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2019
Um memorando
= Memorandum =
N’este
anno [1905] principiou-se a
construção da torre na Egreja Parochial, a qual torre se acabou em Junho do
anno seguinte. Fez-se com donativos colhidos na freguesia e fôra por iniciativa
do parocho [P.e Manuel Rodrigues] e
auxilio do sachristão, devendo notar-se o auxílio importante da Ex.mo Sr.
Adelino Antonio Ferreira e Francisco da Polonia e João Augusto Ferreira, que
acompanharam o parocho no peditório.
[ADLRA, freguesia de Alfeizerão, Registo de batismos, livro n.º
31, 1905-1905, IV/44/E/60]
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Os últimos Alcaides de Alfeizerão
Siglas
utilizadas:
AMP:
Arquivo Municipal de Penafiel
LPJSIRMSMA: Livros de Privilégios, Jurisdições,
Sentenças, Igrejas deste Real Mosteiro de Santa Maria de
Alcobaça.
GL:
Gazeta de Lisboa.
O castelo
Os coutos de
Alcobaça possuíam duas alcaidarias-mores, em Alcobaça e em Alfeizerão, nascidas
da existência e manutenção das duas fortalezas principais do território,
lugares estratégicos importantes de defesa militar e refúgio em caso de ataque.
A evolução das técnicas bélicas, sobretudo a evolução das armas de fogo, foi
desvalorizando a importância das fortalezas, que se tornaram obsoletas, e na
transição para o século XVIII, os dois castelos possuíam já, decerto, um papel
marginal, dado que os indícios documentais de reparo dos dois castelos ou das
suas muralhas são quase inexistentes. À sua função militar inicial sobrepõe-se
a sua função “civil”, de lugares de Justiça, e para o castelo de Alcobaça temos
mesmo uma referência aos «reparos do
castelo que serve de cadeia» (LPJSIRMSMA, f. 5v).
O Alcaide
Já nos séculos
XV e XVI e no contexto dos Coutos, Iria Gonçalves nota que era o Alcaide quem multava e aplicava as penas de prisão correspondentes aos diversos delitos e
que «eram inclusive os Alcaides que
conservavam, por vezes até em suas casas, os instrumentos prisionais – cadeias,
cadeados, colares, argolas – que recebiam quando eram empossados do cargo e que
representavam os símbolos de execução de justiça» (GONÇALVES, 1989, p. 84).
Para o mesmo período temporal, o Alcaide de Alfeizerão tinha também como
atribuição própria a cobrança da dízima do pescado que era desembarcado e surge
igualmente em actos de recepção de produtos chegados por mar, como o minério de
ferro (GONÇALVES, id.).
Nomear e
empossar o alcaide-mor tornou-se, numa e noutra vila, uma ciosa prerrogativa da
abadia de Alcobaça, depois de ter havido algumas iniciativas da Coroa nesse
sentido; ainda que, como é evidente, essa escolha não fosse isenta de
interesses ou conluios políticos que explicam que a alcaidaria-mor de
Alfeizerão tenha sido atribuída mais de uma vez a uma mesma família por duas e
três gerações sucessivas como se fosse um cargo hereditário. A extinção das
alcaidarias-mores e o fim das Ordens religiosas masculinas em 1834, com a
integração na Fazenda Pública dos castelos de Alfeizerão e Alcobaça, colocou um
ponto final neste cargo administrativo e na fortaleza que lhe havia dado
origem.
Os últimos Alcaides
O penúltimo Alcaide-mor
de Alfeizerão foi José Teixeira Coelho Vieira de Queirós, nomeado numa data que
não pudemos precisar. Por desistência do cargo, foi nomeado o seu filho, António
Teixeira Coelho Vieira de Queirós, o último Alcaide, cujo Preito de Homenagem
se realizou a 16 de Abril de 1825 (LPJSIRMSMA, f. 7v). Esta família era
possuidora da Quinta da Gandra ou Casa da Gandra, propriedade extensa situada no lugar do mesmo
nome, na freguesia de Guilhufe, Penafiel, à cabeça da qual José Teixeira Coelho
sucedera ao seu pai, o capitão Joaquim José Vieira de Queirós, falecido em 1813
(AMP, pp. 34 e 447). Nos tempos conturbados que então se viviam, de guerra
civil e absolutismo miguelista, estes dois Alcaides defenderam D. Miguel no
confronto das armas. No ano
de 1829, a 23 de Julho desse ano, António Teixeira de Queirós é mencionado no
periódico oficial entre os Realistas como Tenente da 6ª Companhia do Regimento
de Milícias de Penafiel (Gazeta de Lisboa,
nº 172, p. 710, 23 de Julho de 1829, Lisboa, Imp. Régia), enquanto o pai,
também militar, comandaria os Realistas da cidade.
Na Gazeta de Lisboa de 20 de Agosto do ano
de 1829 (GL, nº 196, p. 809, Lisboa, Imp. Régia), descreve-se como José
Teixeira Coelho compareceu ao “beija-mão” perante o monarca: «(Lisboa, 19 de Agosto) José Teixeira Coelho
Vieira de Queiroz, Professo na Ordem de Christo, e o Bacharel Gaspar Joaquim
Telles da Silva e Menezes, Official da Secretaria de Estado dos Negocios
Ecclesiasticos e de Justiça, tiverão no dia 5 de Agosto a honra de ser
admittidos á Real Presença de Sua Magestade, no Palácio de Queluz, em Deputação
das Camaras da Villa de Canavezes e dos Concelhos de Thuios e de Soalhães,
felicitando o mesmo Augusto Senhor pela Sua exaltação ao Throno Portuguez e
pelo completo restabelecimento da Sua preciosa saúde em hum respeitoso discurso
que o segundo commissionado proferio depois de beijarem a Real Mão: Sua
Magestade Se dignou receber estas felicitações com a affabilidade que caracteriza
Seu magnânimo Coração, e houve por bem conceder a Medalha de ouro com a Sua
Real Effígie aos membros das sobreditas Camaras actuaes, e aos das próximas
passadas com a fitta da Casa de Bragança. A mesma Deputação se dirigio depois a
felicitar Sua Magestade a Imperatriz Rainha Nossa Senhora, que lhe mandou
agradecer por não poder dar-lhe a beijar a Sua Real Mão».
Um outro periódico, O Ecco – Jornal Critico, Litterario, e
Politico (n.º 197, de 20 de Junho de 1837, Lisboa, Imp. na Typografia de A. I. S. de Bulhões),
elucida-nos sobre o que lhes sucedeu após a queda de D. Miguel, arrolando-os na
«Lista dos Realistas perseguidos em
Penafiel, moradores na terra ou vizinhos»: «50 - Joze Teixeira Coelho Vieira de Queiroz, Cavaleiro de Christo,
Alcaide Mór d’Alfeizarão e Governador Militar de Penafiel em 1828, preso em
Penafiel, aonde deu dinheiro para ser solto, e lhe comerão o dinheiro sem o
soltar, até que remettido para o Porto, lá foi solto. – 51 - Antonio Teixeira
Coelho, Cav. de Ch., Alcaide Mór d’Alfeizarão e Capitão Mór de Bemviver [sic],
culpado e perseguido desde 1834 até 1837 sem que elle offendesse um só liberal
no tempo de D. Miguel».
Dissipados os ventos de guerra,
os documentos atestam a presença de ambos na Casa da Gandra, a propriedade da
família, já na segunda metade do século XIX (AMP, pp. 637 e 1029).
Fontes impressas:
ARQUIVO MUNICIPAL DE PENAFIEL, Inventário do Acervo Documental do Morgado
da Aveleda, Câmara Municipal de Penafiel, Penafiel, 2011. PDF disponível em
https://www.cm-penafiel.pt/wp-content/uploads/2016/10/Inventario_Morgado_Aveleda1.pdf.
GONÇALVES, Iria, O Património do
Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV, Lisboa: Universidade Nova de
Lisboa, 1989.
Gazeta
de Lisboa, nº 172, de 23 de Julho de 1829, Lisboa, Impressão Régia.
Gazeta
de Lisboa, nº 196, de 20 de Agosto de 1829, Lisboa, Impressão Régia,
O Ecco – Jornal Critico, Litterario, e
Politico, n.º 197, de 20 de Junho de 1837, Lisboa, Typografia de A. I. S. de Bulhões
Fonte Manuscrita:
LIVRO
DE PRIVILEGIOS, JURISDIÇÕES, SENTENÇAS, IGREJAS DESTE REAL MOSTEIRO DE SANTA
MARIA DE ALCOBAÇA (DGA/TT, Ordem de Cister, Mosteiro de Santa Maria de
Alcobaça, liv. 92)
José Eduardo Lopes Coutinho
Novembro de 2018
domingo, 2 de setembro de 2018
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
O assento de baptismo de Vitorino Fróis
Na margem do assento:
<Quinta de São Joze, N.º12, 12 de Abril de 1862>
<Victorino, filho de Joze Victorino da Fonseca Froes>
<Foi-lhe passada a cédula Pessoal com o Nº23616, 10-7-1924, P.e
[João de Matos] Vieira>
<Registou-se n/conservatória Lisboa, 11-11-33, Livro 418, Fl: 353, nº
553. Óbito: 22-7-34, Caldas da Rainha, P. Vieira>
O assento:
«Aos
doze dias do mez de Abril do Anno de mil oito centos e secenta e dois, pelo
meio dia, na Igreja Parochial de São João Baptista d’Alfeizarão, Concelho de
Alcobaça, Districto Eclesiastico d’Óbidos, Diocese de Lisboa, Eu, o Presbitero
Antonio da Conceição Pires, Prior Encommendado da mesma freguezia, baptizei solemnemente e pus os Santos Olleos a huma criança
do sexo masculino a que dei o nome de Victorino, que nasceo ás quatro horas do
dia dois do ditto mez e anno, filho legitimo primeiro do nome de Joze Victorino
da Fonceca Frois, de profissão lavrador, e de Dona Maria Joanna d’Avelar Froes,
recebidos na Freguezia de São Martinho do Porto e parochianos della, moradores
na Quinta de São Joze, nepto paterno de Victorino Joze Frois e Dona Maria Joze
da Fonceca Fróis, e materno de Antonio d’Avelar e Dona Anna Joaquina Garcia
Avelar. Padrinho, Francisco Gomes d’Avelar, tio materno, cazado, proprietário e
morador na villa de São Martinho, e a madrinha Dona Maria Joze da Fonceca
Fróis, avó paterna, viúva, e moradora na villa d’Alcobaça. E para constar
lavrei em duplicado o presente assento de baptismo, que depois de ser lido e
conferido perante os padrinhos, com todos o assignei. Era ut supra».
[assinaturas
do prior e dos padrinhos: O Presbítero Prior António da Conceição Pires; Francisco Gomes d'Avellar; Maria José d'Afonçeca Froes]
Fonte: Registos de baptismo da freguesia de
Alfeizerão, 1858-1864 (ADLRA, IV/24/B/37, fls.
47r-47v)
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