Camponês e Moinhos
Origem: “Fotografia Alvão”, ANTT, Código de referência: PT/CPF/ALV
Na sequência do sismo de 1 de
Novembro de 1755, foi enviado um inquérito minucioso aos bispos de todas as
dioceses do reino, continha sessenta questões e tinha de ser respondido pelos
párocos de todas as paróquias. Este inquérito, comummente designado por
Memórias Paroquiais de 1758, foi coordenado pelo padre Luís Cardoso, cronista e
historiógrafo, que em datas anteriores ao grande sismo iniciara um interrompido
dicionário geográfico de todas as terras de Portugal.
No
inquérito de 1758, na pergunta 15 da sua primeira parte, pretendia-se saber sobre
as produções da terra («Quais são os frutos da terra que os moradores
recolhem com maior abundância»), e outras respostas suscitam algum
interesse na terceira parte do inquérito, que versa o rio ou rios que correm na
paróquia. É a resposta a estas questões que iremos apresentar em seguida,
recolhida dos contributos das diferentes paróquias que compunham o Couto de
Alcobaça (atualizamos a escrita na transposição do texto, para uma melhor
inteligibilidade). A vila de Paredes da Vitória, nesta época, ainda se
encontrava semi-abandonada depois de ter sido quase completamente sepultada
pelas areias, e a paróquia havia sido mudada para o lugar de Pataias, onde o
respectivo pároco redige as respostas ao inquérito.
ALCOBAÇA: «Nas
vizinhanças da dita vila, os moradores dela recolhem de todos os frutos com
mais abundância, frutas de multas qualidades (…) tem em si o dito Rio de
Alcobaça, que não é navegável, quatro grandes açudes, que fazem moer multas
mós, e dois lagares de azeite. Um dos ditos açudes fica dentro dos muros da Cerca
em terras do dito Mosteiro (…) Dentro do dito Mosteiro conservam um moinho de três
pedras que lhe moem a farinha necessária para o pão dos religiosos, criados e
pobres que vêm a sua portaria, descendo a água (?) vem sair à dita vila aonde
faz moer quatro pedras [para] as farinhas necessárias aos seus moradores e a
mais pessoas que para o mesmo fim recorrem ao dito moinho». (O vigário José
de Almeida Brandão, ANTT, Memórias
paroquiais, vol. 2, nº 5, p. 33, 43-45)
ALFEIZERÃO: «É a terra (respectivo à sua pequenez)
abundante de milho, e feijão branco por ter vargens [várzeas] e terras alagadas d’água no inverno, e
ainda parte no Verão, dá favas e ervilhas, e hortaliça, bastante trigo e vinho,
pouca cevada e alguma fruta nos lugares do Valado e Macalhona. Não há olivais
por que a experiência tem mostrado que não produzem por estar a terra situada vizinha
ao Mar, e muito infestada dos ventos, especialmente nortes (...) junto a esta
vila para a parte do Sul há um rio em distância de duzentos passos que tem o
nome de Rio de Alfeizerão e muitos lhe chamam Rio de Charnais por passar por
este sítio (...) as margens são cultivadas e produzem milho, feijão e algum
trigo e cevada. Não tem arvoredo (...) Tem seis moinhos que moem em todo o
Inverno e a maior parte da Primavera e Outono» (o vigário Doutor Manuel
Romão, Memórias paroquiais, vol. 2,
nº 53, p. 470)
ALJUBARROTA:
«Os frutos da terra que os moradores da
vila de Aljubarrota recolhem em maior abundância são excelentes trigos, bons
azeites e melhores vinhos e muitos e admiráveis frutos, de que o seu território
é muito fecundo e copioso (...) Também
no termo da vila de Aljubarrota tem este rio [Rio da Abadia] dois moinhos e um lagar de azeite, porém não
tem pisões, noras, nem outro algum engenho de qualidade alguma» (o vigário
Joaquim Aparecido Saraiva, Memórias
paroquiais, vol. 3, nº 2, p. 342, 344).
ALVORNINHA:
«Os frutos que se recolhem são trigo,
cevada, milho, azeite, vinho, muitas frutas e de todos os legumes, como sejam
favas, grão, ervilhas, sendo em maior abundância o trigo, o azeite e a fruta»
(Pe. Sebastião Carlos Correia de Meneses, Memórias
paroquiais, vol. 3, nº 54, p. 411).
CARVALHAL
BENFEITO: «Os frutos deste país são
trigo, milho, cevada e vinho, em tão pouca quantidade que não chegam para o
sustento dos seus moradores» (O vigário encomendado António Francisco
Fialho, Memórias paroquiais, vol. 9,
nº 166, p. 1061).
CELA NOVA: «Que esta vila e seu termo é abundante de
trigo, milho, feijões e alguma cevada, e muita fruta e algum vinho (...) Ao primeiro rio, que se chama Rio da Abadia
está no sítio do Campinho,, termo desta vila (...) nele entra os dois rios, Coa e Baça, que há em Alcobaça, aonde se
juntam, e se lhes tomou ela o nome (...) as pescarias nele são vedadas para os religiosos do Mosteiro de
Alcobaça, especialmente aos que o fazem por negócio, [as] suas margens se cultivam e semeiam nelas
trigo, milho, feijões, mas não tem arvoredo» (O vigário Manuel José da
Silva, Memórias paroquiais, vol. 10,
nº 254, p. 1708, 1714).
CÓS: p.
2769-2771 «Produz esta terra todos os
frutos que lhe semeiam e são admiráveis na qualidade e gosto, e os que pela sua
amenidade os moradores recebem em mais abundância são vinho, milho grosso,
trigo e cevada, é também muito abundante de azeite, tudo selecto, sendo
específicos os feijões brancos, redondinhos, é juntamente muito abundante de
toda a qualidade de frutos, todos admiráveis no gosto e sabor (...) [Rio do
Porto de Leiria] é em toda a sua
distância de curso quieto e corre de norte a poente e faz andar com suas águas
muitos moinhos, lagares de azeite e pisões (...) [o Rio das Hortas], sem temer a pena de excomunhão, entra pela
clausura das Religiosas do referido Mosteiro desta vila, fazendo-lhe a sua
Cerca muito amena e aprazível, porém, paga logo a ousadia porque a poucos
passos vai dar a vida ao pé da sobredita ponte de Cós; e este rio em toda a sua
distância faz andar três lagares de azeite e um moinho ou azenha, as suas
margens se cultivam» (o prior João de Sampaio de Freitas, Memórias paroquiais, vol. 12, nº 401, p.
2769-2771)
ÉVORA DE
ALCOBAÇA: «A terra tem suficiente
abundância de todo o género de frutos [?], ainda que a maior parte é de frutas, azeite e trigo» (o coadjutor
Luís Ferreira Fragoso, Memórias
paroquiais, vol. 14, nº 112, p. 867)
FAMALICÃO: «Os
frutos da terra que os seus moradores recolhem em maior abundância, são trigo,
milho, e feijão. Também a dita terra produz suficientemente cevadas, centeios, tremoços,
favas, ervilhas e outros legumes desta qualidade; como também vinhos (…) A maior parte da dita Serra [da
Pescaria] é cultivada pelos seus moradores, a qual produz suficientemente
trigo, milho, feijão, cevada, ervilhas, favas, e como se vê é áspera e falha de
águas, mas produz outros frutos de mimo» (vigário Manuel da Silveira, Memórias paroquiais, vol. 15, nº 15, p. 75, 78)
MAIORGA: «Os frutos desta terra que os moradores com
maior abundância recolhem são milho e feijão; o trigo, azeite e vinho são menos
abundantes (...) junto ao rio que vem de
Alcobaça, onde chamam a Fervença desta freguesia, têm os Padres Bernardos uma
grande casa e dentro dela dois engenhos de azeite com oito varas, tudo com
muita grandeza, e logo junto a esta mesma casa estão mais três e todas tem oito
pedras porque se pagam muitos moios de pão aos ditos religiosos» (o vigário
Manuel de Sousa Lima, Memórias paroquiais,
vol. 22, nº 34, p. 229-230)
PATAIAS: «Junto a esta dita vila [Paredes] para a parte do Sul está uma ribeira muito
amena com dois moinhos com bastante água cujo nascimento principia ao nascente
de um extenso vale chamado Vale de Paredes, muito frondoso, e tem um engenho de
moer materiais e fornos para os apurar, feitos por estrangeiros (...) tudo foreiro aos Religiosos de São Bernardo
da vila de Alcobaça, por serem senhores das águas e ventos em todos os Coutos
(...) Pouco distante da dita ribeira para
a parte do Sul está uma ribeirinha chamada Belfurado, com uns moinhos foreiros
aos sobreditos religiosos (...) para
a parte do nascente do referido lugar de Mélvoa nasce um olho-de-água, o qual
correndo para a parte do Sul, entra pela ribeira do dito lugar de Pisões, onde
estão quatro moinhos foreiros à cidade de Leiria (...) Os frutos de que mais abunda neste país são milho, feijões, centeio e
algum vinho, porém, é especial esta terra pelas suas melancias, como refere
Bluteau num dos seus Tomos, na letra P» (o cura José Mateus Gaspar, Memórias paroquiais, vol. 28, nº 92, p.
582-586).
PEDERNEIRA:
«Há poucos frutos nesta terra, porém,
próximo ao lugar do Valado fica um campo bastantemente [sic]
grande de que a maior parte é dos religiosos de S. Bernardo, que produz muito
milho e feijão» (vigário Inácio Barbosa de Sá, Memórias paroquiais, vol. 28, nº 98, p. 627)
SALIR DE
MATOS: «Os frutos desta terra, como são
pobres, não são de grande abundância e nem ainda para os filhos deles chegam,
mas dão de todos [os frutos] e também
dão vinha e frutos, mas não tem azeite» (o vigário José de França Simões, Memórias paroquiais, vol. 33, nº 26, p.
126)
SANTA
CATARINA: «Nesta vila e seu termo se
colhem frutos com abundância, maiormente de trigo e milho, excepto há três anos
esta parte [?] pela falta de água e
houve carestia grande» (padre Francisco de Azevedo Lima, Memórias paroquiais, vol. 10, nº 229, p.
1530)
S. MARTINHO:
«Os frutos da terra é algum milho,
feijão, trigo e cevada, tudo muito limitado por razão da gente ser marítima e
não cultivarem» (o cura Manuel José Marcelino, Memórias paroquiais, vol. 22, nº 71, p. 460)
TURQUEL: «É abundante de trigo, cevada e milho, vinho
e azeite em suficiente quantidade; muitas hortas, e lenhas para o fogo; dos
frutos do pão pagam os moradores o quarto aos religiosos do dito Mosteiro de
Alcobaça, e do vinho, azeite, e frutas, quinto e dízimo» (o vigário Pedro
Vicente Ribeiro, Memórias paroquiais,
vol. 37, nº 126, p. 1209).
VESTIARIA: «Os frutos são muita leirioa [variedade de
maçã], pêssegos, maçãs de estalo, e o
mais é limões e também algum milho e feijões, e não colhem mais pelo cativeiro
dos quartos que tem» (O Vigário José dos Anjos, ANTT, Memórias paroquiais, vol. 39, nº 146, p. 860).
VIMEIRO: «É o limite desta freguesia muito montuoso,
regado de várias fontes que por muito pequenas não têm nome, é muito fértil de
trigo, milho, vinho e montados; não obstante a qual fertilidade, tem padecido
grandes necessidades pela grande intemperança do ano de 1759» (Vigário
Inácio Barbosa de Sá, ANTT, Memórias paroquiais, vol. 41, nº 341, p. 2067).
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