sábado, 21 de novembro de 2020

Uma tragédia marítima

 


Uma tragédia marítima

Do Diário de Lisboa de 23 de Novembro de 1861 (nº 267, Imprensa Nacional, Lisboa), transcrevemos uma notícia sobre o óbito de nove marinheiros de um brigue, sete dos quais naturais da região.

(actualizamos a ortografia)

 

«Por ofício do encarregado do consulado de Portugal em Liverpool, datado de 25 de Outubro ultimo, consta terem chegado àquele porto dois marinheiros pertencentes ao brigue português “Conde”.

Para conhecimento de quem convier se faz publicar a parte do referido ofício, em que se encontram alguns pormenores sobre o abandono daquele navio:

«No dia 21 do corrente mês apresentou-se neste consulado o capitão J. O. Johannsen do brigue norueguês “R. Wold & Huitfeldt», vindo de Lagos (costa ocidental de África), e o consignatário do mesmo navio, mr. Feyn, negociante norueguês nesta praça, dando o capitão parte de ter encontrado no dia 4 de Outubro, em latitude 36º e longitude 19º, o brigue português “Conde”, sem leme, etc., tendo a bordo só dois homens, os quais ele tomara, assim como os papéis do navio, três baús com roupa, etc., pertencentes ao capitão e piloto, um cronómetro e mais alguns objectos. Também salvou trezentos couros, pouco mais ou menos, e duas velas, não podendo tripular o navio por achar-se quasi toda a sua gente com febre. Mandei logo tomar conta dos dois marinheiros e informando-me deles do que acontecera, soube que o proprietário do brigue português “Conde” é Manuel José de Conde, residente na Baía, Brasil, de onde saía no dia 17 de Agosto passado, com destino ao Porto e escala em Lisboa, trazendo a seguinte carga, segundo o manifesto: 201 caixas de açúcar e 432 sacas e 6 barricas do mesmo e 2979 couros secos e salgados.

«A tripulação era composta de 11 pessoas. Achando-se os dois marinheiros na câmara do navio para objecto de serviço, ouviram gritar e correram logo ao convés, porém, infelizmente, já não encontraram pessoa alguma. Um grande golpe de mar tinha levado tudo do mesmo e assim faleceram nove pessoas, inclusive o capitão. Os seus nomes são os seguintes, tirados da matrícula:

- Capitão, José Riquezo, de S. Martinho, 32 anos, casado, filho d António Riquezo.

- Piloto, Manuel Pereira Setieiro, de S. Martinho, 47 anos, casado, filho de José Pereira Setieiro.

- Marinheiro, Joaquim Pereira, de Venda dos Frades, 33 anos, casado, filho de António Pereira.

- Marinheiro, José Rocha, de Alfeizerão, 23 anos, casado, filho de António Rocha.

- Moço, João da Silva, de Alfeizerão, 20 anos, solteiro, filho de Joaquim da Silva.

- Moço. José Daniel, da Ericeira, 20 anos, solteiro, filho de Francisco Vicente.

- Moço. Victorino Pereira, de Alfeizerão, 21 anos, solteiro, filho de Paulino Pereira.

- Moço, Joaquim Riquezo, de Famalicão, 20 anos, solteiro, filho de Joaquim Riquezo.

- Moço, Constantino Nunes, de Salir do Porto, 20 anos, solteiro, filho de António Nunes.

Sendo os dois que se salvaram:

- Cozinheiro, Anacleto Francisco de Sales, de Cascais, 26 anos, solteiro.

- Despenseiro, Manuel Riquezo, de S. Martinho, 30 anos, casado. Este último, irmão do capitão.

Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, em 21 de Novembro de 1861 – Emílio Aquiles Monteverde».

 

 

 

 


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