Uma tragédia marítima
Do Diário de Lisboa de 23 de Novembro de 1861 (nº 267, Imprensa Nacional, Lisboa), transcrevemos uma notícia sobre o óbito de nove marinheiros de um brigue, sete dos quais naturais da região.
(actualizamos a ortografia)
«Por
ofício do encarregado do consulado de Portugal em Liverpool, datado de 25 de
Outubro ultimo, consta terem chegado àquele porto dois marinheiros pertencentes
ao brigue português “Conde”.
Para
conhecimento de quem convier se faz publicar a parte do referido ofício, em que
se encontram alguns pormenores sobre o abandono daquele navio:
«No
dia 21 do corrente mês apresentou-se neste consulado o capitão J. O. Johannsen
do brigue norueguês “R. Wold & Huitfeldt», vindo de Lagos (costa ocidental
de África), e o consignatário do mesmo navio, mr. Feyn, negociante norueguês
nesta praça, dando o capitão parte de ter encontrado no dia 4 de Outubro, em
latitude 36º e longitude 19º, o brigue português “Conde”, sem leme, etc., tendo
a bordo só dois homens, os quais ele tomara, assim como os papéis do navio,
três baús com roupa, etc., pertencentes ao capitão e piloto, um cronómetro e
mais alguns objectos. Também salvou trezentos couros, pouco mais ou menos, e
duas velas, não podendo tripular o navio por achar-se quasi toda a sua gente
com febre. Mandei logo tomar conta dos dois marinheiros e informando-me deles
do que acontecera, soube que o proprietário do brigue português “Conde” é
Manuel José de Conde, residente na Baía, Brasil, de onde saía no dia 17 de
Agosto passado, com destino ao Porto e escala em Lisboa, trazendo a seguinte
carga, segundo o manifesto: 201 caixas de açúcar e 432 sacas e 6 barricas do
mesmo e 2979 couros secos e salgados.
«A
tripulação era composta de 11 pessoas. Achando-se os dois marinheiros na câmara
do navio para objecto de serviço, ouviram gritar e correram logo ao convés,
porém, infelizmente, já não encontraram pessoa alguma. Um grande golpe de mar
tinha levado tudo do mesmo e assim faleceram nove pessoas, inclusive o capitão.
Os seus nomes são os seguintes, tirados da matrícula:
-
Capitão, José Riquezo, de S. Martinho, 32 anos, casado, filho d António
Riquezo.
-
Piloto, Manuel Pereira Setieiro, de S. Martinho, 47 anos, casado, filho de José
Pereira Setieiro.
-
Marinheiro, Joaquim Pereira, de Venda dos Frades, 33 anos, casado, filho de
António Pereira.
-
Marinheiro, José Rocha, de Alfeizerão, 23 anos, casado, filho de António Rocha.
-
Moço, João da Silva, de Alfeizerão, 20 anos, solteiro, filho de Joaquim da
Silva.
-
Moço. José Daniel, da Ericeira, 20 anos, solteiro, filho de Francisco Vicente.
-
Moço. Victorino Pereira, de Alfeizerão, 21 anos, solteiro, filho de Paulino
Pereira.
-
Moço, Joaquim Riquezo, de Famalicão, 20 anos, solteiro, filho de Joaquim
Riquezo.
-
Moço, Constantino Nunes, de Salir do Porto, 20 anos, solteiro, filho de António
Nunes.
Sendo
os dois que se salvaram:
-
Cozinheiro, Anacleto Francisco de Sales, de Cascais, 26 anos, solteiro.
-
Despenseiro, Manuel Riquezo, de S. Martinho, 30 anos, casado. Este último,
irmão do capitão.
Secretaria
de Estado dos Negócios Estrangeiros, em 21 de Novembro de 1861 – Emílio Aquiles
Monteverde».
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