- Terá sido conquistada por D. Afonso Henriques em 1148 (Brandão, 1632: f.
185r).
- Na luta dinástica entre D. Sancho II e Afonso III, o Mosteiro de Alcobaça,
com as suas duas fortalezas, tomou o partido de D. Afonso III: «Contra os dois
castelos, de Alcobaça e de Alfeizerão (que são da Casa, e os alcaides deles
postos pelos abades) não lhe foi necessário a El Rei D. Afonso III levantar
lança, mas assegurando-se dos Abades de que a todo o tempo que ele se visse na
posse pacífica da Coroa, ou por morte ou por desistência do seu irmão D.
Sancho, teria à sua obediência os mesmos castelos, e deixou-os estar como em
depósito nas mãos dos monges» (Santos, 1710:102-103).
- «No mês de Maio de 1287 sucedeu que fez jornada el-rei D. Dinis de Lisboa
para Coimbra e na sua companhia a mesma Rainha Santa e tomaram ambos a via de
Alenquer; de Alenquer vieram a Óbidos e daí teve aviso o Abade Dom Frei
Martinho da vizinhança das Pessoas Reais, pelo que os foi esperar à sua Vila de
Alfeizerão, que é entre Óbidos e Alcobaça. Chegaram a Alfeizerão os dois Reis a
9 do mês de Junho e no Castelo da mesma vila os agasalhou o Abade com o devido
esplendor a tanta Alteza; do Castelo abalaram para Alcobaça em 12 de Junho»
(Santos, 1710:122 – atualizamos a grafia). Frei Francisco Brandão, na quinta
parte da “Monarchia Lusitana” conta essa viagem com palavras idênticas: «[os reis]
fizeram a jornada por Alenquer, Torres Vedras e Óbidos; daqui chegaram á vila
de Alfeizerão a nove de Junho e nela foram agasalhados no Castelo, que é dos
bons daquele tempo, pelo Abade de Alcobaça, D. Martinho, segundo do nome, de
cujo Senhorio é aquela Vila (...) De Alfeizerão acompanhou o Abade Dom Martinho
a el-Rei e á Rainha até ao Convento de Alcobaça» (Brandão, 1650:124r-124v –
atualizamos a grafia).
- Por duas vezes estanciou no castelo o rei D. Pedro I, em Setembro de 1357,
quando viajava de Óbidos para Leiria, e em Agosto do ano seguinte, altura em
que se redigiu em Alfeizerão o diploma em que o rei entregava o castelo de
Montemor-o-Novo a Gonçalo de Alcácer (Machado, 1978).
- O seu filho, o rei D. Fernando I, alojou-se em Alfeizerão em 1375 (a 14 de
Outubro) e a 20 de Outubro de 1382 (Rodrigues, 1978). Uma ordenação feita em
benefício do Mosteiro e lavrada e assinada quando o rei D. Fernando se
encontrava hospedado no castelo de Alfeizerão, é referida sem menção da data
por frei Manuel dos Santos, podendo recair numa das datas acima indicadas
(Santos, 1710:204).
- Na crise de 1383-85, o Mosteiro de Alcobaça, com os seus domínios, efetivos e
fortalezas, tomou o partido de D. João I: das Cortes de Coimbra «partiu também
o Abade D. Frei João de Ornelas para as suas terras a se preparar, e sendo já
no Mosteiro, primeiro que tudo reformou os seus Castelos, que estavam
danificados do ócio da paz, e para fazer mais defensável o de Alcobaça lhe
acrescentou a barbacã, que ainda não tinha; juntamente levantou um bom troço de
soldadesca que entregou a Martim de Ornelas, seu irmão, com outras muitas
prevenções que fez de armas, mantimentos e dinheiro» (Santos, 1710:212).
- «Os abades de Alcobaça residiram muitas vezes nesta fortaleza, na qual
estava, a 4 de Janeiro de 1430, D. Estevão de Aguiar. O comendatário D.
Henrique o habitou também» (Larcher, 1907:207).
- O rei D. João II alojou-se no castelo de Alfeizerão em Agosto de 1485
(Serrão, 1975), e o seu filho, o infante D. Pedro, também aí estanciou, como
nos conta o cronista Rui de Pina. Em 1439, viajando de Coimbra para as Cortes
que se iriam realizar em Lisboa, D. Pedro é interpelado em “Alfeizeeram” por um
enviado da rainha, que lhe transmite a solicitação da rainha para que regresse
sem demora a Lisboa, apresentando o argumento de «a Vila não ser capaz de seu
aposentamento, e menos abastante [abastada, com posses] para vos manter” (Pina,
1971).
- Nele terá residido por vezes o cardeal-infante D. Afonso no tempo em que foi
Abade do Mosteiro de Alcobaça (1519-1540), quem o afirma é o padre Luís Cardoso
no seu Dicionário Geográfico, registando também que ele terá oferecido à
paróquia uma imagem do Santo Cristo que era muito venerada no lugar (Cardoso,
1747:279).
- Nos anos de 1532 a 1533, o abade de Claraval, Dom Edme de Saulieu e o seu
secretário, frei Claude de Bronseval, iniciam uma viagem pelos mosteiros
cistercienses de Portugal e Espanha com o objectivo de comprovarem o
cumprimento das regras da Ordem de Cister. Em Portugal, visitam Alfeizerão (a que
chamam Lezeram) e o seu castelo durante a viagem entre Óbidos e Alcobaça,
pernoitando no castelo entre os dias 10 e 11 de Novembro de 1532. Depois de
cruzarem por uma ponte o rio da Mota ou rio chamado Mota («pluviolum nomine
Amotte»), atravessam um vale ao pé de “montanhas estéreis” e chegam a Lezeram:
«Vimos aí uma fortaleza, que pertence a Alcobaça, para onde os abades têm, por
vezes, o costume de se retirar, porque dista apenas duas léguas do mosteiro.
Nós fomos aí pobremente alojados e tratados. Deitamo-nos sobre o chão, à
maneira do país, e não encontramos carne para nós» (Cocheril, 1986).
- As lacunas documentais sobre o castelo a partir de finais do século XVI
parecem documentar o seu progressivo abandono, quer como fortaleza, quer como
lugar de residência: «no tempo dos abades comendatários D. José de Almeida, D.
José de Ataíde e de D. Fernando de Áustria, se arruinou o edifício da casaria
por falta de reparos e ainda a 27 de Junho de 1630 declarou o auto de posse ao
novo alcaide-mor que estavam vigadas as casas e a grande com 18 vigas muito
fortes capazes de duração» (Larcher, 1907:207). A fonte parece ser a corografia
de frei Manuel de Figueiredo, que nos diz que nesse mesmo ano de 1630, na
tomada de posse como alcaide-mor interino de Francisco da Silva da Fonseca em
nome do seu neto Silvério Salvado de Morais «nas casas que havia dentro e fora
do mesmo castelo, só se conservavam as traves, e que as casas de dentro tinham
ainda dezoito» (Leroux, 2020:130).
- No sismo de 1 de Novembro de 1755, conforme narra o pároco de Alfeizerão,
«caiu muita parte mas sempre lhe ficaram bastantes torres ilesas» (ANTT,
Memórias Paroquiais, vol. 2, n.º 53, f. 469). A iconografia novecentista sobre
o castelo, permite constatar que o castelo se manteve bem conservado até datas
muito próximas de nós. Em 1788, frei Manuel de Figueiredo visita-o e faz uma
descrição do que ele fora e do estado em que se encontrava.
Fontes:
BRANDÃO, Fr. António – TERCEIRA PARTE DA MONARCHIA LVSITANA - Que contem a
Historia de Portugal desde o Conde Dom Herique, até todo o reinado delRey Dom
Afonso Henriques, impressa por Pedro Craesbeck, Lisboa, 1632
BRANDAO, Francisco, Quinta parte da Monarchia lusytana : que contem a historia
dos primeiros 23. annos delRey D. Dinis... / escrita pelo Doutor Fr. Francisco
Brandão... - Em Lisboa : na officina de Paulo Craesbeeck, 1650.
CARDOSO, Pe. Luís, «Diccionario Geografico ou Noticia Historica de todas as
Cidades, Villas, Lugares e Aldeas, Rios, Ribeiras, e Serras dps Reynos de
Portugal e Algarve, com todas as cousas raras, que nelles se encontraõ, assim
antigas, como modernas», Tomo I, p. 479, Lisboa, na Regia Oficina Sylvana e da
Academia Real, 1747.
COCHERIL, Maur (1978) – “Routier des Abbayes Cisterciennes du Portugal”, Paris,
Fundação Calouste Gulbenkian - Centro Cultural Português (2.ª edição, Paris,
1986)
GONÇALVES, Iria – O Património do Mosteiro de Alcobaça nos séculos XIV e XV,
edição da Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, Lisboa, Julho de 1989
CORREIA, Fernando Branco – “Fortificações de iniciativa omíada no Gharb
al-Andalus nos séculos IX e X: hipóteses em torno da chegada dos Majus (entre
Tejo e Mondego)”, in
Fortificações e Território na Península Ibérica e no Magreb (Séculos VI a XVI)
– II Simpósio Internacional sobre Castelos. Lisboa, Edições Colibri, 2013.
LARCHER, Jorge das Neves – Castelos de Portugal – Distrito de Leiria ,
ImprensaNacional de Lisboa, 1933.
LARCHER, Tito Benvenuto de Sousa, «Dicionário Biográfico, Corográfico e
Histórico do Distrito de Leiria», Leiria, 1907
LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de – Portugal antigo e moderno :
diccionario geographico... , Volume Primeiro, Lisboa, Livraria Editora de
Mattos Moreira & Companhia, 1873.
LEROUX, Gérard, «Frei Manuel de Figueiredo – Memórias de várias vilas e terras
dos Coutos de Alcobaça (1780-1781)», Alcobaça, Jornal «O Alcoa», 2020
MACHADO, J. T. Montalvão, “Itinerários de El-Rei D. Pedro I”, volume I
(1357-1367), Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1978.
PINA, Rui de Pina, “Crónicas de Rui de Pina”. Lello e Irmão Editora, Porto,
1971.
RODRIGUES, Maria Teresa Campos, “Itinerários de Dom Fernando (1367-1383),
Separata de Bracara Augusta, 32 Braga, 1978.
SANTOS, Frei Manuel dos – Alcobaça illustrada: Noticias e Historia dos
Mosteyros et monges insignes Cistercienses da Congregaçam de santa Maria de
Alcobaça da Ordem de S. Bernardo nestes Reynos de Portugal et Algarves,
Primeira Parte, impresso na Oficina de Bento Seco Ferreira, Coimbra, 1710.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo, “Itinerários de El-Rei D. João II”, volume I,
Academia Portuguesa de História. Lisboa, 1975.
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