quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A terra de infindo sal: a «Lamentação da Mula» de Henrique da Mota


Henrique (ou Anrique) da Mota

     Quando Garcia de Resende publica em 1516 o seu Cancioneiro Geral, uma antologia poética dos reinados de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I, preservou nessa obra a quase totalidade da produção literária conhecida de Henrique de Mota.

     Henrique da Mota terá nascido no Bombarral numa data estimada entre 1470 e 1480 no seio de uma família possuidora de vinhas, pomares e pinhais. Na sua juventude, forma-se em Direito e exerce o cargo de Juiz de Órfãos em Óbidos. Foi escudeiro na corte de D. Manuel e em 1527 era escrivão da corte no reinado de D. João III e participa no recenseamento populacional do reino (o Numeramento de 1527-1532), mais propriamente em Lisboa e Coimbra; e é da cidade dos estudantes que dirige em 1528 uma carta ao monarca onde aborda o tema de D. Pedro e Inês de Castro, e que incluía um pequeno diálogo entre os dois amantes com algumas caraterísticas teatrais. Ainda era vivo em 1545, data da última referência documental que se lhe conhece.

     Das suas criações no Cancioneiro Geral, as mais importantes são cinco pequenas farsas, cujos títulos hodiernos parecem ter sido fixados por Leite de Vasconcelos: o Pranto do Clérigo, a Farsa do Alfaiate, a Farsa do Hortelão, a Lamentação da Mula, e o Processo de Vasco Abul.  A Farsa do Alfaiate (enunciada no Cancioneiro como Outras [trovas] suas a hum alfayate), foi considerada por Leite de Vasconcelos (Revista Lusitana, 1924) como «uma das mais antigas peças do teatro português». O teatro de Henrique da Mota releva a sua familiaridade com a vida, as personagens e os tipos desta região estremenha.

As criações de Henrique da Mota no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende

     Depois de algum menosprezo para com a obra de Henrique da Mota, os estudos de Leite de Vasconcelos, Neil T. Miller ou Andrée Crabée Rocha parecem situar o autor como um pioneiro na génese do teatro português. Qualquer um destes cinco poemas são para serem representados - são entremezes - e, apesar de algumas incertezas cronológicas, existe uma identidade cada vez mais nítida entre este conjunto modesto (mas essencial) de diálogos dramáticos de Henrique da Mota e a maturidade e a proficiência do copioso teatro de Gil Vicente. Andrée Crabée Rocha assinala na obra de Henrique da Mota a transição do género poético ao género dramático, escrevendo que ela nos dá a impressão de uma criança que balbucia primeiro e articula depois.


A Lamentação da Mula - enredo e significado

     Trovas d’Anrique da Mota a ũa Mula muito magra e velha que viu estar no Bombarral à porta de dom Diogo filho do Marquês e era de dom Anrique seu irmão, que ia em romaria a Nossa Senhora de Nazarete e levava nela um seu Amo.

     Assim se inicia a Lamentação da Mula ou Outras [trovas] a uma Mula, como é intitulado no Cancioneiro. A farsa desenrola-se em dois passos. Num primeiro, à porta de Dom Diogo, o diálogo estabelece-se entre Henrique da Mota e a esquálida mula, e no qual intervém também Gomes Henriques e o Amo da mula - conversa que termina com a partida destes dois para o santuário da Nazaré. Num segundo passo, indo Henrique da Mota uns dias depois a Alcoentre para se encontrar com Henrique, filho do Marquês, aí encontra de novo a Mula, que lhe conta detidamente as desventuras da peregrinação.

     Maria José Palla (Medir o tempo, medir as estações - a farsa vicentina e o Carnaval, p. 257, Lisboa, 2001) recorda que na Lamentação da Mula, o protagonista é um animal, símbolo do povo famélico, topoi que encontramos noutros textos dramáticos do século XVI (cf. Quem Tem Farelos). Num outro sentido, a mesma investigadora sugere que a Lamentação da Mula seria uma farsa para ser representada no período do Carnaval - a mula magra e esfomeada seria um símbolo da Quaresma.

     A primeira destas asserções parece-nos pertinente, porque são muitas as expressões no texto que a parecem confirmar, retratando uma mula que, à semelhança do povo, suporta trabalhos e passa fome e privações.

     A magreza e a fome da mula são evocadas em linhas satíricas: pela sua grã magreira não deveria ter dores de baço (v. 10-11); tinha feição de lamprea na longura da barriga pouco chea (v. 41-43); tende-los ossos mui altos e a carne mui somida (v. 91-92); a mula parece longa varanda / de taverna, trave longa muito panda / zambuco que se não manda / nem governa (v. 158-162).

     A identificação entre a mula magra e velha da farsa e o povo ganha consistência nalgumas passagens: quando foi d'Alfarroubeira, qu'andáveis [diz Henrique da Mota] na dianteira cos del rei; e conta a mula que havia nascido no tempo de D. Duarte e já quatro reis havia servido. E ela, a mula magra e ossuda a quem o Amo tomava a cevada, na despedida antes de partir para o santuário diz aos senhores do Bombarral: E a cousa principal / que a Deos peçais / qu'esta fome tam geral / que anda em Portugal / nam dure mais (v. 195-198). E como se falasse dos que trabalham, famintos, sob as ordens dos seus amos, lastima-se a Dom Diogo no regresso ao Bombarral: O senhor qu'esquecerá / logo se diga / ante que daqui se vá / que depois nam lembrará minha fadiga / todos teveram folgança / senhor meu neste caminho / cevada pão carne vinho / tudo foi em abastança / Todos andam em bonança / sem tromenta / senam eu sem esperança / qu'esta fome por herança / m'atormenta (v. 428-442).

Os lugares da viagem: Arelho, Salir, Alfeizerão, Famalicão, Pederneira, Alcobaça, Caldas

     Transcrevo um trecho da viagem da mula (v. 226-342) e do seu amo à Nazaré (no qual destacarei os topónimos), ao qual adicionei três notas miúdas. Esta, como as outras quatro farsas de Henrique da Mota, podem ser lidas no portal do Teatro de Autores Portugueses do século XVI. Em alternativa poderá ser consultada a versão eletrónica do Cancioneiro Geral no sítio da Biblioteca Nacional (já com alguns sinistros, ou "sinistristes", traços de censura).


e fomos ter no Arelho
onde lá esses senhores
e todos seus servidores
todos eram dum conselho:
linguado perdiz coelho
e em fim
muito branco e vermelho
e eu em um palheiro velho
por roim 


pois lá em Selir do Porto
que terra de fi de puta
de cevada mui enxuta
carecida de conforto.
Suei sangue ali no horto
com paixão
meu esforço ali foi morto
porém foi o grande torto
sem razão 


que vos juro de verdade
que como fomos chegados
todos foram apousentados
senam eu que grã maldade.
Nam haverem piadade
de meu mal
e de minha etiguidade
senam só Lopo d’Andrade
que me val 


o qual me deu por pousada
ũa casa muito fria
de vianda mui vazia
mui varrida e mui aguada.
E selada e enfreada
me deixarame a porta bem fechada
sem me dar de comer nada
se tornaram 


fiquei assi passeando
chorando minhas fadigas
em minhas obras antigas
como já case sonhando.
Muitas vezes sospirando
por comer
os galos todos cantando
e eu triste arrenegando
sem prazer 


senam quando ei-lo vem
c’ũa quarta dũa quarta
de farelos que mal farta
quem tam grande fome tem.
Mas eu disse: nam combém
d’enjeitar
este tam pequeno bem
por que nam fique aquém
de cear


fomo-nos Alfeizirão [Alfeyziram]
onde há infindo sal (1)
nam levei eu dali al
senam dor de coração.
Dali a Famalicão [Famalycam]
nam tardámos
que nome de maldição (2)
que nem cevada nem pão
nam achámos 


e dali a Pederneira
levei um bom suadoiro
mas eu nam levava coiro
no lombo nem na cilheira.
Levava mui grã peteira
na barriga
muita fome grã lazeira
e cheguei desta maneira
com fadiga 


bem disse o sabedor:
hoje mal e pior crás (3).
Se eu mal passei atrás
ali foi muito pior.
D’area lá meu senhor
fartar me manda
ela tem mui gentil cor
mas dai ò demo o saborda vianda 


tomámos outra jornada
lá caminho d’Alcobaça
eu lavava pouca graça
porqu’ia mui esfaimada.
Ali fui atormentada
nesta via
e na cruz mui marteirada
com a sela bem lograda
que corria 


fiquei muito descansada
quando me vi no moesteiro
em poder do estribeiro
de poder deste tirada.
E fiquei mui espantada
quando vi
cevada já debulhada
ante mim apresentada
que comi 


tive muitas alegrias
os dias qu’ali passei
nam sei quando tais três dias
em meus dias passarei.
Grã saudade tomei
na partida
e partindo comecei:
oh quam pouco que logrei
esta vida 


assi triste lamentando
me parti e sem prazer
outros mil males passando
que nam são pera dizer.
Às Caldas viemos ter
sem tardar
perguntei por mais saber:
estas águas tem poderde m’engordar?



(1) A Alfeizerão de infindo sal fixa em verso as prósperas salinas da vila, e de imediato a Mula diz que não levou dali outra coisa senão dor de coração, sugerindo a identidade semântica entre a dor e o sal das lágrimas.

(2) O nome de maldição de Famalicão pode ter uma explicação simples, que resulta ser a sua semelhança fonética com famélico. Na terra com esse nome aziago, a Mula não descobriu cevada nem pão.

(3) Provérbio que usa o advérbio latino cras, amanhã; o que será como dizer: Hoje mal e pior amanhã.
Outra forma literária do provérbio é: hoje mal e cras empiora.





Fontes utilizadas

ESTEVES, Elisa, O Vinho na Poesia Menor de Anrique da Mota, Colóquio Internacional NVNC EST BIBENDVM. Vinho. Identidades e Arte de Viver, Universidade Nova de Lisboa, 13-15 de Dezembro 2012

MILLER, Neil T. (Apresentação e estudo), Obras de Henrique da Mota - As origens do teatro ibérico, Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1982.

PALLA, Maria José, Medir o tempo, medir as estações - a farsa vicentina e o Carnaval, Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, n." 14, p. 257, Edições Colibri, Lisboa, 2001.

REBELLO, Luíz Francisco, O Primitivo Teatro Português, Biblioteca Breve, volume 5, Instituto de Cultura Portuguesa, 1997.

RESENDE, Garcia de, Cancioneiro geral : cum preuilegio / [Foy ordenado e eme[n]dado por Garcia de Reesende fidalguo da casa del Rey nosso senhor e escriuam da fazenda do principe]. - Almeyrym e acabouse na muyto nobre e sempre leall cidade de Lixboa : per Hermã de Cãmpos, 28 Sete[m]bro 1516

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A pena e o convento: autores nascidos nos Coutos de Alcobaça

     A alusão em vários autores a Fr. Dionísio do Couto, um frade cisterciense nascido em Alfeizerão que deixou obra escrita sobre direito pontifício, conduziu-nos à fonte de onde essa informação foi colhida, a obra de referência do presbítero e bibliógrafo Diogo Barboso Machado (1682-1772): Biblioteca Lusitana, obra em 4 volumes. O primeiro Tomo foi impresso em 1741 (Lisboa, Oficina de António Isidoro da Fonseca), e os seguintes em 1747 (Lisboa, Oficina de Inácio Rodrigues), 1752 (Idem), e 1759 (também em Lisboa, pela Oficina patriarcal de Francisco Luís Ameno). Todas elas podem ser consultadas em formato eletrónico em páginas Web como a do Archive.org.

     A folha de rosto da obra apresenta-nos no título uma descrição meticulosa do seu conteúdo, à qual se soma um sucinto perfil do autor: Bibliotheca lusitana historica, critica, e cronologica. Na qual se comprehende a noticia dos authores portuguezes, e das obras, que compuseraõ desde o tempo da promulgação da Ley da Graça até o tempo prezente por Diogo Barbosa Machado, Ulisiponense, Abbade da Paroquial Igreja de Santo Adrião de Sever e Académico do Número da Academia Real.

     Nesta obra, são muitos os autores estudados que foram monges cistercienses em Alcobaça, havendo também inúmeras menções a obras que se guardavam na célebre livraria do Mosteiro.

     Neste artigo, optamos por destacar os autores nascidos nos Coutos de Alcobaça. Atualizamos a grafia da obra original de Barbosa Machado (exceto no título das obras), e abreviamos pontualmente algumas das entradas bio-bibliográficas. As vilas dos domínios do mosteiro que se encontram representadas na Bibliotheca são: Alcobaça (12 autores), Alfeizerão (1), Aljubarrota e Batalha (8), Alvorninha (1), Cela (2), Cós (2), Évora de Alcobaça (2), Paredes da Vitória (1), Pederneira e Nazaré (3), S. Martinho do Porto (2), Salir de Matos (1), e Santa Catarina (2).


ALCOBAÇA

     Fr. FRANCISCO DE ALCOBAÇA, cujo apelido denota o lugar que lhe deu o nascimento, e Monge da famosa Abadia, cabeça da Ordem Cisterciense neste Reino, situada na mesma vila de Alcobaça. Foi ornado de singular prudência, natural discrição e religiosa observância. Floresceu pelos anos de 1597.
Compôs:
Contra Judaicam perfidiam maxime contra hujus temporis Judeos. Da obra e do autor se lembram Carol. de Vich. Bib. Cister. Carol. Joseph Imbonat. Bib. Latin. Herb. pag. 40 § 162, e Fr. August. Sartor. Cisterc. Bistert. pág. 565. in quo fala da obra: in obstinatissimam gentem doctissima fulmina detonuit.



       PEDRO DE ALCOBAÇA, natural da vila do seu apelido, e Monge Cisterciense no Real Convento da mesma vila. Foi muito versado na lição da Sagrada Escritura e Santos Padres.
Compôs:
In omnes Epistolas D. Pauli, fol. M. S. [manuscrito]. Conserva-se na Livraria do Mosteiro de Alcobaça.



     Fr. ANTÓNIO BRANDÃO, nasceu na vila de Alcobaça em 5 de Abril de 1584, sendo seus pais Rodrigo Dias Rebelo e Antónia Brandoa, ambos descendentes de famílias nobres. Na fonte batismal lhe impuseram o nome de Marcos por ter nascido no dia consagrado a este Evangelista, logo se lhe antecipou com tal excesso o engenho à idade, que quando contava quatro anos sabia ler, escrever, e de oito anos aprendia com grande aplicação a língua latina da qual para alcançar mais perfeito conhecimento, e lançar os sólidos fundamentos para maiores faculdades, foi mandado por seus pais para casa da sua avó materna que assistia em Lisboa por esse tempo, que com igual aclamação do seu nome, como emolumento da República literária, ensinava as letras humanas no Colégio de Santo Antão o insigne Francisco de Mendonça do qual foi instruído nelas por espaço de dois anos, saindo tão excelente Retórico e elegante Orador que recitou cinco Orações, umas em verso e outras em prosa, primeiros frutos do seu florido engenho onde admiraram os circunstantes felizmente unida a viveza das ações e a energia da frase com a fineza e sublimidade dos conceitos (…) Iguais progressos fez na palestra da Filosofia quando tinha catorze anos, como fizera nas letras humanas tendo por Mestre daquela faculdade o mesmo Mendonça, cujo curso não pôde acabar por fugir ao flagelo da peste que fatalmente devastava Lisboa. Restituído à sua pátria e obedecendo à vocação de Deus recebeu na florente idade de quinze anos no Real Convento de Alcobaça a cogula cisterciense no ano de 1599 e para que deixasse toda a memória do século, até deixou o nome de Marcos pelo de António entregue à disciplina do virtuoso varão Fr. Francisco de Santa Clara, era já em noviciado veterano na observância regular. Continuamente se ocupava na lição das vidas dos seus primitivos monges, desejando imitar os vestígios de varões tão austeros. Macerava com tantas mortificações e disciplinas o corpo que muitas vezes não se podia sustentar em pé. Com tal excesso se arrebatava na suave contemplação das delícias celestiais que era preciso, para se restituir aos sentidos, que o despertassem os outros noviços com grande violência como de um profundo letargo. Nestas e outras virtudes se exercitava com tal excesso, que se a prudência do Mestre lho não moderasse, primeiro acabaria a vida do que o noviciado. Passados cinco anos depois de feita a profissão solene, não dedicou menor cuidado ao estudos das Ciências Escolásticas do que aplicara em alcançar as virtudes religiosas, sendo indeciso entre os seus domésticos em qual delas era mais eminente, principalmente quando pelo largo espaço de dezoito anos lhes ensinou as faculdades da Filosofia e Teologia, recebendo em recompensa do seu grande magistério a Borla Doutoral na Universidade de Coimbra no ano de 1621. Inflamado com o nobre ardor de dilatar a glória deste Reino, posto que impedido com as multiplicadas ocupações que exercitou na Religião, sendo Secretário do Geral por duas vezes, Definidor, Abade do Convento de Lisboa e, ultimamente, Geral de toda Congregação Cisterciense, deliberou prosseguir a História da nossa Nação que ficara interrompida [interrupta] pela morte do insigne Fr. Bernardo de Brito, principalmente quando sucedeu a D. Manuel de Meneses no lugar de Cronista-mor do Reino, consumindo larga diuturnidade de dez anos em revolver e examinar os mais antigos e veneráveis Cartórios dos Mosteiros, Igrejas, Cidades, e vilas, e sobre todos o Real Arquivo da Torre do Tombo, não perdoando seu indefeso trabalho a todo o género de diligência para conseguir fim de tão heroica empresa de que resultou escrever uma História clara, sólida, verdadeira, copiosa, bem digesta, lendo-se nela a genealogia certa dos nossos monarcas, os seus nascimentos, mortes, descendência, ações mais memoráveis obradas tanto na paz como na guerra, as origens das famílias ilustres, brasões e apelidos de que usam; as fundações, forais e privilégios dos mais célebres Conventos, Igrejas, cidades e vilas de todo o Reino, o princípio das Catedrais, o catálogo e sucessão dos seus Prelados e todos os sucessos dignos de memória (…).
Compôs:
Terceira Parte da Monarchia Lusitana que contem historia de Portugal desde o Conde D. Henrique, e todo o reinado delRey D. Affonso Henriquez. Lisboa por Pedro Crasbeeck. 1632. fol.
Quarta Parte da Monarchia Lusitana que contem historia de Portugal desde o tempo delRey D. Sancho primeiro até todo o Reynado delRey D. Afonso Terceiro. Lisboa pelo mesmo Impressor, 1632. fol.(…).



     D. Fr. ANTÓNIO BRANDÃO, sobrinho do precedente e irmão de Fr. Francisco Brandão, Cronista-mor do Reino, de quem fazemos memória em seu lugar. Nasceu na vila de Alcobaça, e seguindo exemplo destes dois insignes varões quis unir-se eles com outro mais ilustre vínculo do que lhe dera a natureza, o qual foi o da religião, recebendo hábito monacal de S. Bernardo no Real Convento da sua pátria em 1 de Fevereiro de 1637, quando contava dezassete anos. Não somente os imitou nas virtudes mas nas ciências em que foi eminente, pelas quais o admitiu entre os seus Doutores a Universidade de Coimbra. A sua grande prudência o fez capaz de administrar com zelo os maiores lugares da sua Congregação Cisterciense sendo Procurador-Geral, Abade do Convento do Desterro, e Geral, eleito no ano de 1672. Ainda não tinha acabado este governo quando a Majestade D’El Rei D. Pedro II o julgou digno de outro maior, nomeando-o Arcebispo de Goa, aonde chegou a 24 de Setembro de 1675 (…). No tempo do seu Generalato renovou a solenidade e culto do lausperene no Real Convento de Alcobaça a 21 de Novembro de 1672, o qual se continua incessantemente por dez Monges de dia e de noite, a que chamam Decanias, substituindo a estes outros dez quando acabam uma Hora do Coro, enchendo por esta repartição quarenta Monges deputados para este louvável ministério as horas que restam do Coro Conventual. Para direção deste sagrado exercício compôs juntamente com o seu sobrinho, Fr. Paulo Brandão: 
Regimento das Decanias do Lausperene, que se observa em Alcobaça. Fol. 6 tom. Que se conservam M. S. no Cartório do mesmo Convento.
Regimentos pelos quais se deve governar cada um dos Oficiais do Convento de Alcobaça. fol. M. S. Guardam-se no mesmo Convento (…).



     Fr. FRANCISCO BRANDÃO , nasceu na vila de Alcobaça a 11 de Novembro de 1601, onde depois de estudar os preceitos da Gramática, passou à vila de Santarém para nela assistir um seu tio cónego que o educou com exemplares documentos. Completos dez anos em que pela viveza do engenho superior à verdura da idade, sabia perfeitamente a língua Latina e as humanidades, partiu em companhia de um outro seu tio, Fr. António Brandão, monge cisterciense (de quem sem seu lugar se fez digna memória), para o Real Convento de Alcobaça onde havia de ditar [«dictar» - ensinar] Filosofia, e entre os seus claustros como se fora religioso assistiu alguns anos, admirando os moradores daquele venerável Mosteiro a modéstia do semblante, a profundidade do talento, e subtileza do juízo que mostrava em anos tão tenros. O familiar comércio dos Monges lhe foi suavemente inclinando o ânimo para que, sem revelar ao tio a sua resolução, pedisse a cogula Cisterciense que benevolamente lhe concedeu o Geral como prevendo o grande crédito que haveria de resultar à religião com um tão insigne filho. Recebido o hábito monacal no Real Convento de Alcobaça a 25 de Agosto de 1618 e feita a profissão solene a 29 do dito mês do ano seguinte, ouviu a Filosofia do Doutor Fr. Estevão de Sequeira, e em Coimbra estudou Teologia, saindo tão profundamente versado nestas Faculdades que não somente as ditou pelo espaço de seis anos aos seus domésticos, mas foi laureado Doutor Teólogo pela Universidade de Coimbra. Para não degenerar do génio de seu tio Fr. António Brandão o imitou por igual nas ciências severas como nas amenas, aplicando-se desde os primeiros anos ao estudo da História, principalmente do nosso Reino em que foi tão versado que mereceu substituir a seu tio no lugar de Cronista-mor em que foi provido a 19 de Janeiro de 1649 (…). Foi Qualificador do Santo Ofício, Examinador das Três Ordens Militares, Esmoler-mor, e por duas vezes Geral da sua autorizada Congregação; a primeira no ano de 1667 e a segunda no ano de 1674. Faleceu no Convento de Nossa Senhora do Desterro desta Corte a 28 de Abril de 1680.
Compôs [entre outras obras]:
Quinta Parte da Monarchia Lusitana, que contem a historia dos primeiros 23 anos del Rei D. Diniz. Lisboa, por Paulo Craesb., 1650. Fol.
Sexta parte da Monarchia Lusitana, que contem a historia dos ultimos 23 anos del Rei D. Diniz. Lisboa, por João da Costa, 1672, Fol.



     Fr. GASPAR BRANDÃO - natural da vila de Alcobaça, solar ilustre de insignes varões deste apelido, sobrinho de D. Fr. António Brandão, Arcebispo de Goa e do Doutor Francisco Brandão, Cronista-mor do Reino, ambos Monges Cistercienses, cujo sagrado instituto recebeu no Convento de S. João de Tarouca a 24 de Janeiro de 1642, e professou solenemente a 28 do dito mês do ano seguinte. Tendo ditado aos seus domésticos as principais matérias da Teologia Escolástica e Positiva, recebeu as insígnias Doutorais na Universidade de Coimbra, onde foi Condutário, provido em 30 de Julho de 1677 e Lente da Cadeira de Durando [Durando de Saint-Pourçain, teólogo e filósofo escolástico] em que deu a conhecer a viveza do seu engenho e a profundidade do seu talento. Faleceu no Convento de Alcobaça no ano de 1682 e jaz sepultado na Casa do Capítulo. 
Compôs:
Tractatus de Fide, e Spe.Tractatus de IncarnationeTractatus de Trinitate.Tratactus de Gratia.Tractatus de Eucharistia.
Todas estas matérias sendo digníssimas de luz pública a merece como maior entre elas:
De sensibus Sacrae Scripturae. fol. M. S. onde com subtil investigação e profunda inteligência penetra e expõe os mistérios mais ocultos de um e outro Testamento. Todas estas obras se conservam M. S. no Colégio de S. Bernardo de Coimbra.



     Fr. PAULO BRANDÃO, natural da vila de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, filho de Pedro Varela e Maria de Almeida, sobrinho pela parte materna do Ilustríssimo Arcebispo de Goa, D. Fr. António Brandão e de Fr. Francisco Brandão, cronista-mor do Reino, dos quais se fez memória em seu lugar. Vestiu a cogula cisterciense no Real Convento da sua pátria a 21 de Janeiro de 1650, e professou solenemente a 25 do dito mês do ano seguinte. Foi ornado de subtil engenho e feliz memória, com que compreendeu as ciências amenas e severas. Ocupou os lugares de Secretário da sua Congregação no tempo em que foi Geral seu tio Fr. Francisco Brandão, e Abade de Mosteiro de Santa Maria de Seiça. Faleceu no Convento de Alcobaça em 20 de Maio de 1681.
Compôs:
Disposição do Lausperene do Convento de Alcobaça. fol. M. S. Esta obra escrita no ano de 1672 está ornada de poemas, emblemas e anagramas que manifestam o engenho do seu autor.
Apologia pela Visão do Campo de Ourique feita ao nosso primeiro Monarca D. Afonso Henriques, contra Fr. João Caramuel que a nega no livro Philippus Prudens.



    CRISTÓVÃO DE ALMEIDA DE ALBUQUERQUE E GUSMÃO, natural da vila de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa. No tempo em que frequentava os estudos severos na Universidade de Coimbra, querendo mostrar que não era ignorante dos estudos amenos, publicou: Metros vários, Coimbra, por António Simões Ferreira, 1745, 4.




     Pe. GASPAR DE MACEDO. Nasceu na vila de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa onde teve por pais a Pedro Leitão e Maria de Macedo. Entrou para a Companhia de Jesus no Colégio de Coimbra a 6 de Janeiro de 1615 onde ditou Retórica e Filosofia. E Sagrada Escritura na Universidade de Évora na qual recebeu o grau de Doutor. Fazendo uma missão na vila de Setúbal instituiu nela a Confraria de S. Francisco Xavier, ainda quando a sua religião não tinha Colégio na dita vila. Pela muita afabilidade de que era dotado atraiu os ânimos de todo o género de pessoas. Voltando das Caldas aonde fora buscar remédio para o achaque que padecia, foi acometido de uma febre tão perniciosa que o privou da vida a 11 de Outubro de 1649 (…).
Compôs.
Sermão pelo bom Sucesso das Armas Portuguesas pregado no Colégio da Universidade de Évora a 30 de Maio de 1644. Lisboa por Lourenço de Anvers, 1644. 4.
In obitu Excellentissimi Principis Odoardi, epicedium (…).
Elegia ao mesmo assunto (…) Consta de 25 dísticos com 6 epigramas ao mesmo argumento, que tudo vimos. M. S.



     BELCHIOR DO CRATO DA SILVEIRA DE AGUIAR MOUZINHO, Cavaleiro professo da Ordem Militar de Avis. Nasceu nos Coutos de Alcobaça, Comarca da Estremadura a 12 de Março de 1670, sendo filho de Inácio da Silveira do Crato e D. Isabel Maria Silveira do Crato. Ainda que tenha seguido a vida militar, nunca interrompeu o estudo da História, Genealogia e Matemática, com grande emolumento da sua aplicação.
Compôs:
Discurso Genealogico, Historico, e Panegyrico em que se faz memoria da ascendencia do grande D. Nuno Alvares Pereira de Mello, primeiro Condestavel de Portugal, sua descendencia e alianças com todas as Coroas e Casas grandes da Europa pela Serenissima Casa de Bragança, com as ascendencias das Duquezas que forão daquele Estado, e da Condessa de Ourem D. Leonor de Alvim, Consorte do mesmo D. Nuno Alvares Pereira, fol. M. S.



     MANUEL MADEIRA DE SOUSA, célebre patrono de causas forenses, nasceu na vila de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, e na Paroquial Igreja do Santíssimo Sacramento recebeu a sua primeira graça a 17 de Março de 1697. Foram seus progenitores João de Sousa e sua mulher, Benta Madeira. Estudadas as letras humanas na pátria, em que mostrou invulgar engenho, passou à Universidade de Coimbra onde, depois de frequentar a Filosofia, se aplicou ao estudo da Jurisprudência Cesárea, em que fez Formatura a 22 de Janeiro de 1723, com aplauso dos catedráticos. Provada a sua ciência legal no Desembargo do Paço, preferiu ao exercício de Juiz, o de advogado da Casa da Suplicação, e Síndico do Hospital Real de Todos os Santos, para cujo aumento incessantemente trabalhou. Faleceu em Lisboa a 12 de Outubro de 1757.
Compôs [entre outras obras apontadas]:
Resposta que em huma Allegação de Direito se defende a Jurisdição do Tribunal do Santo Officio contra a Pastoral do Excellentissimo e Reverendissimo Senhor Arcebispo de Evora. Sem nome de autor. Saiu impressa na Colleção primeira dos papéis que se publicaram contra os Sigilistas. Madrid, na Oficina dos herdeiros de Francisco del Hierro, 1746, 4.



     Fr. SEBASTIÃO VARELA, natural da vila de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, Eremita Augustiniano, cujo instituto abraçou no Convento de Goa, onde aprendeu as ciências escolásticas. Restituído a Portugal, foi prior do Convento de Montemor. Segunda vez passou à Índia no ano de 1675, acompanhando o seu tio, o ilustríssimo Arcebispo de Goa, D. Fr. António Brandão, Monge Cisterciense, onde depois da morte deste prelado, sucedida a 28 de Junho de 1678, assistiu até que também faleceu. Compôs a instâncias do Grão Duque da Toscânia: Relação de tudo que tiverão os Portugueses, e tem hoje na Índia. fol. M. S. É muito extensa.



ALFEIZERÃO

     Fr. DIONÍSIO DO COUTO - natural da vila de Alfeizerão dos Coutos de Alcobaça, monge cisterciense e filho do Real Mosteiro de Alcobaça. Foi muito douto em Direito Pontifício, compondo:
Casus abbreviati super Decretales. Fol. M.S. Conserva-se na Biblioteca do Convento de Alcobaça.


ALJUBARROTA (e Batalha)

     Fr. EDMUNDO DE ALJUBARROTA - natural desta vila célebre pela famosa batalha que as armas Portuguesas alcançaram das Castelhanas a 14 de Agosto de 1385. Professou o Instituto Cisterciense no Real Convento de Alcobaça onde se conserva a seguinte obra que escreveu:
Reformatio libelli judiciarii à D. Gravaredo compsiti anno 1326. M.S.



     JOSÉ GOMES AMADO DE AZAMBUJA, natural da vila de Aljubarrota do Patriarcado de Lisboa e morador na cidade de Coimbra, filho de Manuel Gomes Vogado de Azambuja, e de D. Maria Amada. Aplicou-se com particular desvelo ao estudo da Genealogia, compondo:
Famílias do Reyno de Portugal, 10 Tomos, fol. M. S.
Arvores de Costados divididas pelas Provincias do Reyno, M. S.



     MANUEL TAVARES DE SOUSA, Capelão Fidalgo da Casa Real, nasceu na vila de Aljubarrota do Patriarcado de Lisboa no ano de 1680, sendo filho de António Tavares de Sousa e D. Maria Pereira. Foi muito estudioso da genealogia, escrevendo:
Nobiliario de diversas Famílias de Portugal, fol. M. S. Conserva-se em poder de José Gomes Amado de Azambuja, parente do Autor.
Casas ilustres de Castella. M. S. Compôs esta obra quando assistiu em Castela, a qual deu José Gomes Amado ao P. Mestre Fr. Manoel de S. Caetano, duas vezes Provincial da Seráfica Província de Portugal.
     Faleceu no ano de 1647, quando contava 67 anos de idade (…).



     Fr. MARTINHO DE ALJUBARROTA, cujo apelido denota a pátria que lhe deu o berço, situado nos Coutos de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, Monge Cisterciense. Traduziu por ordem de Dom Fernando Mendes, Abade Perpétuo de Alcobaça, no ano de 1607, da língua latina à materna:
Regra de S. Bento. fol. M. S. Conserva-se na Biblioteca do Real Convento de Alcobaça.



     MARCELINO LEITÃO DE MACEDO, filho de Pedro Leitão e Maria de Macedo, ambos de nobre geração, e natural da vila de Aljubarrota. Abraçou o instituto de Jesuíta quando contava 15 anos a 6 de Abril de 1621, donde saindo egregiamente instruído nas letras humanas, não deixou de cultivar as Musas que sempre experimentou propícias ao seu entusiasmo, compondo o poema heroico que consta de 8 livros, com o título seguinte:
Occultus Lusitaniae Rex Joannes, sive Lusitania Restauratan sub Rege Joanne IV. 4. M.S. Dedicado ao Príncipe D. Teodósio, e se conserva na Biblioteca Real (…) É excelente assim na metrificação como na ordem do poema.



     Fr. VALÉRIO DE MOURA, natural da vila de Aljubarrota nos Coutos de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, filho de Julião de Moura Negrão e de D. Margarida de Moura. Professou o instituto da preclaríssima Ordem dos Pregadores no Convento de Santarém a 3 de Abril de 1675, onde na penetração das Ciências Escolásticas mostrou uma subtileza e admirável compreensão. Recebida a borla doutoral na Universidade de Coimbra, foi condutário com privilégios de Lente a 2 de Outubro de 1706, e igualado à Catedrilhas de Escritura em 10 de Novembro de 1718. Faleceu no Convento de Lisboa a 17 de Maio de 1721.
Compôs:
In Magiarum Sententiarum Comentaria, fol. 2 Tomos. Estavam prontos para a Impressão, como escreve Fr. Pedro Monteiro em Claust. Domin., Tomo 3, p. 320.



     Fr. MANUEL DE SANTA ROSA DE VITERBO – Nasceu na vila de Aljubarrota do Patriarcado de Lisboa no ano de 1666, sendo filho de Amaro João Preto, Juiz dos Órfãos da mesma vila, e de sua mulher, Helena Amada. Dotado de voz clara e sonora, entrou pupilo na Religião Seráfica onde, aprendendo as letras humanas, saiu tão consumado latino que foi admitido ao Noviciado no Convento de S. Francisco de Alenquer a 17 de Novembro de 1681. Nas ciências escolásticas fez tais progressos que, ditando Filosofia no Convento de Guimarães, foi eleito Mestre de Teologia no ano de 1702, a qual leu por espaço de doze anos no Colégio de S. Boaventura de Coimbra com tanto aplauso dos catedráticos, como se manifestava em todas as ocasiões [em] que argumentava, unindo a subtileza com a jocosidade com que se fazia plausível a todos os ouvintes. Foi guardião do Colégio de S. Boaventura, e Confessor do Mosteiro das Religiosas de Santa Ana de Lisboa. Faleceu no ano de 1722, quando contava 56 anos de idade e 40 de religião.
Compôs:
Sermão do Glorioso Patriarcha S. Domingos, prègado no seu Convento da Cidade do Porto em 4 de Agosto de 1696. Coimbra, por José Ferreira, Impressor da Universidade, e do Santo Officio, 1698, 4.
Hora Seraphica Immaculata ac Semper Virginis Maria ex Seraphici Doctoris D. Boaventura opusculis desumpta. Conimbricae apud Joanem Antunes, 1711, 12.
Familia dos Amados historiada. Depois de estar impressa esta obra no Colégio das Artes de Coimbra, se recolheu por razões políticas.



     Fr. SANCHO DA BATALHA - natural da vila que tomou por apelido situada nos Coutos de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, Monge Cisterciense, e muito douto em Teologia Dogmática.
Escreveu:
Speculum disputationis cum hereticis. fol. M. S.
Conserva-se na Biblioteca do Real Convento de Alcobaça.



ALVORNINHA

     Fr. CRISTÓVÃO DE ALVORNINHA - cujo apelido denota a pátria onde nasceu, que é uma vila dos Coutos de Alcobaça de que é senhor e donatário o Abade Geral da Congregação de Cister, cujo hábito professou no Convento de Santa Maria de Aguiar. Foi muito douto, assim na Sagrada Escritura, como na Teologia Escolástica, deixando para argumento infalível da ciência que tinha em ambas estas Faculdades a seguinte obra:
De Verbo Abbreviato. M. S. fol. o qual se conserva no Real Convento de Alcobaça.



CELA NOVA

     Fr. EUSÉBIO DA CELA - vila situada nos Coutos de Alcobaça, onde nasceu, e monge professo no Real Convento de Santa Maria de Alcobaça.
Escreveu:
Horae Sanctae CrucisHorae de Spiritu SanctoHorae de D. VirgineHorae pro DefunctisTudo se conserva M. S. no Arquivo do mesmo Real Convento.



     Fr. VITAL DA CELA - cujo apelido declara o lugar do seu nascimento que é uma das vilas dos Coutos de Alcobaça, em cujo Real Convento professou o instituto cisterciense. 
Escreveu:
Vita S. Martini collecta a M. Albino à Severo Sulpitio, & Gregorio Turonensi.Vita S. Britii, & aliorum Episcoporum Turonensium.Laudes S. Jacobi traslatio, & miracula. Epistola Turpini degestis Caroli Magni in Hispania.Comemoratio Alphonsi Primi Lusitanorum Regis.Vita & Passio S. Eutropii Sanctonensis Episcopi.
Todas estas obras M. S. se conservam na Livraria de Alcobaça.



CÓS

     Fr. FILIPE AFONSO - natural da vila de Cós do patriarcado de Lisboa e Monge Cisterciense no Real Convento de Alcobaça, muito douto na lição da Sagrada Escritura, e dos seus maiores intérpretes, escrevendo a seguinte obra que se conserva no Real Convento de Alcobaça.
Commentaria in Psalmos. M. S. fol.



     Fr. EDMUNDO DE CÓS - vila distante uma légua da vila de Alcobaça que lhe deu o berço. Recebeu a Cogula Monacal do Doutor Melífluo S. Bernardo no Real Convento de Alcobaça onde se guarda esta obra em que mostra a vasta notícia que tinha dos ritos e Cerimónias da sua Congregação:
Regimen Officiorum Ecclesiasticorum secundum Usum Cisterciensem. 4. M.S.



ÉVORA DE ALCOBAÇA

     PEDRO HENRIQUES DE ABREU, natural de Évora de Alcobaça, chamada ao tempo dos romanos Eburobritium, licenciado n na Faculdade dos Sagrados Cânones, Reitor da paroquial Igreja de S. Pedro de Farinha Podre do bispado de Coimbra. Foi muito versado na erudição sagrada e profana, e incansável investigador das antiguidades históricas, assim da sua pátria, como de todo o mundo, por cuja causa o intitularam João Franco Barreto (Bib. Portug. M.S.) Curioso Antiquário, e João Soares de Brito (Theatr. Lusit. Litter. Lit. P. n. 34) vir antiquitatum studiosus.
Escreveu com crítico exame: A Vida, e martyrio de S. Quiteria, e de suas oito Irmãas todas nacidas de hum parto portuguezas, e Prothomartyres de Hespanha com hum discurso sobre a antiga Cidade de Cinania. Coimbra, por Manuel Carvalho, 1651. 4.
     No Prólogo desta obra (que muito louva Jorge Cardoso no Agiol. Lusit. Tomo 3, p. 370 no Coment. de 22 de Maio, letra D, col. I) afirma que a escrevera naqueles intervalos que lhe permitiam as obrigações de pároco, prometendo publicar: Historia das Grandezas, e excellencias da Ilustrissima Igreja, e Real Cidade de Coimbra, M. S.



     Fr. JOSÉ DA ESPERANÇA, natural da vila de Évora dos Coutos de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, e filho de António Sueiro e Maria Coelha. Professou o severo instituto da Seráfica Província da Arrábida no Convento do Espírito Santo, situado no lugar de Loures, a 3 de Fevereiro de 1692, onde estudou as ciências severas. Depois de administrar diversas Guardianias, foi eleito Provincial a 2 de Dezembro de 1724, em cujo ministério conservou o primitivo rigor do seu instituto. Retirado para o Convento da Arrábida, finalizou a vida no ano de 1752 com suma piedade.
Compôs:
Jardim Espiritual em que se trata de quinze flores, distribuídas por quinze dias para proveito das almas que querem exercitar as virtudes. Lisboa, na Oficina dos herdeiros de António Pedroso Galrão, 1752, 8.



PAREDES DA VITÓRIA

     Fr. JOÃO DE PAREDES - natural da vila do seu apelido situada nos Coutos de Alcobaça, Monge Cisterciense, e muito douto na Teologia Escolástica.
Escreveu:
Compendium Sacrae Theologiae. fol. M. S. Conserva-se na Livraria do Real Convento de Alcobaça.


PEDERNEIRA E NAZARÉ

     MANUEL DE BRITO ALÃO, natural da vila da Pederneira do Bispado de Leiria, filho de Cristóvão de Brito Alão e neto de Nuno Gonçalves Alão, fidalgo da Casa Real. Frequentou a Universidade de Coimbra onde depois de receber o grau de Bacharel na Faculdade dos Sagrados Cânones, foi Abade de S. João de Campos, e Administrador das rendas do célebre santuário de Nossa Senhora da Nazaré, situado na sua pátria, de cuja administração lhe fez mercê Filipe II no ano de 1608, devendo-se à sua grande indústria a fábrica da Capela-mor onde se venera esta prodigiosa imagem, e à sua infatigável investigação relatar nos dois tomos seguintes que publicou:
Antiguidade da Sagrada Imagem de Nossa Senhora de Nazareth grandezas do seu sitio, casa e juridisção real sita junto à Villa da Pederneira. Lisboa, por Pedro Crasbeeck, 1628. & ibid por João Galrão, 1684. 4. 
Prodigiosas Historias, e miraculosos sucessos acontecidos na Casa de Nossa Senhora de Nazareth. Parte Segunda. Lisboa por Lourenço Crasbeeck, Impressor del Rei, 1637. 4. Neste ano ainda vivia o autor com mais de 82 anos de idade. Dele fazem menção Nicol. Ant. (Bib. Hisp. Tomo I, pag. 263, col. 2), Cardoso (Agiol.Lusit. Tomo 2, pag. 284. no Coment. de 23 de Março, letra C, col. I) e Fr. Petr. De Alva y Astorga (in Milit. Immac. Concept.)



     Pe. JOÃO DA NAZARÉ - natural da vila da Pederneira do Patriarcado de Lisboa, e filho de João Fernandes e Cecília Rodrigues tão dotados dos benefícios da graça como dos bens da fortuna. Na primeira idade mostrou génio inquieto e turbulento armando de motivos leves pendências graves que serviam de universal escândalo. Penetrado de um misterioso sonho mudou de condição e estado de vida recebendo o hábito de Cónego Secular do Evangelista amado no Real Convento de Santo Elói de Lisboa no faustíssimo dia da Assunção da Senhora, e debaixo de tão feliz auspício começou a sujeitar a rebeldia da carne às leis do espírito, jejuando Quartas, Sextas, e Sábados, e comendo na Quaresma e Advento manjares grosseiros, que nem satisfaziam o apetite com a quantidade, nem o deleitavam com o sabor. Todos os dias se açoitava duas vezes com disciplina de ferro fazendo mais penetrantes os golpes a atividade do impulso e a dureza do instrumento. Eleito Reitor do Convento de Vilar reedificou a Igreja para cuja obra concorreu o Céu com mão invisível. Armado de zelo apostólico se opôs à execução de um subsídio eclesiástico que ou por falta de conselho ou por excesso de ambição impusera o Arcebispo de Braga, D. Luís Pires da Cunha. Depois de ter governado catorze anos o Convento de Vilar, sendo-lhe revelado o termo da sua peregrinação, se despediu dos Padres de Santo Elói por uma carta. Tolerada com grande resignação a ultima enfermidade pelo espaço de três semanas em que triunfou de diversas sugestões diabólicas, recebidos os Sacramentos com ternura, expirou placidamente a 27 de Fevereiro de 1478 (…).
Compôs:
Tratados espirituaes.
Officios, e Hymnos a S. Gregório Magno, S. Jerónimo, Santo Ambrósio, S. Clemente Martyr, S. Nicolao Bispo, e outros Santos.
Officio de Nossa Senhora chamado Vigilia que todos os Sabbados se cantava nas Casas da Congregação,  como escreve o Padre Francisco de Santa Maria na Chronica dos Coneg. Secul. Liv. 3, pag. 821.



     Fr. DUARTE DA NAZARÉ - natural da vila da Pederneira do Patriarcado de Lisboa, monge cisterciense cujo Instituto professou no Real Convento de Alcobaça em cuja Livraria se conservam as obras seguintes que escreveu:
Historia de expugnatione Santarem ab Alphonso HenriquezLiber de fide Incarnationis S. Fulgentii.Libér Septem historiarum B. Orosii Presbiteri cum descriptione terrarum, & eventibus ante urbem conditam 1300. usque ad 1169. ab urbe condita.


S. MARTINHO DO PORTO

     Fr. ANTÓNIO DA MADRE DE DEUS, natural da vila de S. Martinho dos Coutos de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa, e filho de Francisco Ribeiro e Helena da Silva. Professou no estado de leigo na austera Província da Arrábida a 8 de Julho de 1735. Tem publicado as seguintes obras índices da sua devota aplicação:
Vozes do Desengano, que bradão aos ouvidos dos pecadores adormecidos no lethargo das culpas. Lisboa, na Oficina dos herdeiros de António Pedroso Galrão, 1743, 8. 
Eccos do temor, clamores da verdade reflectidos em proclamorosos brados do desengano para despertar os pecadores do profundo sono da culpa, e do esquecimento que tem da eternidade. Lisboa, por Pedro Ferreira, 1748, 8. 
Progymnasmo Sagrado, que convida e ilustra aos Catholicos para assistirem pelo estylo mais próprio ao Santo Sacrificio da Missa e para practicarem pelo mesmo modo o inefavel  exercício da Communhão Eucharistica. Lisboa, pelos herdeiros de António Pedroso Galrão, 1748, 12. 
Elogio do preclaríssimo Fundador da Arrabida, o Veneravel Padre Fr. Martinho de Santa Maria, prodigioso Cenobita deste Sagrado Promontorio, e gloria imortal da mesma Província. Lisboa, na dita Oficina, 1750, 4. 
O Monte Santo da Arrábida. Monumento venerável deste Sagrado Promontorio, em o qual se descrevem os domésticos exercicios, e grandes progressos dos exemplarissimos Religiosos que nelle habitão, 4. M. S. Está corrente com as licenças para a impressão.



     Fr. CAETANO ROQUETE, filho do Capitão João Roquete da Silva e D. Vitória de Jesus, nasceu na vila de S. Martinho, nos coutos de Alcobaça do Patriarcado de Lisboa. Sendo de idade muito tenra entrou na religião do Carmo onde recebendo hábito a 30 de Maio de 1719, professou a 9 de Junho de 1720. Concluídos os estudos escolásticos veio por Conventual do Carmo de Lisboa no qual não somente foi subprior três anos, mas Mestre-de-cerimónias. É Consultor da Bula da Cruzada.
Imprimiu:
Oração na Tresladação dos Ossos, que se fez em 29 de Novembro de 1734 na Paroquial Igreja de S. Paulo desta Cidade de Lisboa. Oficina da Música, Lisboa, 1739. 4-


SALIR DE MATOS

     SISTO DE SALIR - cujo apelido declara o seu berço, que foi no lugar de Salir de Matos dos Coutos de Alcobaça. Foi Monge Cisterciense, e muito douto na lição da Sagrada Escritura, e dos Santos Padres.
Escreveu:
Vidua Sereptana moraliter explanata. fol. M. S.
Conserva-se na Biblioteca do Real Convento de Alcobaça.


SANTA CATARINA

     MANUEL DA SILVA DE MORAIS, natural da vila de Santa Catarina do território de Alcobaça de que é donatário o Reverendíssimo Geral da Ordem Cisterciense. Sendo capelão da Santa Igreja Patriarcal de Lisboa, foi eleito no ano de 1739 Tesoureiro-mor da Real Colegiada de Santa Maria de Alcáçova, situada na nobre vila de Santarém. Faleceu na sua pátria a 9 de Outubro de 1742. Traduziu da língua castelhana para a materna, acrescentando o Tratado da Bula da Cruzada concedida ao Reino de Portugal e outro dos Casos reservados nas Dioceses deste Reino:
Promptuario de Theologia Moral muito util,e proveitoso para todos os que se quizerem expor para Confessores, e para a devida administração do Sacramento da penitencia, composto pelo P. Fr. Francisco Larraga da Ordem dos Pregadores, Lisboa, por Francisco Xavier de Antrade, 1723, e Coimbra por Antonio Simoens Ferreira. 1735. 4. 
Vida admiravel do mais raro milagre da natureza, prodígio da graça, assombro da penitencia, portento de virtudes, modello, e exemplar da humildade, admiração dos Serafins, Abrahão da Ley da Graça, Elias do Novo Testamento, Elizeu de maravilhas, Thesouro de divinos poderes, substituto dos amores de Christo nas suas chagas, novo homem do mundo e glorioso Patriarcha Serafico S. Francisco de Assis, Lisboa, por Manoel Fernandes da Costa, Impressor do S. Officio, 1727. 4.


     FAUSTINO DO REGO - natural da vila de Santa Catarina, situada nos Coutos de Alcobaça, no Patriarcado de Lisboa, monge cisterciense, e muito versado nos privilégios da sua observantíssima Congregação. Escreveu no ano de 1525, num grande volume que se guarda na Biblioteca do Real Convento de Alcobaça, as obras seguintes M. S.
Comesso da Ordem Cisterciense
Fundação de Odivelas, e Ordem de Cristo
Estatutos de D. Jorge de Melo, fundador do Mosteiro de Portalegre para o bom governo das Religiosas do dito Mosteiro
Regimento de como se hade ler á Mesa nos Domingos e Festas do Anno.

Monge do Scriptorium a trabalhar
Gravura de William Blades (s. XIX)