sábado, 4 de abril de 2020

Notícia de um marítimo


«Naufrágio do Brigue Freitas e Irmão, 1871»
Quadro a óleo, sacristia da igreja de Nossa Senhora do Monte, Funchal, ilha da Madeira.

     Alfeizerão, com as diferentes terras da sua freguesia, foi desde tempos imemoriais, terra de gente de mar, gente de mar de uma terra sem mar – pescadores, mareantes e marítimos. Poder-se-ia sustentar essa constatação com a hipótese romântica de uma vocação marítima inscrita nos genes, mas talvez seja mais razoável supor que essa seria uma alternativa aliciante para um meio pequeno onde a maioria dos seus habitantes trabalhava nos campos, com uma proporção considerável de jornaleiros, trabalhadores agrícolas em terras de outrem (médios e grandes proprietários, com destaque para as quintas que aí existiram).

     Hoje trazemos aqui a referência a um desses homens, falecido no mar em finais do século XIX numa viagem entre a canadense Halifax e a ilha da Madeira. O seu apelido, Galhofa, ocorre nos assentos paroquiais de Alfeizerão entre os moradores dos Casais do Norte.
     «Em dia, mez e anno incerto, falleceu submergido vindo em viagem a bordo do navio brigue Freitas, d’Alifax para a Ilha da Madeira, um individuo do sexo mascolino por nome José Galhofa, casado com Laureana Rocha, marítimo, natural desta freguesia de Sam João Baptista d’Alfeizerão, Concelho e Arciprestado dÁlcobaça, Patriarchado de Lisboa, filho legítimo de Antonio Thomaz e Joaquina Salvadora, ambos desta freguesia d’Alfeizerão. E para constar lavrei em duplicado esta reforma d’assento d’obito por autorização superior datada de dezassete de Fevereiro do corrente anno de mil, oito centos setenta e sete. Não deixou filhos.
O Prior António Henriques Secco»

(ADLRA, IV/24/C/15 – Registos de Óbito da freguesia de Alfeizerão, 1865-1880, fl. 75v)

     Conseguimos identificar o brigue português em que morreu o marítimo José Galhofa (submergido, afogado), conseguimos identificá-lo – trata-se do brigue Freitas & Irmãos, que habitualmente fazia a viagem entre Lisboa e a ilha da Madeira, transportando a correspondência que existisse entre esses dois destinos. Entre 1867 e 1871 são anunciados nos periódicos oficiais pela Administração Central do Correio de Lisboa, seis viagens desse brigue entre Lisboa e a Madeira desde 10 de Março de 1867 (Diário de Lisboa, nº 52, p.2 de 7 de Março desse ano, Lisboa, Imprensa Nacional) a 18 de Julho de 1871, a última e a única desse ano, cujo anúncio transcrevemos (Diário do Governo nº 158 de 18 de Julho de 1871, p. 3, Lisboa, Imprensa Nacional):
«Pela administração central do correio de Lisboa se faz público que sairão, a 18 do corrente, para a Madeira, o brigue Freitas & Irmãos; e a 20, para Pernambuco, o brigue Encantador.
«A correspondência será lançada na caixa geral até aos referidos dias, e na da estação postal do Terreiro do Paço meia hora antes da que ali for anunciada para a mala ser levada a bordo.
«Administração central do correio de Lisboa, em 17 de Julho de 1871. O administrador interino, João António Leão de Faria». 

 Teria ocorrido nesse ano de 1871, o naufrágio do brigue. Na sacristia da igreja paroquial de Nossa Senhora do Monte, no Funchal, ilha da Madeira, existe um quadro a óleo cuja legenda é precisamente «Naufrágio do Brigue Freitas e Irmão, 1871», não encontramos mencionada a sua autoria, e reproduzimos a imagem desse quadro a partir de uma fotografia de Rui Camacho, exibida na tese de mestrado de Vitor Paulo FreitasTeixeira (TEIXEIRA, Vitor Paulo Freitas, «Entre a Madeira e as Antilhas – A Emigração para a Ilha de Trindade, século XIX», p. 42, Universidade da Madeira, Mestrado em Estudos Interculturais, Funchal, Novembro de 2009, disponível no endereço https://core.ac.uk/download/pdf/62477914.pdf, última consulta a 5 de Abril de 2020).

1871 foi assim, o ano desse naufrágio em que pereceu José Galhofa, cujo assento de óbito oficial, ou reforma de assento, só foi lavrado no início de 1877 pelo prior António Henriques Seco.

   

quarta-feira, 25 de março de 2020

ENTRE ROTAS E DESTINOS – Alfeizerão na encruzilhada dos caminhos

PDF no portal da Academia.edu:

https://www.academia.edu/42338678/Entre_rotas_e_destinos_-_Alfeizer%C3%A3o_na_encruzilhada_dos_caminhos

Um excerto do artigo:
«No primeiro Livro das Décimas de Alfeizerão e seu Termo, respeitante ao ano de 1763 (AHTC – Arquivo Histórico do Tribunal de Contas, DP 463-3), são registados três almocreves em Alfeizerão e termo: Filipe da Fonseca, morador em Vale de Maceira; José Pereira, morador em Alfeizerão; José Marques do Rebolo e Cláudio Rodrigues do Casal do Bispo, Famalicão. Estalajadeiros, são indicados dois, Manuel Francisco Arrojado em Famalicão e Manuel Ferreira em Alfeizerão, sito numa das casas por detrás da Rua de Baixo.

Compulsando os Livros Paroquiais de Alfeizerão, encontramos outros dois almocreves na vila em datas anteriores. A 20 de Março de 1679, é baptizada na igreja matriz de Alfeizerão uma menina de nome Maria, filha de Manuel Lopes, almocreve e de sua mulher Maria Francisca, moradores na vila (ADLRA, Registos de baptismo de Alfeizerão: 1678-1696, fl. 8v, IV/24/B/30); e a 4 de Maio de 1681, no baptismo de Marcelina, filha de Manuel Ramos e de Isabel Gomes da Macalhona, são escolhidos para padrinhos Simão Lopes, almocreve, morador na vila, e Maria Luís, moradora no Casal Velho (ADLRA, idem, fl. 18v)».



quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Domingos de Oliveira, marinheiro na Carreira da Índia



Em os uinte e seis dias do mes de Julho de mil e settecentos e onze falleceo Juliana Margarida molher de Domingos de Oliueira, Marinheiro da Carreira da India. Recebeo os sacramentos da Penitencia e Extremaunção e não Recebeo o Sacro Viatico por não estar capaz e esta enterrada em a igreija Matriz, não fes testamento e era natural da Cidade de Lisboa e o ditto Seu marido desta Vila de Alfizerão, e pêra que Conste fis este assento era ut supra.
O Cura João do Souto Velho

Fonte:
ADLRA – Registos de Óbito da freguesia de Alfeizerão, 1666-1747 (Óbitos, Livro 1), fl. 62r

Nota: na transcrição suprimimos as letras maiúsculas dentro das palavras e converteu-se as abreviaturas em palavras na forma extensa.



sexta-feira, 24 de maio de 2019

Corografia Moderna

BAPTISTA, João Maria, coadjuvado por seu filho João Justino Baptista de Oliveira, Chorographia Moderna do Reino de Portugal, Volume IV, pp. 10-12, Lisboa, Tipographia da Academia Real das Sciencias, 1876.

(Vide em PDF)



sábado, 11 de maio de 2019

Moinho do castelo



    Do moinho do castelo, cujas ruínas fustigadas pelo vento se erguem a noroeste da fortificação, a primeira referência escrita que lhe encontramos data de 1781 e refere o óbito do filho menor do casal que nele vivia.

Moinho do castelo, José, menor.
                Aos vinte e nove dias do mês de Junho de mil e setecentos e oitenta e um, faleceu da vida presente José, menor, filho de José do Couto e de Josefa Maria, naturais do Casal do Pardo; e para constar fiz este assento que assinei. Dia, mês Era ut supra.
O Cura e Padre Dionísio Álvares de Azevedo

[ADLRA, IV/24/C/12, Registos de óbito da freguesia de Alfeizerão: 1769-1795, fl. 45r]

quarta-feira, 17 de abril de 2019

A "Cruz de Ferro", de Jorge Brum do Canto


 
(hiperligação na imagem)

     A “Cruz de Ferro”, filme de Jorge Brum do Canto com produção da Tobis Portuguesa, foi estreado a 8 de Março de 1967 no cinema Roma, em Lisboa. Baseado num romance de Armando Vieira Pinto (“Natal na Serra”), o trama desenrola-se em volta do conflito entre duas aldeias pela posse da água que irriga as suas terras e foi quase integralmente rodado em Castro Laboreiro.
     O filme contava, entre outros, com os actores Alírio de Sousa, Amílcar Lyra, Ângela Ribeiro, António Machado Ribeiro, Cremilda Gil, Cunha Marques, Emília Correia, Jorge Brum do Canto, Maria Domingas, Octávio de Matos e Ruy Furtado. Foi distinguido pelo SNI, Secretariado Nacional de Informação, em cinco categorias: Melhor Filme do ano, Melhor Argumento Adaptado (Jorge Brum do Canto e Fernando Fragoso), Fotografia (João Moreira), Melhor Actor (Octávio de Matos) e Melhor Actriz (Cremilda Gil).
     Foi o último trabalho cinematográfico de Maria Domingas no papel secundário da “viúva”, concluído um pouco antes dela se retirar completamente da vida artística. Mesmo numa participação tão modesta neste filme, é notório o seu amadurecido talento de actriz, e o carisma e a beleza da sua figura.

P.S.: Cremilda Gil, a conhecida actriz que foi considerada pelo SNI a melhor actriz do ano de 1967 pelo seu desempenho neste filme, nasceu nas Caldas da Rainha a 23 de Fevereiro de 1927. Teve uma carreira prolífica repartida pelos palcos, pelo cinema e pela televisão, tendo falecido a 7 de Fevereiro deste ano em Évora.

Fotogramas de Maria Domingas no filme: