quinta-feira, 17 de agosto de 2023

De ontem para hoje: o assassinato de Sidónio Pais em 1918

 


Acta da sessão Extraordinária

Aos dezoito dias do mez de Dezembro de mil e nove centos e dezoito, pelas doze oras e doze reuniu a Comissão Administrativa Paroquial desta freguezia, pelo presidente foi aberta a sessão. Foi lida e aprovada a acta da sessão anterior____Pelo presidente foi dito que pelas noticias oficiaes e relato dos jornaes só sabião ter sido morto por um atentado ignobil e vergonhoso o nosso Chefe de Estado, o Ilustre Prezidente da Republica Portugueza, Exmo. Senhor Doutor Sidonio Paes, no dia quatorze do corrente, pelas vinte e tres e meia oras, quando entrava na gare da estação do Rocio para seguir para o Porto, aonde era esperado com grandes festas em sua honra!. Como Portuguez e seu admirador, não podia deixar de lastimar tal infamia, que nos roubou o Chefe de Estado prestigioso e com isso a esperança do Ressurgimento da Patria, e pelas suas qualidades naturaes e intelectuaes a protestar contra tal brutal atentado, improprio de povos civilisados. Todos os vogaes se manifestaram pela mesma forma e lançaram um voto de profundo sentimento, incerrando o presidente a sessão em signal de profundo sentimento de que estavam possuidos. Mandou o presidente, // para que conste, lavrar esta acta que vai ser assinada pela Comissão Paroquial de Alfeizerão.

O Presidente – João Augusto Ferreira

O Tezoureiro – José Salvador

O Secretario – José Hilario Junior

 

(“Livro das Actas da Junta de Paróquia civil d’Alfeizerão, N.º 10”, 1915-1926, f. 10v-11r

- obra disponível para consulta no depósito documental do “Baú das Memórias” de Alfeizerão)


Bilhete postal de 1919 que ilustra o atentado


quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Domingas Maria

 


A presença dos soldados napoleónicos na região de Alcobaça no último mês de 1810 e ao longo do primeiro trimestre de 1811 traduziu-se por uma verdadeira mortandade originada pela fome, pela doença e por mortes causadas diretamente pelo invasor. O facto de muitos párocos terem procurado abrigo em Lisboa e em outros redutos protegidos, como lhes fora superiormente ordenado, obsta a que tenhamos um conhecimento rigoroso dessa tragédia, ressalvando-se parcialmente para tal os minuciosos registos paroquiais de óbito das freguesias de Alfeizerão e, sobretudo, de Pataias.

Nas outras paróquias da região, há casos em que os registos paroquiais sofrem um interregno ao tempo da presença do invasor ou são lavrados na ocasião ou posteriormente e em retrospetiva, com alguns assentos pontuais a assinalar as tragédias desse período. Como exemplo, transcrevemos o único assento paroquial explícito na freguesia de São Sebastião do Vimeiro:

 

<Gaio, Domingas Maria>

Aos doze dias do Mez de Março de mil e oito centos e onze se deu a sepultura a Domingas Maria, Solteira, do Gaio, dentro do Alpendre desta Igreja de S. Sebastião do Vimeiro, foi morta pellos Francezes; sem Sacramentos. E para constar fiz este Assento. Mez, e Era ut supra.

O Vigário Francisco da Silva Rebello

 

(ADLRA, IV/26/C/58 – Registos de óbito da freguesia do Vimeiro: 1760-1860, f. 125r)