terça-feira, 14 de junho de 2022

Com a esperança no horizonte - recordando dois episódios antigos de emigração

 Os Livros de Registos de Passaportes (1861-1999), conservados no Arquivo Distrital de Leiria, são uma fonte inestimável de informação para estudos sociológicos e genealógicos, um outro aspeto curioso dos passaportes é a descrição física do requerente com os seus sinais identificadores, recurso que precede o advento das fotografias de perfil. Do primeiro livro que aí encontramos, respeitantes aos anos de 1863 a 1870, transcrevemos dois registos relativos à freguesia de Alfeizerão, mais propriamente, a Vale de Maceira, e a dois irmãos - um deles com 15 anos - que emigram para destinos diferentes, Pará e Buenos Aires. 

A obra em causa é o Livro de Registo de Passaportes N.º 1, ADLRA, -1/III/65/C/9, f. 12v e 34r (Código de Referência PT/ADLRA/AC/GCLRA/H-D/001/0001).


<n.º 10, novembro, 9 [1868]>

«Passaporte a Francisco José Velho, solteiro, filho de Marcelino José Velho, de Maceira (sic), freguesia d’Alfeizerão, Concelho d’Alcobaça d’este Districto, para o Pará, no Império do Brazil. Abonado por Bento Mendez, solteiro, proprietário, do referido logar, como fica constando do respectivo termo lavrado na Administração d’aquele Concelho. Signaes do portador. Idade, 15 anos – altura, 1,54 – rosto comprido – cabelo castanho escuro – sobr’olhos pretos – olhos castanhos – nariz e boca regulares – côr trigueira. Assignado, José Fonseca da Cunha e Souza, Governador Civil».


<n.º 55>

«Termo de fiança que presta João António d’Oliveira d’esta cidade por Maria Marcelina, solteira, d’Alfeizerão, Concelho d’Alcobaça.

«Aos desaseis dias do mez de Julho de mil oito cento e setenta, n’esta Cidade de Leiria e Governo Civil do Districto, compareceu perante o Excellentissimo Governador Civil, Luiz Teixeira de Sampaio, Maria Marcelina, solteira, filha de Marcelino José Velho e de Maria Pereira, já fallecida, do logar de Valle de Maceira, freguezia de Alfeizerão, Concelho d’Alcobaça, a qual declarou que na data de hoje havia requerido ao dito Excellentissimo Governador Civil passaporte para Buenos Ayres, na República Argentina, mostrando por documentos authenticos que ficam junto ao seu requerimento, que nenhum impedimento se offerecia à concessão do passaporte, e que oferecia por seu abonador a João António d’Oliveira, estabelecido com hospedaria n’esta Cidade, o qual estando presente, disse que reconhecia a identidade de pessoa e a afiançava e por ella se responsabilizava nos termos dos regulamentos de policia em vigor. O que sendo ouvido pelo Excellentissimo Governador Civil e testemunhas abaixo mencionadas – José Miguel Pereira Maceirão e Claudino Joaquim Meirel, empregados d’este Governo Civil, e julgando o Excellentissimo Governador Civil idonea a fiança, que por isso aceitou, mandou, para constar e mais effeitos, lavrar este termo, que assigna com o fiador e ditas testemunhas, depois de todo o haver lido eu, Manuel Nicolau d’Abreu Castello Branco, Secretário Geral, o rubrico».

Sem comentários:

Enviar um comentário