(hiperligação)
domingo, 17 de fevereiro de 2019
domingo, 10 de fevereiro de 2019
O marco do Santíssimo
O marco
Ao lado da Rua Principal em Famalicão da Nazaré,
junto à saída para o Rebolo, levanta-se o marco do Santíssimo sobre um soco
cúbico de alvenaria. O marco de pedra ostenta numa face a abreviatura de
Santíssimo Sacramento («S.o
S.o»)
e na outra face (leitura com algumas reservas):
Q.
DO
SANTSS.o SACRAM.
EM
POD.
HF. CC.
1713
Alude
à quinta do Santíssimo Sacramento e à data em que foi levantado o marco. Sobre
a inscrição que precede a data, não possuímos explicações, poderia conjecturalmente
tratar-se de uma expressão latina abreviada ou, seguindo as informações do
cronista cisterciense de que falaremos em seguida, a abreviatura do nome de
quem administrava a quinta na altura e que o terá mandado erguer.
A quinta
A
quinta da Macarca, da qual se conhecem referências desde o século XIV (vide.
GONÇALVES, 1989), pertencia ao mosteiro que a cedia em regime de aforamento; um
dos que a aforou, segundo o cronista cisterciense Frei Manuel de Figueiredo (FIGUEIREDO, 1782),
foi o fidalgo Cristóvão Esteves de Esparragosa (1465-1549), desembargador do
Paço.
O
mesmo cronista conta-nos que depois de a manter aforada a diferentes titulares,
o mosteiro dedicou a quinta «ao culto do
Santíssimo Sacramento da igreja monasterial de Alcobaça e recebe o seu
administrador os dízimos de todos os frutos, os quartos do pão e legumes, com
os quintos dos mais géneros. E as terras pertencem aos moradores que pagam
estes tributos, está demarcada com altos
marcos de cantaria [destaque nosso]
e nas partes mais principais da demarcação tem padrões com grandes e claras
inscrições, que dizem quem mandou marcar as terras e a quem as mesmas
pertencem. Tem no sítio do seu nome um edifício com celeiro, lagar e adega,
levantado no ano de 1762».
Entregue
à Confraria do Santíssimo Sacramento de Alcobaça, a quinta toma a designação de
Quinta do Santíssimo, nome que aparece neste alto marco de cantaria em Famalicão, que era um dos marcos de
demarcação dos terrenos da quinta.
Confiada
a quinta e os rendimentos que dela se poderiam obter à Confraria do Santíssimo
Sacramento em Alcobaça, esse acto administrativo do mosteiro deve ter tido
reflexos no quotidiano e na população da Macarca de então, com pessoas vindas
de Alcobaça a fixar-se e a viver no lugar. Se os assentos paroquiais são muitas
vezes omissos ou lacónicos quanto à origem de celebrantes e defuntos,
encontramos uma referência documental segura numa Diligência de habilitação para a Ordem de Cristo de Luís Botelho da
Silva Vale (DGA/TT, Mesa da Consciência e Ordens, Habilitações para a Ordem
de Cristo, Letra L, mç. 1, n.º 3). Neste documento, datado de 1754, ficamos a
saber que os pais do suplicante eram naturais, ele de Alfeizerão e ela da
Macarca e que era «neto pela parte
materna de Máximo de Moura, natural de Alcobaça, freguesia do Santíssimo
Sacramento, e de sua mulher Clara Gomes, natural da Macarca».
Fontes:
FIGUEIREDO, Frei Manuel de, Corografia da Comarca de Alcobaça (Capítulo de Alfeizerão), 1782, manuscrito,
PDF disponível em: https://drive.google.com/file/d/1462MR41YzSP-NzWgUF0CsYtSy3aqmYFs/view?usp=sharing
GONÇALVES, Iria - O Património do
Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV, Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1989.
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